Uma preocupação da direção e dos professores da Escola Estadual Hebe Camargo, em Pedra de Guaratiba (RJ), no início da pandemia de covid-19 era a evasão escolar. O problema, já comum na rede pública, poderia ser agravado pelo isolamento social e, especialmente, pela exclusão de alunos do ensino remoto, fosse por falta de equipamentos, conexão à internet ou um espaço em casa para estudo. O empenho e a criatividade do corpo docente, no entanto, foram decisivos para que a escola que abriga o projeto Dupla Escola tivesse um número baixo de abandono nesse período, com a evasão de apenas dois alunos.
Em 2020, a escola adotou o ensino remoto por meio da plataforma Google Classroom, mas muitos estudantes não tinham meios de acompanhar as aulas. “Perguntei no início do ano como era a situação de cada aluno e as respostas foram as mais variadas possíveis. Alguns não tinham celular ou computador, ou tinham que dividir com a família ou, ainda, não tinham pacote de dados suficiente para acompanhar as videoconferências”, conta o professor de matemática Luiz Fernando Cruz. Assim, os docentes abriram vários canais de comunicação com os alunos: de conversas pelo WhatsApp, postagem de podcasts na plataforma a trabalhos entregues por e-mail e impressos.
A escola passou a fazer busca ativa dos alunos que ficavam ausentes por um período e a disponibilizar também horários em que os alunos poderiam fazer agendamentos para usar individualmente os computadores da instituição. “Gravávamos as aulas e disponibilizávamos para que eles pudessem assistir em outro horário se fosse necessário”, lembra a professora Leila de Souza Silva, também de matemática. Outra tática para incluir os estudantes foi oferecer materiais impressos que eles poderiam buscar na escola.
No período, foram adotadas, ainda, formas de avaliação alternativas: “No lugar de testes e provas, foram propostas atividades como exercícios, pesquisas, formulários, debates e dinâmicas online”, conta a professora do ensino técnico Jéssica Coimbra.
Ensino técnico remoto
Para o professor Guilherme Veras, que leciona física, matemática, redes ópticas, redes HFC e sistemas sem fio, o desafio foi seguir com as aulas técnicas em um modelo não-presencial. “A falta de práticas de laboratório foi um grande entrave. Resolvi esse problema com simuladores online relativos a cada disciplina”, conta. Ele encontrou essas ferramentas de uso gratuito na internet. Elas funcionam no próprio navegador e ele apresentava aos alunos compartilhando a tela nas aulas por videoconferência. “Utilizei para explicar refração, reflexão, transmissão em espaço livre, ondas e outros conteúdos”, lembra.
O simulador foi apenas uma das ferramentas usadas pelos docentes para motivar os alunos. Eles também criaram projetos de cultura e propuseram debates. “Abrimos um espaço para os alunos exporem coisas criativas que tivessem feito durante o confinamento. Fizemos também debates, dinâmicas e projeto de encerramento do ano de 2020. Mantivemos online o que fazíamos na disciplina de projeto de vida, que era trabalhada presencialmente no ensino médio”, destaca Cruz. Ele lembra também da eleição para o grêmio estudantil que foi feita de forma digital em 2020.
Aprendizados que permanecem
Para Silva, alguns hábitos desse período devem se manter. “Acho que as ferramentas que usamos nesse momento podem permanecer como alternativas interessantes na volta do ensino presencial com a possibilidade de deixar material complementar online e o aluno poder se comunicar pela plataforma”, acredita. Coimbra concorda: “Esses instrumentos apresentam formas de diversificar o processo de aprendizagem e devem permanecer”. Cruz avalia que as reuniões remotas também foram até mais produtivas que as presenciais.
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