Dois assuntos populares na educação são as metodologias ativas de aprendizagem e as habilidades socioemocionais. As primeiras são estratégias que ajudam a promover uma aprendizagem mais significativas.“Elas dão protagonismo aos alunos e oportunidades para que eles colaborem entre si, ajam e depois reflitam sobre. Em outras palavras, eu faço um experimento, testo as hipóteses e depois penso sobre os resultados”, resume a doutora pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Carolina Costa Cavalcanti.

Já as competências socioemocionais são habilidades que se conectam simultaneamente ao mundo interno do aluno e às relações que ele trava em sociedade. O que muita gente não sabe, porém, é da possibilidade de utilizar metodologias ativas de aprendizagem não apenas para ensinar conteúdos curriculares, mas também para trabalhar competências socioemocionais por tabela.

“As metodologias ativas são ideais porque eu não consigo ser empático apenas estudando o conceito teórico: preciso ter a oportunidade de aplicar a empatia na prática”, justifica Cavalcanti, que é autora do livro “Aprendizagem socioemocional com metodologias ativas: um guia para educadores” (2022).

Opinião semelhante à da mestra em docência para a educação básica pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) Thaís Janaína Castagnaro. Ela é autora da dissertação “Metodologias Ativas e o Desenvolvimento de Habilidades e Competências: estratégias para um ensino contextualizado” (2021). “As metodologias ativas possibilitam maior interação entre os alunos, e é por meio delas que as competências socioemocionais serão trabalhadas”, destaca.

Leia também: 10 metodologias ativas de aprendizagem explicadas

Antes de tudo, avaliação diagnóstica

Castagnaro explica que é necessário primeiro identificar quais habilidades socioemocionais a turma precisa desenvolver para, na sequência, escolher as metodologias ativas mais estratégicas para isso. “Assim, o primeiro passo é a avaliação diagnóstica, que será de extrema importância para o processo”, pontua.

Em sua pesquisa de mestrado, ela promoveu uma avaliação diagnóstica com alunos do 5º ano do ensino fundamental usando observação, questionário de autoavaliação e criando situações em que os alunos pudessem trabalhar sozinhos e em grupo.
“A autoavaliação é fundamental para o aluno pensar nos locais e situações que o fazem se sentir bem e mal na escola. Além disso, é necessário experimentar os estudantes em diversas situações fora da sala de aula: no pátio, nos laboratórios, na aula de educação física, entre outros”, orienta Castagnaro.

Depois de saber quais habilidades socioemocionais serão trabalhadas e escolher quais metodologias ativas usar, é necessário aliar a terceira ponta do triângulo: os conteúdos curriculares. “Por exemplo, nas aulas de matemática sobre divisão, é possível pensar em projetos que os alunos precisem compartilhar algo com os colegas, como um alimento. Assim, extrapola-se o ensino do conteúdo em si para pensar as emoções que surgem no processo de dividir algo com alguém”, ilustra Cavalcanti.

“Lembrando que essa conexão entre metodologias ativas e competências socioemocionais pode acontecer em qualquer disciplina e etapa de ensino”, reforça Castagnaro, que testou a iniciativa em aulas de matemática, língua portuguesa, história, geografia e projetos interdisciplinares (veja quadro abaixo). Um exemplo foi a utilização da metodologia “Experimentação investigativa” para ensinar sobre fontes de energia, tema presente no livro didático.

“Horário de verão foi um assunto que apareceu na classe. Os alunos foram, então, divididos em grupos pró e contra sua implementação e precisaram pesquisar para debater. Com isso, o objetivo foi desenvolver as habilidades socioemocionais de colaboração, comunicação, liderança e respeito”, ensina.

Ela ainda trabalhou com aprendizagem baseada em projetos, aprendizagem baseada em problemas, grupos cooperativos e role playing game (RPG).

Metodologia Ativa Componente Curricular Tipo de Atividade Habilidades socioemocionais
Experimentação investigativa Ciências, geografia e matemática. Tema: Sol e fontes de energia. Atividade: Debate sobre horário de verão e medição da temperatura do ar e da água. Colaboração; comunicação; liderança e respeito
Aprendizagem baseada em projetos Interdisciplinar Telejornal focando acontecimentos relevantes do município e da escola, pesquisados pelos alunos. Autorregulação; colaboração; comunicação;  confiança; respeito e responsabilidade.
Aprendizagem baseada em problemas Ciências e geografia Tema: Reprodução Vegetal. Problema: morte de abelhas em uma plantação de laranjeiras Colaboração; comunicação; criatividade; pensamento crítico e  respeito.
Grupos cooperativos Língua portuguesa Continue a história: escrita de um texto de forma colaborativa. Autorregulação; colaboração;

confiança; empatia;  

pensamento crítico e respeito.

RPG História Tema: escravidão no Brasil colonial e imperial. Atividade: interpretação. Colaboração; comunicação;  criatividade; pensamento crítico e respeito.

(crédito: Castagnaro, 2021)

Apesar de não ter uma receita, certas metodologias ativas podem trabalhar habilidades socioemocionais específicas dependendo do perfil da turma. “Por exemplo, percebi que o RPG ajudou a desenvolver empatia ao possibilitar que o aluno se coloque no lugar do outro ao interpretar diferentes papeis”, conta Castagnaro.

“Em grupos cooperativos, optei por colocar alunos de diferentes níveis de aprendizagem para eles se ajudarem. Era uma produção textual em conjunto, então, eles tinham que respeitar o tempo de cada colega falar e ouvir”, descreve.“Já na experimentação investigativa, percebi que alguns se destacaram pela liderança e organização dos colegas”, compartilha.

Propostas por faixa etária

Cavalcanti costuma trabalhar as habilidades socioemocionais pela perspectiva da instituição norte-americana The Collaborative for Academic, Social and Emotional Learning (Casel). “Ela as divide em cinco grandes áreas: autoconhecimento, autogestão, habilidades de relacionamento, tomada de decisões e consciência social”, apresenta.

A autora explica que é possível escolher as metodologias ativas e habilidades socioemocionais a serem desenvolvidas tendo como parâmetro a etapa de desenvolvimento de crianças e adolescentes.“Crianças menores podem ser mais egoístas e menos empáticas. Assim, pode-se fazer atividades em que o foco seja criar algo para um colega”, exemplifica.

“Já adolescentes conseguem olhar para a sua comunidade e podem ser estimulados a pensar em projetos de impacto social. No ensino médio, propostas que estimulem os alunos a contarem e compartilharem histórias de vida trabalham a competência de autoconhecimento”, sugere.

Para ela, é fundamental que o professor também desenvolva autoconhecimento e outras habilidades socioemocionais antes de aplicar atividades com os alunos, além da necessidade de formação continuada.“O uso das metodologias ativas também demostra que é desnecessário trabalhar as habilidades socioemocionais em uma aula específica. Elas podem ser incluídas de forma pensada nas rotinas de ensino e aprendizagem”, finaliza Castagnaro.

Veja mais:

Metodologias ativas: especialista indica e analisa diferentes estratégias para educação

Metodologias ativas também são valiosas na educação física escolar

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