A educação física pode se beneficiar das metodologias ativas em suas aulas. “Ela permite trabalhar dentro de uma perspectiva em que o aluno é participante e ao mesmo tempo construtor de seu próprio conhecimento, pela própria característica da maioria dos conteúdos que tem como elemento balizar o movimento corporal humano em suas diversas manifestações”, justifica o professor do Departamento de Ciências Humanas da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Osni Oliveira Noberto da Silva.
Segundo ele, apesar das aulas da disciplina serem geralmente mais ativas e “mão na massa”, normalmente os educadores ainda prezam por um formato mais expositivo. “Ao ensinar basquete, por exemplo, ele organiza uma fila, explica os movimentos ou exercícios a serem executados e avalia a partir do quão próximo ao movimento original o estudante foi capaz de fazer. Fica mais perto de uma atividade de imitação”, compara.
“Dentro de uma proposta ativa, o professor pode propor problemas dos mais variados, dando a oportunidade dos alunos resolverem da forma que acharem melhor, por meio da interação entre eles. Isso, inevitavelmente, gera mais diversidade nas atividades executadas e riqueza no desenvolvimento educacional deles”, atesta.
Modalidades ativas e expositivas, contudo, podem ser aliadas. “É possível combiná-las dependendo dos objetivos do docente, mantendo os alunos no centro do processo”, afirma o professor da Universidade Complutense de Madrid (Espanha), Jorge Agustín Zapatero.
Leque de opções
Zapatero aponta o aprendizado entre pares (quando os alunos se ajudam) e a sala de aula invertida (quando eles pesquisam o tema sugerido antes da aula) como opções de metodologias ativas quando há um horário limitado durante a semana.
“Com maior disponibilidade, o professor pode apostar em métodos com maior carga didática, como a aprendizagem por projetos”, recomenda. “Todas as metodologias têm um lugar se forem planejadas adequadamente e estiverem de acordo com o nível psicológico e evolutivo dos estudantes”, complementa.
Já Silva recomenda a aprendizagem baseada em problemas. “Nele, o docente apresenta uma série de problemas a um ou mais grupos de alunos, que deverão tentar solucioná-los a partir de conhecimentos prévios, discussões entre eles ou pesquisas realizadas em livros, artigos, revistas, internet, etc”, orienta.
A ferramenta ainda pode ser incorporada em todos os conteúdos. “Seja com esportes, jogos, lutas, danças, manifestações culturais, noções de saúde e qualidade de vida, etc. Lembrando sempre de levar em consideração a idade, o desenvolvimento educacional e a situação social e cultural das turmas”, sugere Silva.
Zapatero já usou metodologias ativas em aulas com crianças até nove anos. “As características dos alunos condicionam o método que podemos usar e o formato das atividades. Nas minhas experiências, os estudantes criaram seus próprios esportes, coreografias, ajudaram a ensinar atividades diversas e posturas de ioga para os próprios colegas”, resume.
Planejamento
Para que as metodologias ativas sejam proveitosas, Zapatero recomenda ao professor um planejamento cuidadoso. “Desta forma, quanto mais decisões forem antecipadas e quanto mais clareza, melhor o trabalho será desenvolvido. O peso do educador está na pré-ação”, reflete. Outra questão importante é saber como transferir a responsabilidade para os alunos. “Se eles pensam que são bons, importantes para a escola e capazes, tudo será como o planejado.”
Além disso, de acordo com o especialista, os erros também acontecerão por parte da docência – e são igualmente bem-vindos. “Isso é parte do processo, pois há questões que ‘escapam’ do nosso controle. Nesses momentos, devemos observar, refletir e avaliar para melhorar em ocasiões futuras”, acrescenta Zapatero.
Para ele, o resultado são estudantes mais motivados a aprenderem. “Isso os ajuda a desenvolver o valor da responsabilidade. Eles percebem que o sucesso ou a possibilidade de melhoria depende deles, e que o erro faz parte do processo de aprendizagem”, descreve. “Eles recebem a responsabilidade com muita predisposição”, garante.
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