O cinema pode ser uma ótima alternativa para discutir e entender o racismo, conforme aponta o cineasta e coordenador da TV Uneafro, Thiago Fernandes. “O audiovisual nacional possui grandes obras que abordam o tema por meio da dureza e da leveza que somente a arte proporciona”, explica.

“São filmes que apresentam formas de reivindicar direitos, de protestar e que ensinam a realidade que a população negra foi e é obrigada a passar por conta do racismo e da sua identidade no país”, destaca.

Fernandes aponta, porém, a necessidade de democratizar a produção nacional, seja com filmes que trazem mais profissionais negros envolvidos na sua produção como também que abordem questões étnico-raciais. “As plataformas de vídeo ainda necessitam diversificar suas obras, e precisamos de mais políticas públicas para que esses filmes cheguem às casas das pessoas”, pondera.

“Já para o público, é importante saber quem está por trás dessas produções e a intenção das cenas, ou seja, avaliar como a população negra é retratada. Se ela ainda é representada de forma inferior, como muitas vezes foi realizado no cinema mundial, e se os personagens possuem uma história dentro daquela narrativa, não retratados sem contexto”, ensina.

Confira abaixo sete filmes nacionais que ajudam a discutir e a compreender o racismo em suas diferentes manifestações na realidade do país, além de personalidades de resistência.

1) Alma no olho (1973)

Dirigido e estrelado por Zózimo Bulbul, a obra usa imagens para explorar metáforas relacionadas à escravização e liberdade. “Nesse clássico do cinema brasileiro, não é dita palavra alguma: o corpo do negro chega antes da fala. E é assim como na vida: a cor da pele se faz presente antes da pessoa negra falar”, avalia Fernandes.

2) Quanto vale ou é por quilo? (2005)

Filme de Sérgio Bianchi que faz uma analogia entre o tráfico de escravizados no século do período colonial e a exploração da miséria pelo marketing social atual. “A obra mostra a crueldade do tráfico negreiro e as consequências do racismo para a população negra após a escravização”, analisa o cineasta.

3) Café com canela (2017)

Dirigido por Glenda Nicácio e Ary Rosa, aborda a história de Margarida, que vive isolada após perder o filho. Uma ex-aluna sua, Violeta, aproxima-se para ajudá-la a recuperar os laços com a vida. “A obra apresenta uma mãe que está lindando com o luto do filho, assassinado pelo estado. Aborda a morte e o sofrimento de ver uma vida ceifada”, descreve Fernandes.

4) Chico Rei entre nós (2022)

O documentário da diretora Joyce Prado retrata a história do rei congolês Chico Rei, que foi escravizado em Minas Gerais e lutou pela liberdade dele e de seu povo. A obra explora as diversas consequências da escravização brasileira na vida da população negra nos dias de hoje. “Ao final, a gente se pergunta quem são os ‘Chico Reis’ que estão entre nós discutindo o racismo na contemporaneidade”, compartilha Fernandes.

5) Marte um (2022)

Dirigido por Gabriel Martins, retrata uma família negra da periferia de Contagem (MG) que busca realizar seus sonhos em um país que acaba de eleger um presidente cujo governo contrasta fortemente com seus valores e identidade. Enquanto isso, o jovem Deivinho sonha em ser um astrofísico.

“Uma coisa que o racismo tira da população negra é a oportunidade de sonhar, e o filme traz essa esperança para a juventude negra: o poder de querer ser quem você desejar ser”, resume Fernandes.

6) Xica da Silva (1976)

O filme do diretor Cacá Diegues e estrelado pela atriz Zezé Mota ilustra, por meio da história da ex-escravizada Xica da Silva e de seu relacionamento com o Comendador João Fernandes, uma complexa interseção entre raça, classe e gênero no período colonial do século XVIII.

7) Projeto Rappers: a primeira casa do hip hop brasileiro – história e legado (2023)

Com direção de Ildslaine Silva (Mc Sharylaine) e Clodoaldo Arruda, o documentário explora o encontro entre a juventude negra e periférica praticante de hip-hop e o feminismo negro nas ruas de São Paulo no final dos anos 1980, que levou à criação do Projeto Rappers.

A iniciativa deu voz a jovens afetados pelo racismo e exclusão social e criou um espaço de formação política e cultural. “Aborda a participação das intelectuais Sueli Carneiro e Sônia Nascimento nesse processo e como ele formou vozes da música e da política nacional, como Racionais MC’s, Xis, Mc Sharylaine, entre outros”, recomenda Fernandes.

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Crédito da imagem: Portra – Getty Images

Atualizado em 16/08/2024, às 18h32.

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