“Mulheres na liderança: alcançando um futuro igualitário em um mundo de COVID-19” é o tema da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Dia Internacional da Mulher de 2021, celebrado em 8 de março. Na busca por igualdade de gênero, fim da violência e promoção de serviços de saúde que atendam às necessidades dessa população – pontos listados no texto que justificou a escolha da temática pela instituição – quem se destacou, no Brasil, foram as lideranças femininas de movimentos sociais.

“São mulheres de bairros ou de classes sociais que conhecem bem a realidade na qual estão inseridas, assim como os efeitos da pandemia sobre as suas comunidades”, justifica a integrante da Marcha Mundial das Mulheres e da Sempreviva Organização Feminista (SOF) Sônia Coelho. Ao lado da Gênero e Número, a SOF foi responsável pelo levantamento “Sem Parar – O trabalho e a vida das mulheres na pandemia”.

“Como as mulheres são maioria nos setores de serviços e autônomas, foram as que mais sofreram com o desemprego. A pandemia também agravou situações que já as afetavam, como miséria, insegurança alimentar, violência doméstica, a necessidade de cuidar de familiares e, consequentemente, os casos de depressão, ansiedade e outras doenças psiquiátricas”, resume Coelho.

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A própria militante atua em coletivos feministas de São Paulo e na organização da marcha, que funciona como uma rede, interligando mulheres de todo o Brasil. Entre as ações que participou, houve a compra de alimentos de agricultura familiar chefiada por mulheres para outras que estavam em situação de fome, arrecadação de cestas básicas e confecção de máscaras. “O que vimos foram variações de solidariedade. Mulheres que se disponibilizaram a ajudar outras cuidando dos filhos daquelas que trabalhavam na linha de frente, de idosos, na arrecadação de alimentos, entre outros”, compartilha.

Educação e solidariedade

Outra iniciativa de cunho social e feminino que procurou minimizar os efeitos colaterais da pandemia sobre mulheres foi a das Promotoras Legais Populares (PLPs).Trata-se de um curso gratuito, ministrado por diferentes entidades, para instruir mulheres sobre como acessar direitos. Assim, elas se tornam referência em suas comunidades, ajudando a identificar situações de violência doméstica, por exemplo. Uma das instituições que oferece o curso é a União de Mulheres (SP), fundada por Amelinha Teles.

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“A mulher, informada de seus direitos e de que existem politicas públicas para acolhê-la, recusa viver em situação de violência e injustiça. Ela ainda tem força para ser solidária ao encontrar companheiras nessas situações”, destaca Teles. A falta de acesso a um celular por mulheres vivendo violência doméstica foi um dos problemas identificados pelas PLPs nas periferias. “Houve mobilizações para garantir que algumas tivessem ao menos um aparelho com crédito para chamadas de emergência”, revela Telles.

Protagonismo

A primeira vítima de covid-19 no Rio de Janeiro, em março de 2020, foi uma trabalhadora doméstica idosa, infectada pelos patrões recém-chegados de viagem da Europa. O caso se tornou símbolo da vulnerabilidade do grupo. “Desemprego, risco de contaminação no transporte público ou no trabalho e cárcere privado foram situações que pioraram na pandemia”, relata a diretora da Federação Nacional das Trabalhadoras Doméstica (Fenatrad), Cleide Pinto.

As diaristas, remuneradas por faxinas avulsas e sem vínculos trabalhistas, foram especialmente afetadas pela perda de renda. “Monitorei as trabalhadoras da minha região e os relatos eram espantosos, com mulheres vendendo o pouco que tinham para terem o que comer”, lamenta Pinto, que coordena a regional de Nova Iguaçu (RJ).

Para reverter o problema em todo o Brasil, a entidade fez campanhas para conscientizar os patrões da necessidade das trabalhadoras permanecerem nas casas delas sem perda de salário. Foi oferecida uma formação por WhatsApp para explicar às filiadas sobre saúde na pandemia, segurança no trabalho, direitos sociais e trabalhistas. “Passamos quase um ano arrecadando e distribuindo cestas básicas para as mais necessitadas”, acrescenta a diretora.

Para Coelho, todas as iniciativas sociais lideradas e praticadas por brasileiras ainda fazem a diferença no enfrentamento da pandemia. “Sem políticas públicas específicas, esses coletivos femininos ocuparam um vazio deixado pelo estado”, conclui.

Veja mais:

Maria Homem fala sobre as múltiplas jornadas da mulher durante a pandemia

Atualizada em: 09/03/2021, às 15h54

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