O círculo de cultura (CC) é uma proposta de intervenção social que tem como objetivo estimular a conversação para promover a aprendizagem significativa. Ele teve origem nos trabalhos em alfabetização de adultos organizados por Paulo Freire nos anos 1960.

“É uma proposta de discussão da realidade por meio do incentivo à participação e à colaboração das pessoas”, explica o educador e mestre em políticas sociais e cidadania, Cleonilton Souza.

“Ele não ocorre no âmbito vertical, do professor para o aluno, mas no horizontal. Oferece voz ao estudante e o incentiva a pensar sobre determinada questão e a sugerir melhorias”, completa.

O CC pode ser aplicado na educação básica, tanto em processos presenciais quanto de educação a distância. Nesse caso, pode-se usar tanto ambientes formais de aprendizagem digital, como Moodle ou Blackboard, quanto populares, como WhatsApp, Facebook ou Skype.

Para os estudantes, do ensino fundamental II e médio, o pesquisador sugere trabalhar o tema da fake news. “Esse assunto não pode ser discutido a partir de práticas explicativas, mas necessita de práticas dialógicas e dialéticas”, defende.

“Como o tema mobiliza discurso de ódio, antagonismos e contradições, o bom seria o docente usar uma plataforma administrável, como o Moodle. Mas, na falta de um ambiente privado, pode usar as redes sociais”, garante.

É recomendável que educador e educandos saibam como práticar conversação em ambientes digitais, como fórum, bate-papo online, audioconferência e videoconferência.

Começo, meio e fim

Antes de começar o ciclo de cultura virtual, o professor deve fazer o planejamento da atividade. “Ao contrário de um mero bate-papo, o CC deve ter uma organização didática e objetivos bem definidos”. “Isso implica, também, em analisar qual o contexto social dos alunos, para saber a melhor forma de se trabalhar com eles”, completa.

Todo CC é estruturado com início, desenvolvimento e finalização. No início, as primeiras medidas são para aproximar os estudantes entre si, para que se sintam confortáveis em interagir. Na sequência, eles são estimulados para que identifiquem um problema a ser discutido ou para analisar o tema proposto.

No desenvolvimento, o docente vai coordenar os trabalhos, propondo questionamentos e reflexões. “É importante lembrar que participantes não são vazios de conhecimento. Eles podem não saber o que é fake news, mas sabem, por exemplo, o que é uma informação deturpada”, lembra.

O ideal é aproximar os participantes a partir de temas do senso comum e da realidade dos estudantes. Para, com isso, chegar ao conhecimento científico. “Categorias que podem ser discutidas, dependendo do grupo, são: algoritmo, inteligência artificial, pós-verdade, desinformação, papel da imprensa antes e depois da internet e das redes sociais e fluxo da informação na web”, sugere.

O professor pode ainda trazer um exemplo ou um estudo de caso sobre fake news, para sensibilizar os alunos.

Ao final, um pensamento é sintetizado a partir do que a turma trouxe. “A conclusão pode ser teórica ou em forma de proposta de intervenção”, ressalta.

Todos participam

Entre os cuidados tido pelo professor, Souza orienta não trazer todas as informações de forma expositiva. Isso prejudicaria a construção coletiva do conhecimento.

“O educando não deve se sentir inferior em expor o próprio ponto de vista diante da turma, mesmo que ele não esteja de acordo com o conhecimento científico ou seja um dado equivocado”, alerta.

“O professor precisa compreender o ‘erro’ do aluno como um elemento também do processo de aprendizagem e, a partir dele, ajudar os educandos a se aproximarem do conhecimento validado pela humanidade”, indica. “Não adianta falar apenas: ‘isso é incorreto’ e expor o que seria o certo. É preciso ajudar os participantes a elaborarem o assunto em conjunto”, destaca.

Veja mais:
Pós-verdade: quais caminhos pedagógicos estimulam o pensamento crítico do aluno?
E-book gratuito analisa contribuições de Paulo Freire em tempos de fake news
Atividades em que professor e aluno identificam fake news juntos são eficientes, diz pesquisadora
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Crédito da imagem: Shendart – iStock

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