“Anne com E” — ou “Anne with an E”, no título original — é uma série de três temporadas baseada no livro “Anne de Green Gables” (1908), da escritora canadense Lucy Maud Montgomery. A trama se passa entre o final do século XIX e início do século XX e traz como protagonista a jovem Anne, uma pré-adolescente e órfã adotada por engano por dois irmãos de meia idade. “Eles desejavam um menino para ajudar na fazenda. Porém, falante e afetuosa, Anne ganha o respeito e o afeto de sua comunidade”, destaca o doutor em educação Marcelo Gomes da Silva, que acredita que a série possa ser usada na escola.

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Em 27 episódios, a trama apresenta situações em que diversidade e direitos humanos podem ser discutidos entre alunos e professores da educação básica, principalmente nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio. “O papel da mulher é um deles, sendo Anne tida como menos capaz de trabalhar na fazenda do que alguém do gênero masculino. No primeiro episódio da primeira temporada, a protagonista confronta sua mãe adotiva sobre isso”, aponta Silva.

Já no sétimo episódio da terceira temporada, o jornal da escola é cancelado após Anne escrever uma coluna defendendo a autonomia das mulheres. Quando questionada, a personagem responde: “Não é verdade que, se eu escolher me casar, minha vida pode ser negociada pelo maior lance de terras e vacas?”. Autor do artigo “’Envolva-me e eu aprenderei’: possibilidades de ensinar história da educação através da série Anne with an E”, ao lado de Rafael Henrique da Silva Guimarães, Silva aponta outros temas sociais que podem ser abordados a partir da série, como homofobia e racismo.

Homofobia internalizada

Em relação à homofobia, a série retrata Cole, um amigo de Anne que não se enquadra nas expectativas de masculinidade do período. Ele é perseguido pelo professor Sr. Phillips que, no quinto episódio da segunda temporada, coloca-o para se sentar com as meninas depois de encontrá-lo trançando o cabelo de Anne. Nesse caso, há indícios de que o professor tenha homofobia internalizada.

No episódio posterior, a protagonista questiona Cole sobre os motivos do docente odiá-lo e o garoto responde: “Ele queria me machucar hoje porque não pode punir a si mesmo. Por ser como eu’”. Um terceiro personagem homossexual é a tia de Diana, a melhor amiga de Anne. Gertrudes é uma senhora que viveu com outra mulher. “Anne se relaciona com todos de forma tranquila, o que também ajuda a naturalizar as relações afetivas com o espectador”, afirma Silva.

No sétimo episódio da segunda temporada, Anne confessa a Marília sobre Gertrudes. “Acho que também aprendi algo sobre o amor. Não é igual pra todo mundo. Pode ter muitas formas diferentes. O que pode haver de errado com uma vida se for vivida com quem você ama?”, reflete a personagem.

Segregação racial

O debate sobre igualdade racial acontece por meio da amizade do homem negro liberto Sebastian e do branco Gilbert Blythe. Ao chegar em uma comunidade rural de colonos ingleses o primeiro é discriminado. “No oitavo episódio da segunda temporada, ele é impedido de comprar produtos, entrar em um trem e expulso de um armazém”, narra o Silva.

Há ainda personagens indígenas que sofrem com o estereotipo de ‘incivilizados’. Ka’Kwe é uma menina da tribo Mi’ Kmaq que vê na escola de religiosos uma oportunidade para estudar. “Nesse caso, o processo de escolarização anula a base cultural desses povos. Ao fugir da escola, Ka’Kwet perde a capacidade de elaborar artesanatos e vivencia problemas de convivência em sua aldeia”, aponta o docente.

Professores da educação básica também vão se deparar com elementos da história da educação, como a restrição de acesso de meninas ao conhecimento formal naquele período. “Além disso, a personagem Anne traz aspectos educativos em sua trajetória. Ela articula os conhecimentos adquiridos em experiências nas casas onde viveu com os saberes da vida cotidiana, aplicando-os na resolução de problemas”, destaca Silva.

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