Dani Ribeiro trabalhava como consultora de estilo e atendia mulheres com um mesmo padrão de comportamento: acumulavam roupas sem uso e, mesmo assim, tinham a recorrente sensação de não ter opções para vestir, o que estimulava ainda mais o consumo. “Isso me acendeu uma luz: era preciso fazer esse volume de roupas incríveis circular. Foi essa provocação, junto à ideia de que não precisamos possuir tudo o que desejamos, que nasceu o armário compartilhado Roupateca, em 2015”, relembra.

Nesse mesmo período, Mariane Salerno teve contato com iniciativas internacionais, como a pioneira Rent the Runaway. Em 2016, ela abriu sua “biblioteca de roupas”, a Blimo. “Eu me identifiquei como consumidora e queria um guarda roupa compartilhado para usar”, justifica. O aluguel de roupas não é novidade, mas a proposta dos armários compartilhados, sim: a ideia é comprar menos e circular mais.

Tanto a Roupateca quanto a Blimo se encontram em São Paulo e funcionam por meio de taxas mensais que permitem aos assinante, sobretudo mulheres, alugarem determinadas quantidades de peças. Para Salerno, esse exemplo de economia colaborativa é necessário por uma questão de sustentabilidade: “A indústria têxtil gasta água e recursos naturais, é poluidora – principalmente em relação à tintura – e produz peças em alta escala. Ao final, tem o problema do descarte do tecido. Este pode ser reutilizado, mas a reciclagem ainda não é uma realidade”.

Daniela Ribeiro e Flavia Nestrovski, sócias da Roupateca (crédito: acervo pessoal)

Cultura do compartilhar

Para Ribeiro, o guarda-roupa colaborativo ajuda a criar uma cultura do compartilhamento entre as usuárias, que ultrapassa o campo da moda.“As pessoas se questionam sobre sua relação com o consumo, já que a indústria da moda é violenta em bombardear desejos e necessidades”, explica.“Ao final, o que vemos é essa usuária aderindo a outras iniciativas sustentáveis, em diferentes campos da vida. É como se virasse uma chave”, destaca. Além da sustentabilidade e da mudança de paradigmas, há ainda um inegável benefício econômico.

“Com o valor da assinatura anual, a usuária compraria dez peças. O mesmo montante garante o acesso a 200 itens do acervo. Ou seja, uma pessoa sozinha não terá essa diversidade de opções”, calcula Salerno. Segundo as empresárias, o modelo costuma atender mulheres de 20 a 60 anos, de diferentes tipos físicos e das classes A, B e C. “Porém, ainda é necessário popularizar e torná-lo mais acessível”, enfatiza Ribeiro.

Reinvenção na pandemia

O primeiro momento da quarentena contra a epidemia do coronavírus (covid-19) impactou esse modelo de consumo colaborativo. “Com confinamento e trabalho home office, houve menor necessidade de roupas. Isso mudou no segundo semestre, quando vimos um maior autocuidado das usuárias em se apresentar em reuniões virtuais ou em encontrar familiares e amigos escolhidos para compor sua microbolha”, analisa Ribeiro.

“No segundo semestre, a perda de renda de pessoas empregadas também trouxe novas adeptas ao armário compartilhado”, adianta Salerno. A própria estrutura dos negócios mudou, passando pelo fechamento do acervo, a escolha de peças online e a entrega por malote. “A higienização também se tornou mais rigorosa”, conta a fundadora da Blimo.

Para quem deseja conhecer melhor um armário compartilhado, Ribeiro e Salerno incentivam a experimentá-lo sem medo. Além disso, indicam que homens e mulheres passem a emprestar mais roupas para amigos e familiares. “Se você precisa de um vestido para uma festa, pergunte a uma amiga antes de comprar”, recomenda Salerno. “O empréstimo é libertador, além de economicamente inteligente”, reforça Ribeiro.

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