A aula de educação física é um momento importante para o aluno com deficiência que utiliza cadeira de rodas descobrir novas potencialidades relacionadas ao seu corpo. “É por meio do movimento que experimentamos diversas emoções e sentimentos, percebendo nossa condição corpórea”, explica a pesquisadora de atividade motora adaptada e docente da Autarquia de Ensino Superior do município de Arcoverde (PE), Ana Zélia Belo.

Antes de planejar a aula, porém, é indicado conhecer a história deste estudante.

“Posso ter vários alunos em cadeiras de rodas, mas, sendo um amputado, outro com microcefalia, paralisia cerebral ou lesão medular”, reforça.  “Saber a trajetória dele auxilia a respeitar limitações, a valorizar potencialidades e fazer adaptações que promovam a inclusão”, destaca.

Uma lesão muscular pode acarretar a limitação de movimento específicos. Quando é na medula, há possibilidade de pouco controle do tronco ou dificuldade para fechar a mão, comum no caso da tetraplegia. “Já o aluno com controle do tronco pode descer da cadeira e praticar atividades no chão”, exemplifica.

Também é relevante conversar com a família em um momento de anamnese [entrevista para a coleta de dados] e saber se o aluno nasceu com a deficiência ou há  quanto tempo vive com ela.

Sensibilização

De acordo com Ana Zélia, docente e demais colegas de classe devem ser sensibilizados de que a cadeira de rodas é uma extensão do corpo do aluno com deficiência.

“Na queimada, por exemplo, se a bola tocar na cadeira, este aluno estará ‘queimado’. Por isso, é importante ajudar os outros alunos a pensarem alternativas para protegerem o companheiro na hora de defesa”, explica.

“Da mesma forma, não é cabide para pendurar objetos”, ilustra.

Belo afirma que todos os esportes e atividades podem ser adaptados para um aluno que usa cadeira de rodas, incluindo dança e capoeira. No vôlei, é possível colocar todos os alunos sentados e utilizar uma rede mais baixa, por exemplo.

No handebol, por sua vez, o espaço entre as traves do gol deve ser diminuído. Capoeira e atividades no chão podem ser realizadas em um tapete emborrachado. Na dança, explorar os movimentos do estudante na cadeira de rodas, individual ou em duplas.

“O que deve pautar a adaptação, é saber se o aluno está seguro para realizar aquela atividade e se sente confortável com ela. Isso é mais importante que o conteúdo do currículo escolar”, indica a pesquisadora.

“Porém, não quer dizer que as coisas serão facilitadas e que esse aluno será ‘café com leite’ nas propostas da aula. Os desafios para ele também devem existir”, diferencia.

Tenha um plano B

Os benefícios e conquistas das adaptações podem ser valiosos para o desenvolvimento do estudante.

“Podem ajudar a exercitar a musculatura dos braços e peitoral por meio de práticas e brincadeiras, e com isso fortalecer a musculatura, dando ao aluno a possibilidade e a liberdade de se locomover sozinho”, explica a professora no município de Caçapava do Sul (RS), Márcia Denise Ribeiro Paz.

“Uma dica é sempre levar uma ideia extra para a aula, caso a inicial não dê certo”, aconselha ela. “Pesquise as adaptações e não tente improvisar na hora”, pontua.

Evitar o bullying também será tarefa do docente. Para isso, é necessário tratar a deficiência da criança ou adolescente com naturalidade. “Atividades que ajudem a mostrar a diversidade de corpos é uma alternativa, assim como filmes e vídeos”, recomenda Belo.

*Essa reportagem faz parte do Especial Educação Física Inclusiva, conheça também as outras publicações da série:

Educação física inclusiva: 5 links para trabalhar com alunos de diferentes deficiências
Recursos visuais e linguagem corporal são importantes para aluno surdo na educação física
Vôlei e futebol podem ser adaptados para incluir aluno cego ou com baixa visão
Educação física deve considerar menor força e equilíbrio do aluno com síndrome de Down
Atividades cooperativas, sensoriais e artísticas podem ajudar a integrar aluno autista na educação física

Atualizada em 18/9/2020 às 11h47.

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