O Dia da Matemática é comemorado em 6 de maio em homenagem ao matemático e escritor brasileiro, Júlio César de Mello e Sousa. Ele ficou mais conhecido pelo seu pseudônimo de Malba Tahan, com o qual escreveu livros infantojuvenis, incluindo o bestseller “O homem que calculava”. Nesse romance, um peregrino rumo ao Oriente Médio, no século VIII, usa a matemática para resolver problemas de pessoas que encontra pelo caminho. Escrito em 1938, a obra foi traduzida e lançada em mais de 30 países.
O mestre em matemática e formador de professores, Fernando Barnabé, destaca seu potencial pedagógico dos primeiros anos do ensino fundamental até o médio. “O mesmo problema pode ser abordado com diferentes profundidades e estratégias de resolução”, explica em entrevista ao Instituto Claro.
Quem foi Malba Tahan?
Fernando Barnabé: Ele é o pseudônimo do professor de matemática Júlio César de Melo e Sousa, cara inteligente e com passagem por jornais. Ele teve um insight que seus textos seriam mais lidos se tivesse um nome estrangeiro, e explorou pseudônimos até chegar a Malba Tahan. Escolheu esse por apreciar o universo árabe. Tahan virou uma figura folclórica e demorou a ter sua identidade revelada. Há um site oficial dedicado a ele, com diversos materiais e biografia apresentada separada da de Júlio César.
Qual sua importância para a matemática?
Barnabé: Ele adorava ensinar por resolução de problemas, desafios e histórias fantasiosas. Entendia a importância do lúdico na aprendizagem, algo inédito em um momento em que o ensino era rígido, técnico e mecânico. Acreditava que todos podiam aprender e com leveza.
Do que trata seu livro “O homem que calculava”?
Barbabé: É narrado pelo andarilho Hank Tade-Maiá que, no século 8, viaja de Samarra a Bagdá e encontra o calculista pérsio Beremiz Samir. Ao longo da viagem, Beremiz resolve problemas de diversas pessoas usando a matemática, além de contar a história e curiosidades dessa ciência. A última edição possui a resolução comentada dos problemas.
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Qual o potencial pedagógico do livro?
Barnabé: Focamos na matemática como aprendemos na escola que, não raro, é mecânica e técnica. O livro propõe um passo anterior, que é entendê-la em um cenário diferente. Ajuda o aluno a criar uma relação próxima com a disciplina enquanto explica contextos e traça uma conversa histórica. Entende-se como era lida e sua importância em um Oriente Médio do século VIII. As situações trazidas não são apenas pano de fundo, mas importantes para a resolução dos problemas. Uma curiosidade é que o Brasil chama a equação de segundo grau de Fórmula de Bháskara por conta do destaque dado ao indiano no livro.
Como ele pode ser usado pedagogicamente na educação básica?
Barnabé: Por meio dos problemas que traz. Trato alguns deles em vídeos específicos no meu canal no Youtube. O mesmo problema pode ser adaptado para os anos iniciais e finais do ensino fundamental ou para o médio. Isso porque podem ser abordados com diferentes profundidades e estratégias de resolução. Cabe ao professor planejar a aula, identificar os objetivos desejados e os instrumentos para explicá-lo.
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Quais conteúdos podem ser trabalhados por meio dos problemas?
Barnabé: O “Problema das cinco escravas” usa a lógica. “Dos 35 camelos”, pode usar progressão aritmética ou função de primeiro grau. A quantidade dos camelos pode ser mudada e, ainda assim, a resolução é a mesma. O “Dos 21 vasos” fala de fração, conteúdo dos anos iniciais que pode ser resgatado posteriormente. O dos “Quatro Quatros” usa operações básicas, também do fundamental 1, mas que pode ser ampliado para raiz quadrada nas outras etapas. Demais conteúdos com potencial no livro são: geometria espacial, analítica, tipos de funções, etc.
É possível trabalhar o livro de forma interdisciplinar?
Barnabé: Sim. Explorar o Oriente Médio naquele período por meio da história e da geografia. O “Problema dos Quatro Quatros” é apresentado como poema e dialoga com literatura, podendo gerar atividades parecidas. Tahan ainda cita personalidades que não foram apenas matemáticos, mas físicos, químicos, filósofos, biólogos e figuras importantes em outras áreas do conhecimento. É possível explorar quem são e suas inovações.
Quais outras obras de Malba Tahan são relevantes para o trabalho do professor?
Barnabé: Ele é injustamente restrito ao “Homem que calculava”, por ter sido um bestseller, mas há outros livros bons. Deve-se apenas entender o contexto histórico em que foram escritos. Em Didática da Matemática 1 e 2, o autor aborda a importância dos jogos na aprendizagem. Indico ainda “As maravilhas da matemática”. Infelizmente, todos esgotados e não reeditados.
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