Dirce Ferreira nunca sonhou em ser famosa. A enfermeira aposentada de 73 anos, de Uberlândia (MG), vivia uma vida pacata e quase offline, arriscando-se no Instagram apenas para mostrar para os amigos suas costuras e plantas. Foi quando, para animar a neta Mariana, que morava nos Estados Unidos, resolveu reproduzir as fotos e poses que esta havia feito em um ensaio fotográfico. “Minhas netas me incentivaram a publicar as imagens no Instagram e elas viralizaram. Não parava de chegar gente pedindo para me adicionar”, relembra. Dois anos depois, Dirce – ou Dona Dirce, como é conhecida – virou uma influenciadora digital, migrando também para o TikTok, rede preferida da chamada Geração Z. Segundo levantamento da GlobalWebIndex, 40% dos usuários do aplicativo estão na faixa etária de 16 a 24 anos.
“Quando eu vi o TikTok, achei uma rede muito animada. Adorava as dancinhas e pedi para as minhas netas para também participar”, relembra ela. Atualmente, Dona Dirce tem 185,5 mil seguidores no TikTok e 205 mil no Instagram. As duas redes possibilitaram que a aposentada interagisse com pessoas de diversas gerações. “Respondo mensagens pelo menos de 200 pessoas por dia, são muitas crianças e adolescentes, além de jovens, adultos e idosos. Eles elogiam, pedem conselhos, contam de problemas como depressão e desemprego”, revela.
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O tipo de conteúdo que ela mais gosta de produzir são vídeos imitando pessoas famosas, que geralmente comentam e retribuem o agrado. “O mais importante é vermos que os idosos estão incluídos e ocupando todos os espaços. Podemos estar em todos os lugares”, destaca. O sucesso a fez realizar um grande sonho: conhecer o mar. “Virei repórter por um dia da Fátima Bernardes e viajei para São Paulo. Aprovei, e visitei a praia. Nunca pude antes porque sempre trabalhei. Espero viajar mais após a pandemia”, afirma.
Avó ‘postiça’
“Os jovens são mais atualizados. Eles me escrevem com dicas de gravação, opinam sobre as roupas e também se emocionam. Dizem que eu lembro a avó deles”, conta a tiktoker de 94 anos, Zuleide Lima. Do Recife (PE), ela interage com 211,2 mil seguidores no TikTok e outros 60,4 mil no Instagram.“O publico no primeiro é bem novinho mesmo. Já, no segundo, falam comigo pessoas mais velhas”, relata.
A incursão pelas redes sociais começou na pandemia. “Jogava baralho, fazia palavras cruzadas, lia, mas ficava entediada. A minha neta percebeu e me convidou para brincar nas redes. Ganhei até um celular mais avançado para interagir melhor”, conta. “Acho uma forma de me manter atualizada, com a mente ativa e também de me distrair. A gente ainda inspira as pessoas e mostra que o idoso pode estar nas redes”, complementa ela, que aprendeu a usar gírias como “trends”, “viralizar” e “bombar”. “Meu post preferido foi a dancinha ‘ziriguidum’ que fiz um dia após ter alta da covid-19. Marcou uma nova fase para mim”, destaca.
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