Aliar teoria e experimentos foi a forma encontrada pelo professor de química da rede estadual de Juara (MT) Luiz Eduardo de Brito Corrêa para engajar os alunos do ensino médio noturno. A maioria deles trabalha durante o dia. “Eles chegam cansados e tradicionalmente consideram a química pouco atrativa. Fazer atividades prática foi uma forma de mostrar que a disciplina está no cotidiano deles”, conta o docente.
Para explicar química orgânica, Côrrea desenvolveu um projeto no qual os alunos desenvolvem perfumes no laboratório da escola. Proposta que também pode ser aplicada em sala de aula, caso a instituição de ensino não conte com essa infraestrutura. “Levo eles para o laboratório e explico o conteúdo teórico, as fórmulas usadas e a atividade lá. Eles são divididos em grupos e usam álcool cereal, essência, fixador e água destilada. Já em termos de instrumentos, é necessário um vidro de âmbar escuro, um recipiente, proveta, um bastão de vidro para misturar e o frasco para guardar o perfume”, explica.
Leia também: Estudo de cosméticos auxilia no aprendizado de química orgânica em escola de São Paulo
Cada grupo ainda escolhe o nome da sua fragrância e depois apresenta o processo para a classe, relacionando-o com a química orgânica.“A orientação para os professores é sempre planejar o conteúdo de forma bem casada com a prática, tendo em vista os objetivos. Infelizmente, porém, ainda tem docentes que acreditam que uma atividade prática é perda de tempo”, afirma.
Do sorvete ao molho de pimenta
Nancy Granjeiro é professora de química da rede estadual em Manaus (AM) e também sentia dificuldade para engajar os alunos do primeiro ano do ensino médio na hora de explicar misturas e reações. “Os alunos tem uma certa rejeição a fórmulas e cálculos. E foi por isso optei por desenvolver projetos que poderiam ser realizados na cozinha, para mostrar a química presente no cotidiano”, compartilha. “Além da criatividade, os alunos podem degustar o experimento depois. Fica mais interessante para eles e o resultado é satisfatório em termos de aprendizagem”, revela.
Granjeiro convida os alunos a fazerem sorvetes para mostrar reações químicas. Ela prepara dois tipos: um simples – com leite condensado, creme de leite e suco em pó liquidificados – e outro com leite, leite condensado, emulsificante e liga neutra, que garantem a cremosidade do alimento. “O segundo tem aditivos químicos que provocam reações diferenciadas. Os alunos, então, podem compará-los”, explica.
Confira: Química e artes: tintas, corantes e jogos de tabuleiro são opções para projetos interdisciplinares
Em outra variação do projeto, ela ensina os alunos a prepararam bolos e pães, usando fermentos químicos e para panificação. Ela conta, porém, que o desafio é a falta de infraestrutura das escolas. “Por exemplo, não há geladeira no laboratório e não podemos usar esse equipamento e o fogão da escola”, explica. “Como os alunos são de ensino integral e saem à tarde, consigo deixar o sorvete refrigerando um pouco. Eles levam embora em um recipiente de isopor e trazem na aula seguinte, para degustarmos”. Já para fazer o pão, ela levou um forno de casa.
Com o melhor engajamento dos alunos, Granjeiro também passou a aplicar um projeto com molho de pimenta para explicar sobre aditivos químicos no terceiro ano. “A pimenta é colocada em uma garrafa de vidro com vinagre, azeite e sal, que servem de conservantes. Os alunos observam, então, o alimento curar”, descreve. “Ao final, o que percebo é que a prática aliada à teoria garante resultados bem melhores do que se apenas passasse fórmulas na lousa e usasse o livro didático”, acredita.