As letras de música compõem um gênero discursivo que pode ser trabalhado com os estudantes nas aulas de língua portuguesa para desenvolver a interpretação e o senso crítico. Com isso em mente, a professora da rede estadual do Sergipe Roberta Brito Lima propôs usar letras de músicas do repertório dos alunos para debater o empoderamento feminino.

A iniciativa foi aplicada em um projeto de contraturno com estudantes do 9º ano do ensino fundamental 2 da cidade de Japoatã (SE). Ela deu origem a um mestrado profissional em Letras sobre o tema.“Minha intenção foi desenvolver o letramento critico, que é toda atividade de oralidade e escrita usada para se expressar, promover discussão, reflexão, confrontar opiniões e que ainda possibilite aumentar o repertório cultural dos alunos”, esclarece.

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“O letramento crítico tem uma finalidade de reflexão e de ensinar o aluno a fazer uso dessa fala e da escrita com coerência social, empatia e cidadania”, completa a professora. Lima elaborou uma sequência de atividades com cinco propostas. Primeiramente, ela sondou os alunos sobre seus conhecimentos sobre o assunto e questionou a figura da mulher em canções escutadas por eles. “São letras e temas que já circulam entre os alunos, que nesta faixa etária já compreendem o mundo à sua volta e podem escolher entre perpetuar desigualdades ou rompê-las por meio de linguagens e ações igualitárias”, diz.

“Finalizamos discutido que a tônica do empoderamento e a mulher acessando novos espaços de forma igual são caminhos sem volta na nossa sociedade”, conta. Depois disso, os alunos foram convidados a identificar metáforas de depreciação e metáforas de empoderamento em canções que versavam sobre a figura feminina de maneiras distintas.

As letras utilizadas foram: Amor de Rapariga, da banda Calcinha Preta; Só Quer Vrau, de MC MM; Loka, de Simone e Simaria; e Pagu, de Rita Lee. “O objetivo foi que eles refletirem e discutirem essas canções que eles já escutavam assim como apresentar novas músicas e artistas, visando a aumentar o repertório deles”, justifica.

Lugar da mulher

No terceiro momento, a docente criou um jogo estilo “passa ou repassa”, usando as músicas “O corpo é meu”, de Samba de Moça Só, “Maria da Vila Matilde”, de Elza Soares, “Triste, louca ou má”, de Francisco, el Hombre, “Dona”, de Roupa Nova, “Loka”, de Simone e Simaria, “Janaína”, de Biquíni Cavadão, “Respeita as mina”, de Kell Smith e novamente “Pagu”, de Rita Lee. Os trechos foram executados pela própria professora, ao violão.“Pude perceber se as metáforas e metonímias eram verdadeiramente compreendidas por eles. E quando não, foi possível identificar se era pelo desconhecimento semântico ou por dificuldades de interpretação de texto”, compartilha.

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Na quarta atividade, foi exibido e discutido o filme “O Sorriso de Monalisa”, no qual a protagonista, uma professora de História da Arte, encoraja as alunas a não verem o matrimônio como única opção de vida, incentivando-as a fazerem faculdade ou trabalharem. “A narrativa provocou a discussão do lugar da mulher, o que ela pode ou não fazer e quem decide isso”, explica a docente. Segundo ela, os temas dialogaram com a realidade dos alunos, moradores de comunidades onde ainda é comum meninas abandonarem os estudos para casarem com namorados mais velhos.

professora Roberta Brito Lima
Professora Roberta Brito Lima aplicando sequência didática com alunos em setembro de 2019 (crédito: acervo pessoal)

“Para professores que desejam replicar a sequência de atividades, penso que é importante ter um bom termômetro da realidade da comunidade escolar para permear a ação. No meu caso, o casamento na adolescência e a evasão escolar eram comuns”, assinala Lima.

Quebra de estereótipos

O final da sequência de atividades foi a criação de cartazes e uma campanha sobre o tema na escola desenvolvida pelos próprios alunos. “Foi como um teste de saída, porque pude analisar se as opiniões e estereótipos do começo foram modificados”, revela a professora.

No encerramento, ela convidou uma das bandas cuja a música foi analisada nas atividades, chamada “Samba de Moça Só”, para se apresentar na escola. “Busquei uma banda feminina e sergipana de samba, que é um local ainda masculino”, diz. “O clipe da música O Corpo é Meu foi exibido e os alunos puderam fazer perguntas às integrantes”.

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