Foi em 2016 que o professor de geografia Paulo Magalhães levou os alunos pela primeira vez para fora dos muros da Escola Municipal Duque de Caxias, em São Paulo (SP), para conhecer a história do bairro. A escola se encontra na baixada do Glicério — região central da cidade conhecida pela violência e pela vulnerabilidade social. Em 2021, ele foi premiado por seu projeto de aula pública com o Global Teacher Award (GTA), em que concorreu com professores da educação básica de todo o mundo.

“No início, o ambiente escolar era violento e eu entendi que ou mudava a minha prática e didática ou teria que pedir transferência de unidade”, relembra. Apesar de uma primeira resistência de gestão, colegas, pais e comunidade escolar, o projeto envolveu os alunos e se tornou um sucesso. “Nesses quase seis anos, a violência escolar e do entorno diminuíram. A comunidade e a escola se aproximaram e professores de outras disciplinas, como história, passaram a elaborar suas aulas pelo bairro também”, comemora.

aula pública com professor Paulo Magalhães
Aula pública com professor Paulo Magalhães (crédito: acervo pessoal)

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Projeto vivo

De 2016 para cá, o projeto também sofreu modificações. Hoje, os alunos trazem temas para a aula, de forma que as demandas do bairro e as necessidades da comunidade escolar são utilizadas para promover novas reflexões. “Já abordamos aulas públicas sobre o problema do lixo, pombos, plano diretor da cidade e imigração”, exemplifica Magalhães.

Com o isolamento social provocado pela pandemia de covid-19, o projeto foi suspenso. Nesse período, o professor gravou sozinho aulas em vídeo pelo bairro e enviou aos alunos. Além disso, transformou o material das aulas anteriores em uma história em quadrinhos. A seguir, Magalhães lista quatro passos para inspirar outros professores a desenvolverem suas próprias aulas públicas.

Escolha do tema

Conheça a história do bairro e possíveis pontos de intersecção com o currículo do municipal e com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Ouça sugestões dos alunos e informações que eles trazem na interação cotidiana, como problemas e necessidades da comunidade. “Além de materiais didáticos, pesquise em dissertações e teses os assuntos que deseja abordar”, sugere.

Defina o roteiro

Visite primeiro o bairro sozinho para mapear os pontos a serem visitados. Defina um roteiro e o entregue à coordenação da escola. Nele, devem constar o dia e hora da atividade, espaços a serem vistos e os conteúdos relacionados a eles. Ao calcular o tempo do trajeto, some não apenas a hora da aula, mas a organização para a saída e o trajeto.

Além do bairro, a aula pública também pode percorrer outros pontos da cidade. No caso da Escola Municipal Duque de Caxias, locais da região central de São Paulo foram explorados, como o Sesc, Museu Catavento, Câmara Municipal, centros culturais e o Museu da Imigração Japonesa.

Colete documentos e autorizações

Serão necessárias autorizações dos responsáveis para que os estudantes deixem a escola, assim como autorização de uso de imagem, caso vídeos e fotos sejam realizados. “Convide os pais e responsáveis a comparecem”, sugere o docente. Se a aula pública envolver outros equipamentos da cidade – como centros culturais e câmara municipal – combine previamente com os gestores desses espaços. Vale também acordar com a gestão e merendeiras um lanche para o momento do retorno dos estudantes.

Acordos com os alunos

Antes de sair às ruas, deixe acordado com as crianças o horário da atividade, importância do uniforme e identificação quando estiverem fora da escola, e o respeito às regras de sinalização e de trânsito para evitar acidentes.

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