Temas relativos à manifestação e expressão da sexualidade devem ser abordados com alunos com deficiência, tanto em instituições especiais quanto no ensino regular.“A sexualidade é uma marca do ser humano e de seu desenvolvimento harmonioso, resultando no envolvimento afetivo de diferentes naturezas”, justifica a professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) Fátima Elisabeth Denari. Assim como acontece com todos os alunos, a educação sexual para o estudante com deficiência ajuda a fomentar o respeito pelo outro, quaisquer que sejam as suas características.
“Diferenças individuais estão presentes na sala de aula, escola, bairro e em casa. Esse pode ser o início da conversa”, explica a pesquisadora. Também previne infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), gravidez indesejada e, principalmente, abuso, exploração e violência sexual. “O desconhecimento pode fazer com que esses alunos se tornem alvos indefesos”, alerta.
Infantilização
Segundo a pesquisadora, a educação sexual – para alunos com ou sem deficiência –deveria ser primeiramente tarefa dos pais, seguida da escola. “É um processo conjunto, um elemento a mais de intersecção entre essas duas esferas”, destaca. Quando tratado no ambiente escolar, o tema precisa de projeto pedagógico e conteúdos alinhados com as fases de desenvolvimento das crianças e jovens. Porém, nem sempre há materiais pedagógicos acessíveis e passíveis de serem adaptados às diferentes realidades escolares.
“Na prática, a educação sexual acaba restrita aos últimos anos escolares e a determinadas disciplinas que enfocam o corpo, como biologia, ciências e educação física. Isso leva ao entendimento de que a sexualidade diz respeito somente ao sexo, à relação sexual, desconsiderando fatores como o afeto e relacionamentos de amizade”, adverte a professora.
“Se efetivamente o tema constasse no projeto político pedagógico da escola, seria diferente, já que a escola é um microcosmo vibrante no qual está constituída uma rica diversidade”, comenta. De modo geral, a temática não é abordada na escola por preconceito, medo, vergonha, alegação de despreparo pelos professores, carga horária insuficiente, entre outros. No caso específico do aluno com deficiência, Denari lembra que essa população não é entendida como um ser de direitos.
“Negam-lhe a condição de pessoa, imputando a estes uma eterna infantilidade. Estereótipos de beleza versus feiura, perfeição versus imperfeição do corpo, também atrapalham”, observa. Para completar, há a crença de que o aluno com deficiência intelectual não entenderá o que será abordado. “Ou seja, que eles são incapazes de decidir, de agir de acordo com padrões morais ou de se educar sexualmente”, pontua Denari.
Cinema e jogos
O professor responsável pela turma talvez seja a melhor pessoa para fomentar o debate sobre o tema, uma vez que passa mais tempo com os alunos e, em tese, pode conhecê-los melhor. Porém, outros membros da equipe escolar podem ser envolvidos, assim como educadores sexuais, psicólogos, assistentes sociais e demais profissionais especializados. “Em todos os casos, deve-se ter conhecimentos sobre a temática e segurança para trabalhar de forma lúdica e séria, respondendo com sinceridade dúvidas e angústias. Esclarecimentos evitam situações conflitantes”, ressalta a professora.
Como apoio para a atividade, é possível recorrer a filmes que abordem sexualidade e deficiência por um viés positivo, como os longas-metragens “Colegas”, “O oitavo dia” e “Yo también”, interpretados por atores e atrizes com síndrome de Down. O mesmo vale para jogos pedagógicos e vídeos educativos desenhados para abordar temas de sexualidade, como desenvolvimento corporal e diferenças entre meninos e meninas.
“Os materiais devem ser compatíveis com faixas etárias e sem conotações ideológicas ou religiosas”, enfatiza Denari. Sinceridade e senso de oportunidade também são pré-requisitos na hora de trabalhar a temática em ambiente escolar. “Quando o aluno com deficiência perguntar ou mostrar interesse sobre o assunto, fale e explique de maneira calma, sem sanções, ameaças ou punições. Evite, ainda, chavões ou linguagem vulgar”, ensina.
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