As conquistas da antiguidade podem ser pano de fundo para aliar as disciplinas de história e matemática em um projeto de aprendizagem interdisciplinar. A professora de história, que hoje atua na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Vitória Azevedo, e a docente de matemática da educação básica, Ana Maria Reis, optaram pelo tema “democracia” para integrar as duas ciências em um projeto para o 1º ano do ensino médio de uma escola da rede estadual de São Paulo.
No lado do conteúdo de história, a temática foi relacionada com o sistema democrático vivenciado na Grécia e Roma Antigas – tópicos presentes no currículo do estado para aquela etapa de ensino. Por sua vez, a docente de matemática aproveitou para trabalhar as estatísticas, a partir de uma pesquisa de opinião realizada na escola.
Na sequência didática, o primeiro passo foi um debate com os alunos sobre suas percepções da democracia. “O projeto foi pensado a partir da leitura da realidade dos estudantes em termos de referências do ensino de história: o presente e o passado”, justifica Azevedo.
“O primeiro ponto foi observar a situação na qual nos inserimos historicamente, o que fizemos por meio de um debate com os alunos”, acrescenta.
Durante as discussões, os jovens apresentaram afirmações sem embasamento científico. “Isso fez ele próprios refletirem: o que pensam outros estudantes sobre essa questão? Considerando, então, a necessidade de produzir algum tipo de evidência, que é algo fundamental na análise histórica de qualquer tempo. Foi quando surgiu a ideia de uma pesquisa de opinião”, relembra.
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Tabulando as respostas
A necessidade de trabalhar conjuntamente com a disciplina de matemática ocorreu em função do processo de tabulação e análise das respostas.
“Os conteúdos praticados, contudo, foram antecipados do que seria visto somente no 2º ano do ensino médio”, descreve Reis, que ensinou porcentagem, gráficos de barra, gráficos de setores, análise de dados em estatística e pesquisa quantitativa.
As professoras ajudaram os alunos a elaborarem as perguntas e aplicarem o questionário nas outras turmas. Os próprios jovens tabularam as respostas e apresentaram suas conclusões a todos.
O planejamento entre a dupla de docentes é uma dica para quem deseja se inspirar na iniciativa. “Os projetos e a parceria sempre serão inovadores. Para isso, os roteiros de trabalho em concordância com as salas de aula auxiliam na relação dos professores com as turmas”, analisam.
Além da Grécia e de Roma, o Egito antigo também pode ser explorado para trabalhar conteúdos matemáticos. Professor do departamento de matemática da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Adonai Santanna sugere aliar as pirâmides e noções de geometria, trigonometria e equações de segundo grau. Em seu blog, o artigo “Matemática e História: um exemplo de interdisciplinaridade no ensino médio” explica essa relação.
“O intercâmbio entre as disciplinas é possível porque a matemática exerceu enorme impacto sobre a história da humanidade, permitindo definir quem somos hoje”, diz.
“Ela oferece uma magnífica perspectiva de mundo. Mas não é o bastante. Neste sentido, qualquer iniciativa de estudo formal interdisciplinar pode colaborar para uma visão mais sólida sobre nossa realidade”, justifica ele.
Atualizada em 9/6/2020 às 15h25.
Crédito da imagem principal: arquivo pessoal/Vitória Azevedo