Dois amigos de uma aldeia gaulesa em 50 A.C que resistem ao imperialismo romano. Esse é o tema da série de histórias em quadrinhos (HQ) francesa Asterix, lançada em 1959 e que pode ser um bom material de apoio para professores ensinarem história antiga.

A narrativa ajuda a ilustrar a ocupação romana, como aponta o mestrando em História da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Allef de Lima Laurindo Fraemann Matos. “Entre as temáticas históricas, destacam-se o debate da concessão da cidadania romana aos novos territórios conquistados; os direitos e os privilégios do status de cidadão; e a forma como os gauleses e os demais grupos são vistos como não civilizados pelos romanos”, explica o pesquisador da temática.

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Instituto Claro: Do que se trata Asterix?

Allef Matos: A narrativa principal da história apresenta uma aldeia gaulesa no ano de 50 antes de Cristo que ainda resiste ao imperialismo romano durante a Guerra da Gália. Asterix e Obelix são dois amigos membros dessa aldeia que lutam contra o processo de expansão territorial romana. Obelix, quando criança, caiu no caldeirão de poção mágica do druida Panoramix, recebendo uma força sobre-humana.

A narrativa se passa em qual momento histórico?

Matos: No período da República romana (509 a 27 a. C), em que Roma foi governada pelo Senado. Entre as temáticas históricas, destacam-se o debate da concessão da cidadania romana aos novos territórios conquistados; os direitos e os privilégios do status de cidadão; e a forma como os gauleses e os demais grupos são vistos como não civilizados pelos romanos.

Em qual contexto Asterix foi criado?

Matos: Os personagens foram idealizados pelo roteirista René Goscinny e pelo desenhista Albert Uderzo e lançados em 1959, no período pós-Segunda Guerra Mundial. Assim, as revistas também fornecem elementos de reflexão sobre seu período de produção e elementos culturais da sociedade contemporânea. Em “Asterix entre os bretões”, a história remete aos símbolos e costumes britânicos contemporâneos, como a carroça de dois andares, que é uma referência aos ônibus de dois andares comuns em Londres; e o quarteto de bardos bretões, que arranca gritos e suspiros das jovens bretãs. Ele é uma alusão aos Beatles. Esses anacronismos também podem ser trabalhados em aula.

É possível utilizar os quadrinhos do Asterix nas aulas de história?

Matos: Sim, com suporte do professor. Nas aulas de História Antiga, os quadrinhos fornecem material para o desenvolvimento de conceitos como civilização, barbárie, tribo, cidadania, estado e imperialismo. A HQ também traz informações textuais e visuais, como os elementos da cultura material. Colunas romanas, prédios, esculturas e vestimentas representam a vida social de comunidades passadas.

Quais figuras históricas são retratadas nas histórias do Asterix?

Matos: Podemos citar o general romano Júlio César; a Faraó Cleópatra; Vercingetórix, chefe gaulês que tentou resistir ao processo de expansão romana e Brutus, enteado de Júlio César. Além dos personagens históricos, a HQ apresenta alguns povos da antiguidade como romanos, gregos, egípcios, gauleses, bretões, belgas, godos, helvéticos, hispânicos e normandos.

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Teria dicas de como trabalhar o conteúdo a partir desse material?

Matos: Antes da realização da atividade com as HQs, o professor pode usar o livro didático ou outros textos complementares para aprofundar os conceitos e os símbolos representados na obra, e assim analisar os fatos históricos presentes nas revistas. Outro método é entregar as revistas para grupos de alunos lerem e apontarem os fatos históricos e os conceitos presentes. O professor também pode apagar os balões de diálogos e propor que os estudantes criem novas conversas baseadas nos conteúdos discutidos na aula.

Esse material pode ser trabalhado de forma interdisciplinar?

Matos: Sim, o conteúdo exposto e representado nas obras não permeia uma única disciplina. O quadrinho pode ser usado em língua portuguesa para promover uma análise da interpretação de texto, por exemplo. No ensino de geografia, penso que pode ajudar a discutir a identidade que compõe os grupos sociais representados nesses quadrinhos, como também discutir conceitos geográfico como território e paisagem.

Ao que o professor deve se atentar ao apresentar Asterix aos alunos?

Matos: Acho que deve informar que a narrativa e as representações dos elementos históricos refletem mais o tempo em que o quadrinho foi produzido do que o período que ele se propõe a discutir. E que as HQs são obras de ficção, logo, não têm responsabilidade de serem fidedignas com os acontecimentos históricos por elas abordados. Dessa forma, o professor evita que o aluno tome a obra de Asterix como algo condizente com a realidade histórica.

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