Uma criança com síndrome de Down é diferente da outra. Porém, em linhas gerais, elas têm menos tônus muscular – prontidão do músculo em dar uma resposta ao movimento –, força, ligamentos mais frouxos e dificuldade em manter o equilíbrio e a atenção. Pontos a serem considerados pelo professor de educação física na hora de preparar uma aula inclusiva.

“Esportes truculentos ou que exigem movimentação do pescoço, como ocorre na ginástica, devem ser supervisionados”, alerta o coordenador do curso de educação física e fisioterapia da Faculdade Pitágoras, de Guarapari (ES), Weber Gomes Ferreira.

“O mesmo vale para a corrida, pois as articulações podem ser sobrecarregadas devido ao menor tônus e ligamentos soltos”, complementa.

É necessário atenção nas atividades individuais e em grupo que favoreçam alta sobrecarga muscular. “Assim como estresse, impactos e colisões na região cervical”, ressalta a educadora física especializada na síndrome e fundadora da “Ampliar Movimento”, Kiki Faria.

Como o aluno com Down pode apresentar doenças associadas à síndrome, entre elas problemas cardiovasculares, de tireoide e na coluna cervical, é preciso uma avaliação médica e liberação para que ele participe das aulas.

Na classe, esportes individuais e coletivos são benéficos, assim como atletismo e dança.

“Eles estimulam a socialização, equilíbrio de emoções e a prevenção de doenças congênitas”, afirma o educador.

As aulas podem mesclar atividades motoras e interativas, oferecendo vivências em novos ambientes.

“Use jogos e brincadeiras para ensinar regras sociais e culturais, ou seja, o que é aceito ou contraindicado no convívio com os colegas”, justifica o professor.

Aprendizado no seu tempo

Antes de preparar a aula, pense em exercícios que trabalhem a melhora do tônus muscular – principalmente a musculatura que sustenta a postura.

Faria lembra que a maioria dos alunos com Down apresenta ritmo de aprendizado mais lento, assim como dificuldade de concentração e memória de curto prazo. “As adaptações se referem mais à maneira do docente conduzir a aula. Nas atividades físicas inclusivas, a turma participa junta e, se tiver alguma adaptação, serve para todos. Não se deve tratar o estudante com Down como ‘café com leite’”, reforça.

“Reconheça ele como criança antes de ver a síndrome, e como uma pessoa que tem grandes potencialidades e algumas dificuldades, como todos”, defende a educadora.

Outras dicas incluem utilizar recursos visuais como apoio pedagógico, manter contato visual constante, fracionar e simplificar informações, movimentos, regras e tempo da atividade.

“Fale pausadamente, mas sem exagero. E aguarde o tempo suficiente para a resposta”, recomenda Faria.

Quando for responder alguma questão do aluno, evite respostas prontas e incentive o raciocínio. “Valorize as suas conquistas, mas sem exagerar”, ressalta.

O professor tem papel importante no esclarecimento de possíveis dúvidas dos estudantes sobre o colega. “Aja naturalmente, suprindo a curiosidade com informações correspondentes a cada faixa etária”, orienta a especialista.

*Essa reportagem faz parte do Especial Educação Física Inclusiva, conheça também as outras publicações da série:

Educação física inclusiva: 5 links para trabalhar com alunos de diferentes deficiências
Recursos visuais e linguagem corporal são importantes para aluno surdo na educação física
Na educação física, cadeira de rodas é vista como extensão do corpo do aluno com deficiência
Vôlei e futebol podem ser adaptados para incluir aluno cego ou com baixa visão
Atividades cooperativas, sensoriais e artísticas podem ajudar a integrar aluno autista na educação física

Atualizada em 18/9/2020 às 11h47.

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