A desigualdade social, de acesso à internet e a aparelhos tecnológicos faz com que aulas remotas ao vivo (síncronas) sejam raras nas escolas públicas neste momento de pandemia do novo coronavírus (covid-19). Quando acontecem, a falta de interação por parte dos alunos é comum.

“Eles fecham a câmera ou não perguntam, algo visto em escolas e alunos de todas as classes socioeconômicas”, descreve o doutorando em Letras e formador de professores de língua inglesa Glauco Augusto Souza. Pensar em soluções exige refletir sobre os motivos do aprendiz para querer “se esconder”.“Crianças e adultos tendem a participar e se mostrar mais na câmera, ao contrário de adolescentes. Penso que a razão não seja somente desinteresse, mas receio de ser julgado, de bullying, de se sentir inadequado e feio para se mostrar, vergonha da sua casa, presença de outras pessoas no recinto, etc.”, lista. “Basicamente, aquilo que professor considera um problema – desligar a câmera – pode ser um alívio para o aluno”.

Leia também: Dicas para o professor da rede pública ajudam a preparar aulas EaD

Presencial x remoto

Mostrar-se na câmera não é sinônimo de atenção e aprendizagem. “Caso contrário, toda aula presencial funcionaria. Mas, quantas vezes não entramos em uma classe e encontramos alunos com, metaforicamente, sua ‘câmera desligada’?”, brinca. Há ainda aqueles que não possuem o recurso em seus computadores ou celulares. “Vale se perguntar: por que desejo que meu aluno se mostre? É apenas para controlar se ele está fisicamente presente ou tem uma função?”, questiona.

Para a mestra e professora da área de Educação do Centro Universitário Uninter Mariane Kraviski, estratégias utilizadas na aula síncrona – como metodologias ativas de aprendizagem – podem engajar. “Muitas vezes, são o suporte que a aula precisa”, analisa. A seguir, confira oito dicas para estimular os alunos a ligarem a câmera e a participarem ativamente de aulas remotas.

Dinâmicas com apresentação de objetos

Convide os alunos a apresentarem um objeto que os representem para a turma, como um videogame, pelúcia, livro ou brinquedo. “Além da língua inglesa, pode ser adaptado para outras disciplinas e de acordo com a idade e etapa de ensino. Por exemplo, usar matemática para calcular a área de uma almofada apresentada por um dos aprendizes”, indica Souza.

Aulas temáticas

Souza também recomenda realizar aulas com temas, convidando os alunos a se fantasiarem, maquiarem ou usarem um acessório simples. Vale festa junina, halloween, entre outros. Nesse dia, ele também decora o espaço no qual leciona. “Eu não trabalho pedagogicamente a temática, apenas utilizo como pretexto para interação e engajamento”, revela. “Tive uma aluna que abriu a câmera uma única vez: em uma aula com motivo de festa junina”, compartilha ele, que indica que a temática seja adaptada para abranger alunos de todas as classes sociais. “Professores de história e geografia podem associar os temas aos conteúdos lecionados, como Grécia antiga”, sugere.

Aulas menos expositivas

Assim como nas aulas presenciais, aulas apenas expositivas tendem a deixar os alunos passivos no processo de aprendizagem. “Com o ensino remoto, tem o agravante que a aula concorrerá com outras distrações. O aluno pode considerar válido salvar os slides para ler depois”, alerta. Contra o problema, ele indica dividir os alunos em grupos para apresentar um tema sobre o conteúdo estudado, seja em forma de seminário ou manifestação artística.

Abolir o chat

“Ou seja, dúvidas e respostas de atividades serão realizadas visual e oralmente, mostrando o caderno para o professor e os colegas”, orienta Souza.

Convidar o aluno a personalizar seu ambiente de estudo

Assistir à aula com a camiseta do time que torce ou colar na parede um pôster do artista que admira fazem os jovens revelarem mais da sua identidade. “Cria-se um ambiente em que ele se reconhece e se sente confortável em estar”, pontua Souza.

Sugerir atividades com participação ativa

“Escolha um aluno por aula para dar uma dica do conteúdo ou uma dica para o fim de semana, de lazer, filme, série ou livro. Ou para que ensinem a fazer um alongamento, já que passamos muito tempo sentados”, indica Kraviski.

Atividades mão na massa

Invista em iniciativas em que os alunos precisem criar, prototipar, desenhar e mostrar o resultado na câmera para colegas e professor. “Vale ações de metodologias ativas, que colocam os alunos no centro da aprendizagem, tornando-a significativa”, afirma Kraviski.

Explorar recursos do perfil

Pode haver alunos sem câmeras na turma. Para que eles participem, peça que personalizem seu avatar ou perfil na plataforma usada com fotos ou mudando o seu nome. “O professor de geografia pode pedir, em determinado dia, que os alunos adicionem no perfil a bandeira de um país que gostariam de conhecer. O docente de biologia pode fazer o mesmo quando o assunto da aula for plantas, insetos, entre outros”, sugere Souza.

Questione para envolver

Com a câmera aberta ou desligada, uma forma de gerar engajamento é sempre trazer o aluno para dentro do conteúdo. “Questione cada um da turma sobre o conteúdo, sobre o que acham, se possuem exemplos do que está sendo tratado no seu dia a dia. A possibilidade de uma interação oral inesperada pode evitar a dispersão”, finaliza Souza.

Veja mais:

9 links para usar pedagogicamente redes sociais e ambientes virtuais de aprendizagem

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