Black Mirror é uma série britânica de cinco temporadas, na qual contos de ficção científica narram como a tecnologia interfere nas relações sociais. Com classificação etária de 16 anos, a produção pode ser trabalhada de forma interdisciplinar no 2º e no 3º ano do ensino médio.

“Cada episódio tem um fim em si mesmo, sendo desnecessário acompanhar uma temporada inteira para entender a história. Isso ajuda as disciplinas que têm pouca carga horária semanal”, explica o doutorando em geografia Daniel Moreira de Souza. “Charlie Brooker, o criador da série, diz que ela se passa em futuro do pretérito, ou seja, em um futuro distópico mas com elementos da atualidade. Isso cativa os alunos, que são próximos da tecnologia”, destaca ele, que é autor do artigo “A análise fílmica e o ensino da geografia: Black Mirror e a espetacularização da violência”.

Confira também: Plano de Aula – Black Mirror: Episódio 15 milhões de méritos

Souza trabalha em classe o episódio ‘White Bear’, da 2ª temporada. Ele narra a trajetória de uma criminosa em parque prisional que se torna protagonista de um espetáculo violento. A partir do episódio, o professor introduz categorias da geografia como espetacularização da violência e território.

“A obra traz a ideia do parque prisional como um território e permite refletir sobre como ele é construído, assim como as diferenças entre espaço real e virtual, criado pela inserção de imagens. Com isso, podemos pensar fluxos, redes e globalização”, explica. “Permite ainda refletir como as pessoas criam territorialidades ou se desterritorializam, assim como o espaço virtual como prolongamento do real e não como um outro espaço. Ou seja, somos os mesmos dentro e fora das redes sociais, não personagens. As ações executadas nelas são um anexo do espaço real”, ressalta.

O professor também apresenta como a fotografia, o enquadramento e o movimento de câmera do episódio – que simula um aparelho celular – reforçam a ideia de violência. “Nas discussões com a classe, um aluno apontou que o celular pode ser perigoso se não soubermos manuseá-lo. Isso permitiu resgatar o conceito de Milton Santos de objeto técnico. Ou seja, que este celular inserido no espaço geográfico altera as relações”, conta.

História e memória

O professor de História Walter Marcelo de Souza Ramundo utiliza o episódio “Toda a sua História”, da 1ª temporada, para trabalhar as relações entre História e memória, traçando reflexões éticas e existenciais sobre o uso da tecnologia. No epidódio, os personagens têm um grão implantado que registra suas vivências a partir dos seus pontos de vista.

“Já iniciei o ano letivo com esse episódio, que auxilia na compreensão do trabalho do historiador, suas fontes e questões sobre memória, como: compreender as relações entre passado e presente nas motivações das investigações, a importância das fontes como elementos fundamentais para se chegar à ‘verdade’ e as decisões a serem tomadas a partir desse conhecimento”, compartilha. “A seletividade da memória e as intenções sobre as narrativas sobre o passado também são discutidas”.

“Refletimos sobre as vantagens e desvantagem de ‘saber tudo sobre o passado’ e costumo solicitar textos sobre como seria a ciência histórica caso tivéssemos os grãos, e se eles optariam em colocar ou não o grão”, completa o professor. Ramundo é autor do artigo “Black Mirror: Uma construção distópica na imersão presentista”, do e-book gratuito “A Educação em Séries: temas e tramas”, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPI).

Exposição nas redes

Já o episódio “Queda Livre”, 3ª temporada, foi usado pela doutora em Educação e Artes Visuais Rosana Fachel de Medeiros para discutir as interações dos adolescentes de Canoas (RS) nas redes sociais. Este apresenta a história de Lacie, que precisa de avaliações positivas nas redes sociais para acessar determinados locais e serviços.

“ De forma exagerada e caricaturada o episódio retrata muito bem a nossa época e cotidiano. Uso consciente das redes sociais e cuidados com postagens que exponham seus corpos ou dados pessoais podem ser abordados e ilustrados a partir de experiências vividas pelos próprios estudantes”, propõe ela, que assina o artigo “Queda livre” e as interações dos adolescentes nas redes sociais” (2020).

“Black Mirror estimula nos alunos o olhar crítico frente às suas postagens e como interagem nas redes. Perguntas disparadoras para os alunos podem ser: Como os jovens querem ser vistos por seus pares? As pessoas de fato são como se mostram nas redes? Por que a opinião do outro é tão importante?”, lista.

Mestre em Letras e Professora de Língua Portuguesa, Nágila Sana criou uma disciplina eletiva sobre a série quando lecionava na Escola Estadual Amélio de Carvalho Baís, em Campo Grande:“Indico o episódio Engenharia Reversa, da 3ª temporada, que traz a ideia de manipulação do discurso de ‘caça aos inimigos’ para legitimar o extermínio de pessoas ou de grupos sociais. Também mostra o discurso do poder e manipulação da burguesia sobre os mais fracos ou dominados.”

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