Abordar o tema da gravidez na adolescência nas aulas de geografia ajuda a contextualizar esse fenômeno e também a preveni-lo no ambiente escolar, como aponta a mestra pelo programa de pós-Graduação em ensino e relações étnico-raciais da Universidade Federal do Sul da Bahia (PPGER/UFSB) Liziane Silva Rodrigues.
“O ensino de geografia pode contribuir porque a gravidez na adolescência não é apenas um problema de saúde pública, mas um fato social. Assim, é possível trabalhar o tema aliado aos marcadores sociais de gênero, raça e classe social”, justifica.
Autora da dissertação “Maternidade e Raça: um diálogo necessário para o ensino e a aprendizagem da geografia na rede pública de ensino”, ela criou uma sequência didática para ser aplicada com alunos do ensino fundamental II e aprofundada no ensino médio.
“Quando buscamos compreender as causas e consequências da gravidez precoce, precisamos entender que existe uma conexão entre vários sistemas de opressão na sociedade – como raça, classe e gênero. Eles se relacionam entre si, sobrepõem-se e tendem a discriminar e excluir as meninas de diferentes formas”, acrescenta.
Marcadores sociais
Os dados de gravidez na adolescência no Brasil são considerados altos, apesar da redução de casos entre 2010 e 2021. Nesse período, segundo o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (2021), a prevalência de mães entre 15 e 19 anos caiu de 18% para 13%. Dessas, no entanto, 73% eram meninas negras.
“Partindo do olhar geográfico, podemos trabalhar as questões de raça juntamente com a análise do lugar geográfico; da importância da valorização da identidade territorial, trabalhar com a cultura e o espaço social brasileiro; com a diversidade cultural, étnica e racial da população brasileira; e com os fatores que geram preconceito e racismo”, lista a docente.
Rodrigues explica que a concentração de adolescentes grávidas tanto no Brasil como em outros países subdesenvolvidos tende a ser maior nos bairros periféricos das cidades.
“São vários os fatores que levam as meninas que vivem em áreas periféricas a engravidar precocemente: pouca informação e acesso a métodos contraceptivos; baixa perspectiva em relação à escolaridade e à futura inserção no mercado de trabalho; muitas vivem em lares violentos, com o tráfico de drogas”, destaca.
No campo da demografia, ela e a turma estudaram temas como a relação entre problemas demográficos e gravidez na adolescência; como ela ocorre no Brasil e onde estão os maiores índices.
“Assim, podemos trabalhar nas aulas de geografia questões que envolvem a distribuição de renda no Brasil, por região e cidades; o processo de urbanização e a precarização das cidades; o centro e a periferia; o processo de favelização; a falta de moradia; entre outros”, orienta.
Para completar, sobre o marcador social de gênero, Rodrigues explica que as consequências de uma gravidez na adolescência atingem principalmente as meninas, podendo modificar o futuro e exclui-la de uma formação educacional e do mercado de trabalho.
Perguntas disparadoras
Rodrigues sugere que a reflexão dos alunos sobre as questões sociais que envolvem a gravidez na adolescência pode ser realizada na disciplina de geografia via aulas expositivas, vídeos, leituras coletivas, pesquisa dentro da comunidade escolar, teatro e discussões.
Nas conversas, ela sugere perguntas disparadoras, como: se a gravidez na adolescência é só um problema de saúde pública ou é também uma questão social que precisa ser discutida na escola? O que leva uma jovem a engravidar na adolescência? Por que a maioria das meninas gestantes é negra (preta/parda) pobre e mora na periferia das cidades? Quais obstáculos poderão surgir para a realização dos sonhos das meninas que engravidam precocemente? De quem é a responsabilidade por uma gravidez na adolescência? Qual é o papel do menino-pai nessa situação? A realidade das meninas gestantes ricas é igual a das meninas gestantes pobres?
“Além disso, o que fazer para mudar essa realidade e ajudar essas meninas a continuarem estudando e a terem um futuro melhor?”, finaliza Rodrigues.
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Crédito da imagem: LWA/Dann Tardif – Getty Images