Tendências pedagógicas são modelos educacionais utilizados em determinados momentos e que dialogam com o contexto histórico do seu tempo.

“Entender cada tendência exige olhar o background do que estava acontecendo em sua época: aspectos sociais, políticos e, também, para a história da educação, que se modifica ao longo do tempo”, resume a mestra em educação e especialista em concursos de educação Tatiana Claro.

Claro lembra que, por trás da prática pedagógica de cada professor, há uma ou mais tendências pedagógicas, mesmo que o docente não tenha consciência disso.

“Para o docente, conhecê-las é importante porque traz perspectiva sobre sua prática e ajuda a melhorá-la. Você entende os modelos que considera inadequados e deixa de reproduzi-los”, analisa.

Principais tendências

Claro explica que tendências pedagógicas são divididas em duas linhas: liberais e progressistas. As divisões dentro de cada uma delas podem apresentar pequenas variações dependendo do autor do estudo; no caso, principalmente José Carlos Libâneo e Dermeval Saviani.

“Para fazer a divisão entre liberais e progressistas, eles utilizaram como critério a posição que aquela tendência adotava em relação às finalidades sociais da escola”, afirma Claro.

Tendências liberais, ao contrário do que o nome sugere, são conservadoras, visando à manutenção da sociedade vigente e buscando apenas repassar conhecimentos.

“O que elas têm em comum é acreditar que as diferenças sociais não impactam a educação e vice-versa. Por exemplo, se um aluno chega à escola com fome e outro não, não há distinção na possibilidade de aprendizagem”, exemplifica Claro.

“Já nas tendências progressistas, a educação tem o poder de transformação social”, diferencia a professora de conhecimentos pedagógicos para concursos Jéssica Ferraz.

Saber a diferença na classificação dada pelos principais autores do tema é importante, como explica Ferraz.

“Por exemplo, a pedagogia histórico-crítica e a pedagogia crítico-social dos conteúdos  têm características semelhantes, diferenciando-se porque uma é de Demerval Saviani, e a outra, de José Carlos Libâneo”.

Conheça, abaixo, a divisão das tendências liberais e progressivas.

Tendências liberais

  • Tradicional: o professor é autoridade máxima e transmite o conteúdo. O aluno ouve e memoriza. “Aparece com a chegada dos jesuítas em 1549, sendo vinculada à doutrina religiosa”, aponta Claro.
  • Escola Nova: divide-se em renovadora progressivista e renovadora não diretiva. “Em ambas, não há autoritarismo, e a transmissão do conhecimento não é passiva; mas, ao mesmo tempo, elas não se comprometem com a transformação da sociedade”, apresenta Ferraz.
    • Renovadora progressivista: foca no interesse e valoriza a experiência do aluno; o professor atua como orientador.
    • Renovadora não diretiva: prioriza a livre expressão, autonomia e sentimentos do aluno; o professor não interfere. É inspirada na pedagogia de Carl Rogers.
    • Tecnicista: organiza o ensino por meio de métodos padronizados, incluindo de currículo e avaliação. O professor, por sua vez, aplica técnicas.

Tendências progressivas

  • Libertadora: baseada em Paulo Freire; o ensino é ação política e parte do diálogo e da realidade do aluno. “Freire lembra que a educação serve a um propósito político de dominar ou libertar”, destaca Claro.
  • Crítico-social dos conteúdos (Libâneo): o conteúdo escolar é valorizado, mas ligado à formação crítica.
  • Histórico-crítica (Saviani): vê a educação como parte da luta por uma sociedade mais justa. O ensino é mediado pelo conhecimento sistematizado
  • Libertária: defende a autonomia do estudante, a autogestão e a aprendizagem baseada na cooperação e na experiência vivida, rejeitando práticas autoritárias. “As ideias foram trazidas pelos imigrantes italianos, a partir de suas vivências coletivas em sindicatos e assembleias, nos quais todos são escutados e podem se expressar, pontua Claro. “Célestin Freinet é um representante. Não há cronograma, horário, ou grade curricular fixa. Os professores estão à disposição do aluno para auxiliá-los no conhecimento. Então, autogestão é palavra-chave dentro dessa tendência”, adiciona Ferraz.

Como as tendências pedagógicas são cobradas nos concursos?

Claro calcula que as tendências pedagógicas caem em cerca de 90% dos concursos para professores.

“A banca pode simplesmente perguntar quais são as tendências ou trazer as características delas e os possíveis nomes nas alternativas”, compartilha.

“Podem escolher uma tendência e colocar nas alternativas suas principais características, misturando com as de outras para confundir o candidato. Além disso, podem apresentar um quadro com uma lista de tendências e outra de características para correlacionar”, acrescenta.

Como estudar as tendências pedagógicas?

Como cada tendência apresenta muitas características, Claro indica se concentrar em palavras-chave. “Por exemplo, na tendência libertária, uma palavra-chave específica, que não se repete em outras, é ‘autogestão’”.

“Outra dica é entender que elas não são apenas teorias, mas práticas de ensino. Os autores olharam para as práticas de diferentes momentos históricos e sua relação com a sociedade para classificar as tendências, que continuam presentes na sala de aula até hoje”, acrescenta Claro.

Já entre as principais pegadinhas, Claro alerta que as bancas buscam confundir as tendências. “Muitos confundem a liberal, que é conservadora, com libertadora e libertária, que não são autoritárias”, finaliza.

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Crédito da imagem: Drazen_ – Getty Images

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