A palavra do ano do dicionário Oxford para 2024, “brain rot”, é definida como a deterioração do estado mental ou intelectual de uma pessoa devido ao consumo excessivo de conteúdo online. A gíria reflete preocupações atuais sobre os impactos negativos do uso de tecnologias digitais.

“‘Brain rot’ se refere tanto ao conteúdo de baixa qualidade encontrado nas redes sociais e na internet quanto ao impacto negativo que se acredita que esse consumo tem”, resume o dicionário.

“Não é um termo médico, mas uma expressão coloquial que descreve cansaço mental, prejuízo da atenção e comprometimento intelectual. Remete ao fenômeno do uso problemático da tecnologia e do excesso de estímulos, que desgastam cognitivamente”, contextualiza o psiquiatra e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Thiago Henrique Roza.

O que causa o “brain rot”?

Os problemas cognitivos associados à gíria “brain rot” têm respaldo científico, como explica o psiquiatra do Ambulatório de Transtornos do Impulso (AMITI) do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (IPq-USP) Emílio Giroldo Tazinaffo.

Isso porque redes sociais adotam um design conhecido como “infinite scroll” (rolagem infinita), que recomenda vídeos e posts relacionados aos interesses do usuário para mantê-lo engajado, gerando estimulação cerebral contínua.

“Isso libera dopamina, neurotransmissor relacionado à motivação e ao prazer. Por exemplo, ao receber um convite para fazer algo que se gosta, o cérebro libera dopamina e registra tal atividade como prazerosa”, explica Tazinaffo.

“O problema é que as redes sociais estão sempre dizendo: ‘Algo do seu interesse vem aí’. E são vídeos curtos e contínuos. Ao final, o cérebro fica engajado nessa busca constante por compensação e prazer”, acrescenta.

Por sua vez, a hiperestimulação prejudica a capacidade de atenção, o que, como um efeito dominó, compromete a memória.

“A memória prejudicada atrapalha a produtividade do adulto e o aprendizado de crianças e adolescentes. No final, há esgotamento mental, dificuldade de tomar decisões e procrastinação, sintomas semelhantes aos observados em ansiedade e depressão”, destaca Tazinaffo.

“Há diminuição da vontade de perseguir outras metas e manter a atenção em situações mais relevantes. É uma questão psicossocial, ligada ao excesso de estímulos”, afirma Roza.

“No caso da ansiedade, também vemos o fenômeno ‘Fomo’ (Fear of Missing Out, ou medo de perder algo em tradução literal), que é o medo de perder experiências, oportunidades ou eventos, impulsionado pelo uso excessivo das redes”, acrescenta Roza.

Redução de danos

Concentração, memória e problemas de humor – sintomas associados ao “brain rot” – podem melhorar com a redução da exposição às telas, como explica Tazinaffo.

“Como é um fenômeno recente, não sabemos quais serão os desfechos a longo prazo. Principalmente no caso de crianças e adolescentes, que são expostos a esses estímulos em um momento em que o cérebro ainda está em formação”, aponta Tazinaffo.

“Contra o problema, deve-se reduzir o tempo de tela, consumir conteúdo online mais interessante e ampliar o repertório de atividades prazerosas no dia a dia”, recomenda.

Sobre o tempo de tela, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) orienta que menores de dois anos não sejam expostos a telas. Entre dois e cinco anos, o uso não deve ultrapassar uma hora diária; entre seis e 10 anos, duas horas; e até três horas para o grupo entre 11 e 17 anos.

“Para todos, evite telas uma hora antes de dormir. Vale deixar o celular fora do quarto. E reduza a exposição a conteúdos tóxicos, como discursos de ódio e fake news”, aconselha Roza.

Tazinaffo indica evitar multitarefas – como trabalhar com aplicativos de mensagens ligados – e fazer pausas de 15 minutos para cada 45 minutos de uso de telas. “Mude de ambiente, coma algo, converse com alguém”, sugere.

Outra orientação é o chamado mindfulness digital, que usa técnicas de atenção plena para atividades online. “Antes de iniciar uma tarefa online, alongue o pescoço e as mãos, lembre-se do que irá fazer, deixe o celular longe e feche todas as janelas e abas do celular ou computador”, exemplifica Tazinaffo.

“Para completar, crie momentos e espaços livres do uso de celulares em família, como na hora do almoço e do jantar”, finaliza Tazinaffo.

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Crédito da imagem: MarsBars – Getty Images

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