Trabalhar com as árvores genealógicas dos alunos é uma forma de despertar o olhar geográfico a partir de aspectos que eles podem observar e investigar em suas próprias trajetórias familiares.

 Essa foi a proposta da mestra em geografia e professora do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (Cap-UERJ) Deborah da Costa Fontenelle em projeto desenvolvido com os 7º e 9º ano do ensino fundamental e 2º ano do ensino médio.

“Batizado de Árvore da Vida, Álbum de Família ou Trajetórias de Vida, dependendo da etapa de ensino ou da proposta, ele tem como fio condutor pensar o conteúdo programático e ampliar a visão geográfica do mundo, explorando o primeiro universo do aluno, que é a família. Assim, ajuda a entender que aquele conteúdo estudado está vivo no cotidiano”, descreve.

Outros benefícios são envolver a família no ensino e aproximar os alunos da investigação, processo presente nas ciências.

“Ajuda os estudantes a entenderem que temos resultados não apenas quando encontramos informações, mas também na ausência delas, que fala muito sobre o processo”, destaca Fontenelle, que publicou alguns dos resultados no artigo: “Atividade Árvore da Vida: o olhar geográfico na educação básica a partir das trajetórias familiares (2019)”. 

Como fazer?

Fontenelle explica que a primeira parte do projeto é comum às três turmas: construir a árvore genealógica considerando até a 4ª geração, ou seja, os bisavôs.

“Geralmente, as crianças e jovens têm conhecimentos e proximidade até os avós. O projeto estimula conhecer familiares mais distantes por meio de entrevistas com pais, tios, avós, primos e outros”, esclarece.

7º ano do ensino fundamental

Nessa etapa, o projeto aborda a dinâmica populacional brasileira e as origens e formação dessa sociedade.

“Primeiro, o estudante pensa a trajetória geográfica da família, ou seja, como os movimentos familiares se deram: suas origens, se vieram de outro estado, país, cidades ou bairro diferentes”, aponta.

Além disso, a professora explica sobre a importância de considerar as relações étnico-raciais da família, relacionando-as ao conteúdo de formação e origem da sociedade brasileira.

“Geralmente, foca-se muito nas origens europeias dessa sociedade que, pela construção histórica, são as informações que conseguimos encontrar com maior facilidade”, argumenta Fontenelle.

“Pensar as origens africanas e indígenas é um desafio maior, mas auxilia os alunos a entenderem que elas são igualmente importantes”, acrescenta. 

9º ano do ensino fundamental

Após o mapeamento das origens e trajetórias das famílias dos alunos, e sua relação com a formação da sociedade brasileira, a atividade é relacionada à globalização e às visões de mundo.

“Ou seja, como a visão de mundo foi modificada ao longo das gerações por meio de diferentes estímulos, como meios de comunicação. Como o conhecimento do mundo, a noção de distância geografia mudaram. Para isso, os alunos podem pensar como os seus antepassados viam e se relacionavam com o mundo e comparar com os dias de hoje”, orienta.

2º ano do ensino médio

Depois do processo de investigar as origens e trajetórias da família, o projeto é vinculado ao conteúdo de características da população brasileira. Os alunos são convidados a construir um pequeno censo familiar a partir de três indicadores escolhidos por eles.

“Pode-se pensar na quantidade de filhos por família em diferentes tempos e espaços, o que mudou na estrutura e divisão do domicílio, sobre a instrução familiar e sobre as pessoas que eram responsáveis pela renda e sustento da família”, exemplifica.

Lidando com as dores dos alunos

Fontenelle lembra que o projeto pode ser associado com outras disciplinas, como história, sociologia e matemática, e defende que a forma de entrega do trabalho seja livre.

“Isso visa compreender que cada estudante tem uma forma diferente de se expressar e de entender o conteúdo, e que a melhor forma de comunicar é aquela em que ele se sinta mais confortável. Pode ser por escrito, desenho, arte, um vídeo ou outras formas de expressão”, aponta Fontenelle.

O professor, porém, deve estar aberto a entender a multiplicidade de configurações familiares e ajudar a acolher os alunos em caso de algum desconforto.

“Já tivemos situações de ausências paternas por abandono. Nessa hora, não se deve classificar isso como algo raro ou como indicativo que a família é desestruturada”, enfatiza.

 “Uma medida que ajuda, por exemplo, é o professor apresentar a própria árvore genealógica e compartilhar as situações com as quais se deparou fazendo o seu processo”, recomenda.

Outro aspecto indicado pela docente é o professor ter letramento racial e de gênero.

“Vivemos uma sociedade violenta com a população negra e periférica, e esse genocídio pode aparecer nos resultados. O professor deve lembrar que esse aluno pode ter dores e gatilhos diferentes dos alunos brancos”, lembra.

“No caso de letramento de gênero, entender que há estudantes LGBTQIAP+ que terão dores diferentes e que também pode haver filhos de famílias homoafetivas”, completa.

Para completar, vale ainda a atenção com as cicatrizes da pandemia, que fez muitos alunos perderem parentes vitimados pela covid-19.

Em caso de dificuldades, a professora lembra que é possível buscar ajuda e parcerias com psicólogos, psicoterapeutas ou apoio da gestão, coordenação pedagógica e outros colegas.

Veja Mais:

Opinião – “Árvore Genealógica: estabelecer uma linhagem”, de Solange Giardino

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