A pronunciação é uma das habilidades da língua inglesa que geralmente são deixadas de lado nas aulas da educação básica das redes públicas. “Os professores do ensino regular precisam trabalhar o idioma com grupos grandes, de 30 a 40 alunos. É inviável pedir participação oral de todos como em grupos menores, nos quais se pode avaliar e orientar a pronúncia de cada um”, explica a mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Brasília (UnB) Elaine Cunha Rael.

“Outro fator é a oralidade não ser cobrada nas avaliações de larga escala e vestibulares, fazendo com que as escolas enfatizem o inglês escrito, o vocabulário e as regras de gramática”, completa a docente, que é autora da dissertação “Ensino e aprendizagem da pronúncia do inglês para aprendizes brasileiros: foco no acento primário”.

Intervenção na hora certa

Na hora de trabalhar a pronúncia, é importante deixar o aluno tentar se expressar e permitir que sua fala flua. “Não o interrompa com correções o tempo todo. Deixar errar faz parte do processo”, analisa Rael. “Porém, deve haver um equilíbrio para não deixar o aluno repetindo a mesma pronúncia errada. Isso pode gerar o chamado “erro fossilizado”: o estudante avança e adquire vocabulário, gramática e fluidez, mas permanece com os mesmos erros na pronúncia”, explica a pesquisadora.

Leia também: Como ensinar inglês com música na escola?

Em alguns momentos, será necessária uma instrução explícita. “Por exemplo, quando o professor explica como fazer o som do ‘th’ colocando a língua entre os dentes, fonema inexistente em português e que o aluno tenta reproduzir usando só o ‘t’ ou o ‘f’ do seu idioma”, ilustra.

Mestre em estudos da linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Ufrgn), Claudinere Araújo da Silva recomenda iniciar a pronúncia das palavras aos poucos e com apoio de brincadeiras e temas do interesse dos alunos. A seguir, separamos 6 atividades para trabalhar essa habilidade.

1) Explore as palavras do dia a dia

As atividades podem aproveitar o conhecimento que a criança já possui da língua inglesa.
“O professor pode incentivar o aluno a usar o ‘I’ ao invés de ‘eu’, ou mesmo a palavra ‘teacher’. A partir delas, o docente pode fazer comparações e diferenciações com as novas palavras que forem surgindo. Pode destacar ‘você percebe que esse final em teacher é o mesmo de preacher?”, exemplifica Silva.

2) Nursuring rhymes

São canções ou poemas para crianças na língua inglesa que associam palavras simples, rimas e movimentos coreografados. “A criança vai desenvolvendo a percepção de que a língua inglesa é diferente da portuguesa, com novos sons. Por meio da brincadeira, o professor consegue derrubar uma barreira psicológica de que o inglês é um idioma difícil ou distante”, destaca Silva.
Ele usa com seus alunos vídeos de animações disponíveis no YouTube das canções “Old Macdonald had a farm” e “Wheels on the Bus”. “Na primeira, eles entendem que a percepção do som dos animais em inglês é diferente do português. O galo não faz cocoricó, mas cock-a-doodle-doo” conta o docente.

Outras nursuring rhymes populares e com animações gratuitas no Youtube são “Twinkle, Twinkle Little Star”; “Row, Row, Row Your Boat”; “Hey, Diddle Diddle”; “One, Two, Three, Four, Five”; “Incy, Wincy Spider”; “Zoom, Zoom, Zoom” e “Grand Old Duke of York”.

3) RPG

RPG é a sigla em inglês de ‘Role Playing Game’, traduzido como “jogo de interpretação de papeis”. A iniciativa tem potencial pedagógico e é fácil de ser aplicada em sala de aula.“Tem apelo educacional porque o estudante assume um personagem e a brincadeira funciona como uma imersão. E ele se esforça para se expressar em outro idioma”, explica Silva, que é autor da dissertação “O desenvolvimento da oralidade em língua inglesa através de role-playing games”.

Sua orientação para atuar com as crianças começa com a proposta de uma aventura imaginativa básica, permitindo que as dúvidas sejam tiradas em português. “A partir do terceiro ano dos anos iniciais, indico uma história em que o aluno é dono da fazenda, com situações para ele adquirir e pronunciar o nome dos animais novos”, sugere.

Nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio, Silva explora histórias de sobrevivência. “Um vírus que dizimou a população mundial deixou nos sobreviventes a habilidade de se comunicar com os animais e, assim, construir uma nova sociedade”, compartilha.

No RPG, ele indica usar com os alunos estruturas simples. “Sujeito, verbo e um complemento. Como ‘I will ask the rat about…’”, exemplifica. O RPG deve ser trabalhado preferencialmente em grupos pequenos e com outros alunos ajudando como monitores.

4) Apresentar a transcrição fonética

Os dicionários trazem a representação fonética de como as palavras devem ser pronunciadas. Essa grafia ajuda o aluno a entender os sons característicos da língua inglesa e suas diferenças em relação ao português, além de trazer autonomia quando ele quiser saber mais sobre a pronúncia de novas palavras.

“Na fonética, você ensina ao aluno o símbolo que deve ser atrelado ao som. Pode-se mostrar a diferença entre wash (lavar; wɑːʃ/) e watch (assistir; /wɑːtʃ/)”, recomenda Silva. “A prática ajuda o aluno a compreender o funcionamento da língua e a ‘adivinhar’ a pronúncia de uma palavra desconhecida quando a vê escrita”, orienta a professora.

5) Perfis em redes sociais

O Instagram conta hoje com perfis de professores voltados especificamente ao ensino de pronúncia. Entre eles, Evelyn Placido (@evelynplacido), Pronunciation with Emma, (@pronunciationwithemma) e Inglês com Susie (@inglescomsusie). No perfil de Evelyn, é possível encontrar vídeos curtos ensinando a forma correta de se dizer nomes de bandas musicais, de filmes populares, de marcas famosas, entre outros temas do interesse de crianças e jovens.

“Quando o aluno relaciona a matéria estudada com algo de seu dia a dia ou do seu interesse, o aprendizado rende e se torna mais prazeroso. Além disso, esse tipo de vídeo direciona a outros vídeos relacionados, o que pode gerar mais conhecimento e entretenimento em inglês”, afirma Rael.

6) Podcast

Atividades de ‘listening’ e repetição ajudam a melhorar a pronúncia. “O aluno presta atenção na pronúncia correta e vai tomando consciência dos fonemas da língua inglesa e de como reproduzi-los, tanto palavras isoladas como formas contraídas do idioma e entonação”, analisa a professora.

No caso de podcasts, é indicado trabalhar trechos curtos. “É possível escutar frases curtas e tentar repeti-las, e também utilizar a legenda ou a transcrição do podcast para relacionar os fonemas à sua escrita”, destaca Rael. Outras dicas são utilizar o modo de reprodução do podcast em velocidade mais lenta e incentivar os alunos a fazerem uso desse recurso também fora da sala de aula.

“Não precisa ouvir um podcast longo todo dia, o mais importante é a constância e buscar entender o que está sendo ouvido, atentando à pronúncia, ao vocabulário e expressões utilizados”, finaliza a docente.

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