As queimadas criminosas relacionadas ao desmatamento para a agropecuária extensiva provocam poluição atmosférica. O assunto pode ser trabalhado nas aulas de ciências, no ensino fundamental, e de química, no ensino médio, com foco em educação ambiental.
Enquanto nos anos iniciais do ensino fundamental pode-se introduzir o conceito de poluição usando o problema como exemplo, nos anos finais os efeitos dessa poluição podem ser destacados.
“Dióxido de carbono (CO₂) contribui para o aquecimento global; monóxido de carbono (CO) pode causar intoxicação ao interferir no transporte de oxigênio; óxidos de nitrogênio irritam vias respiratórias e ajudam a formar ozônio; e compostos sulfurados causam problemas respiratórios e acidificam o solo e a água”, lista o mestre em química e professor da rede estadual do Espírito Santo Otávio Marcone Gonçalves.
“Há ainda erosão do solo, contaminação de lençóis freáticos, perda de biodiversidade, aquecimento global e impactos econômicos: a redução da fertilidade do solo prejudica a agricultura”, exemplifica o doutor em química orgânica e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) José Ribeiro Gregório.
Ainda para o fundamental II, a docente da pós-graduação em educação em ciências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Daniele Trajano Raupp recomenda abordar como as queimadas afetam o ciclo do carbono e identificar, com os alunos, as regiões do Brasil mais afetadas.
“Já no ensino médio, é possível aprofundar nas reações químicas e análise de dados. Podemos analisar os compostos químicos gerados e reações químicas envolvidas na combustão por meio de experimentos simples, que simulem essas interações”, sugere Gonçalves. “Também podemos discutir as razões socioeconômicas e ambientais que levam à prática das queimadas”, acrescenta Raupp.
Química inorgânica
Nas aulas de química do ensino médio, Gonçalves recomenda estudar os elementos químicos comuns nas emissões provenientes das queimadas, como carbono (C), oxigênio (O), nitrogênio (N) e enxofre (S). “Eles estão em diferentes compostos, como dióxido de carbono (CO₂) e monóxido de carbono (CO), óxidos de nitrogênio e compostos sulfurados”, justifica.
Mestra profissional em química e professora da rede estadual do Rio Grande do Sul, Gislaine Penha Rossetto lembra que a temática da poluição atmosférica permite abordar conteúdos curriculares como estados e propriedades da matéria, forças intermoleculares e propriedades dos gases, assim como discutir a composição química e a importância da atmosfera.
“O conceito de reações de neutralização pode ser explorado ao tratar da formação da chuva ácida. E o estudo das funções inorgânicas, especialmente os óxidos, relaciona-se aos principais gases da poluição atmosférica”, pontua Rossetto, que é autora da dissertação “Unidade temática sobre poluição atmosférica: uma estratégia baseada em metodologias ativas para o Ensino Médio” (2020).
“A poluição atmosférica está relacionada a conceitos da química inorgânica, como a teoria ácido-base de Brønsted-Lowry, que explica a formação de ácido sulfúrico (H₂SO₄) a partir de poluentes como o dióxido de enxofre (SO₂), gerando chuva ácida”, adiciona Gonçalves.
Ele explica que reações de oxidação-redução também ajudam a entender a interação dos poluentes com o meio ambiente, como a conversão de CO em CO₂. Em alta concentração na atmosfera, este último estimula a retenção de calor e contribui para o aquecimento global.
Conheça, a seguir, cinco atividades práticas para trabalhar a poluição atmosférica vinda de queimadas.
1) Análise da água da chuva em períodos de queimadas
A “chuva preta” ocorre quando as gotas de chuva se misturam com a fuligem dos incêndios de biomas. “É possível coletar amostras de água da chuva em diferentes momentos, especialmente após queimadas. Os alunos podem observar e comparar a cor e turbidez da água, além de procurar partículas em suspensão”, sugere Gonçalves. Além disso, o professor recomenda analisar a água com tiras de teste de pH. Geralmente, o pH normal da água da chuva é 5,6, e ela é considerada ácida em pH menor que 5.
2) Queima de materiais
Gonçalves sugere realizar experimentos de queima de materiais, a partir dos quais os alunos podem observar e registrar os gases emitidos durante a combustão de diferentes substâncias. “Isso pode incluir a comparação de materiais orgânicos e inorgânicos, discutindo a formação de poluentes como o monóxido de carbono e o dióxido de carbono”, afirma.
Autor do produto educacional “Investigando a qualidade do ar com a atividade experimental problematizada (AEP): um estudo da emissão de pó preto na grande vitória (ES). Analisando as emissões de partículas sólidas na região metropolitana de vitória (ES), Gonçalves propôs a produção de acetileno por meio da reação entre carbeto de cálcio e água, resultando na liberação de hidróxido de cálcio e acetileno.
Para evidenciar a reação, foi adicionada fenolftaleína a um béquer com água, que mudou de incolor para rosa ao adicionar o carbeto, indicando a formação de uma base. A presença de bolhas confirmou a produção de acetileno, que é altamente inflamável. Para demonstrar a combustibilidade do acetileno, um fósforo aceso foi aproximado da solução, gerando fumaça. Toda a atividade foi realizada em laboratório escolar e com supervisão do docente.
3) Medição da qualidade do ar
Atividade mais complexa por exigir um sensor de qualidade de ar. É preciso posicioná-lo no local escolhido entre 15 e 30 minutos para obter uma leitura e anotar os valores de poluentes medidos. “Essa prática não apenas fornece dados reais, mas também estimula discussões sobre a qualidade do ar na comunidade”, justifica Gonçalves.
“Os professores também podem buscar dados locais sobre a qualidade do ar e sobre a poluição na região”, sugere.
4) Discutir casos reais de queimadas
Gonçalves recomenda debater com a classe casos reais de queimadas, explorando notícias locais e nacionais. Em foco, devem estar as causas da queimada, as consequências para a biodiversidade do local afetado, se há leis sobre o tema e engajamento da população contra o problema.
“Ao final, sugira um projeto de conscientização, no qual os alunos criem materiais informativos ou campanhas sobre os efeitos das queimadas”, completa.
5) Criar representações gráficas
Rossetto indica duas atividades nas quais os alunos podem criar representações visuais sobre o assunto.
Em “árvore de problemas”, eles construirão uma árvore na qual o tronco seria o problema, as causas seriam as raízes e as consequências seriam os galhos e flores. “O objetivo é que o aluno compreenda o problema da poluição e identifique suas causas e efeitos”, explica.
A segunda possibilidade é construir um infográfico, que combina imagens, ícones e gráficos com texto para facilitar a compreensão de informações. “O resultado pode ser publicado nas redes sociais da escola”, sugere.
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Crédito da imagem: Abstract Aerial Art – Getty Images