O sucateamento de políticas ambientais e da demarcação de terras indígenas que acontece desde 2019 estimulou a invasão de territórios reservados aos povos tradicionais por garimpeiros, madeireiros e agropecuaristas. O resultado foi o aumento nos conflitos do campo, violência e assassinatos contra lideranças indígenas. Tal situação motivou uma denúncia formal contra o Brasil no Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) por “risco elevado de genocídio de povos indígenas isolados”, em 3 de março de 2020.
Pouco tempo depois, a chegada da pandemia de Covid-19 agravou o quadro. A proximidade com o homem branco fez com que a doença dizimasse aldeias e ganhasse alertas periódicos emitidos pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
Abordagem do tema em sala
A ONU descreve genocídio como “atos cometidos com a intenção de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”. Para os estudantes da educação básica, entender como esse crime contra indígenas ocorreu no Brasil exige conhecimentos de história sobre colonização e a repressão da ditadura militar.
No campo da geografia e biologia, é possível discutir expansão da agropecuária sobre biomas e modelos econômicos baseados na exploração predatória e destruição da natureza. Por fim, o tema ainda dialoga com questões de educação ambiental, atualidades e de direitos humanos.
Confira, a seguir, seis links que podem ajudar o professor a introduzir o tema em sala de aula, possibilitando discussões sobre a origem, tipificação e desdobramentos contemporâneos do genocídio indígena no Brasil.
Plano de aula: Genocídios na história: conceito, origem e exemplos (Instituto Claro)
Indicada para o ensino médio, essa sequencia didática explica o conceito de genocídio, exemplos históricos e formas contemporâneas do crime. Ao final, sugere reportagens e charges sobre o atual genocídio indígena no Brasil para o docente apresentar aos alunos em sala de aula. O objetivo é embasar os estudantes para a escrita de um texto dissertativo sobre o assunto.
Documentário “Martírio”
Narrado em primeira pessoa, Martírio conta a história de um massacre de indígenas ocorrido em 1985 no sul de Rondônia. Vinte anos mais tarde, o diretor Vicent Carelli resgata a origem e desdobramentos desse genocídio por meio de documentos e relatos. Para trabalhar o tema do genocídio indígena a partir da produção, o Instituto Federal de São Paulo (IFSP) sugere rodas de conversa. O documentário pode ser assistido gratuitamente no Facebook da Mídia Ninja.
Documentário: “À sombra de um delírio verde”
A obra denuncia o processo de genocídio dos Guarani Kaiowá, que lutam pela reconquista de seu território contra transnacionais do agronegócio. Atualmente, cerca de 40 mil indígenas dessa etnia vivem em menos de 1% de seu território original, transformado principalmente em canaviais para a produção de etanol. A cana-de-açúcar, chamada de ouro-verde, é responsável pelo título do documentário.
Documentário: “Guarani e Kaiowá: Pelo direito de viver no Tekoha”
Para contar sobre a situação dos Guarani Kaiowá, o Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio) visitou a Reserva Indígena de Dourados e aldeias do estado de Mato Grosso do Sul. O percurso de mil quilômetros originou esta produção audiovisual, que relembra 450 homicídios e 700 suicídios ocorridos durante 16 anos de discussões sobre demarcações de terras na região.
Artigo: Genocídio – O que é e como no Brasil (Politize)
Texto didático da mestranda em ciência política, Laura Lammerhirt, que apresenta a questão do genocídio indígena. Resgata o reconhecimento da ação como crime no Brasil, em 1956, e o massacre Yanomami ocorrido em Roraíma, em 1993. “Cabe ressaltar que o massacre dos Yanomamis estava inserido no contexto, ainda atual, de conflitos entre as comunidades indígenas e o trabalho de exploração e extração de minérios dos garimpos, particularmente comuns na região amazônica”, reforça a autora.
Minidocumentário “Ditadura criou cadeia para índios com trabalho forçado e torturas”
Produção audiovisual originalmente publicada em junho de 2013 dentro da reportagem de mesmo nome da Agência Pública. Os materiais resgatam um tema ainda pouco debatido, que foi o genocídio de indígenas durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985). Acusações de vadiagem, consumo de álcool e pederastia levaram membros de diferentes etnias para a prisão, sem que, ainda hoje, sejam eles reconhecidos como presos políticos.
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