O crítico literário e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Alcir Pécora, costuma descrever a escritora Hilda Hilst como um “lobo solitário da cena literária brasileira”. Falecida em 4 de fevereiro de 2004, aos 73 anos, a autora dedicou praticamente sua vida inteira à arte – muitos desses anos vivendo na companhia de amigos no sítio Casa do Sol, em Campinas. Após a publicação de seu primeiro livro, “Presságio”, de 1950, foram mais de cinquenta anos escrevendo poesia, prosa de ficção, teatro e crônica.

A obra da escritora integrou um projeto do professor estagiário Elivelton Magalhães com alunos do 3° ano do ensino médio na Escola Estadual Ayrton Senna da Silva, em Boa Vista (RS). Sob a supervisão da docente do curso de letras da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Sony Ferseck, ele apresentou à turma os poemas musicalizados por Zeca Baleiro para a obra “Ode descontínua e remota para flauta e oboé, de Ariana para Dionísio”.

“Hilda escreveu muitíssimo e sempre se reinventou. As temáticas da sua obra giram em torno do amor, do riso, da morte, da procura de Deus, entre outros. Tratava desde problemas metafísicos até a hipocrisia social, política e os estados extremos do ser humano”, apresenta Magalhães.

Para se aproximarem da autora, os alunos fizeram um seminário em grupo no qual apresentaram informações sobre a sua vida e sua obra. Eles ainda escolherem um poema de seu gosto para analisar e, ao final, produziram um vídeo sobre ele.

“Foi uma maneira de divulgar a poesia de Hilda para quem não conhece. Os vídeos foram gravados nas câmeras dos estudantes e ficaram bastante criativos”, conta o professor estagiário.

Desconstruindo estereótipos

Hilda, contudo, ainda não é uma autora muito lida no Brasil. Sua obra não é leitura obrigatória no currículo escolar tradicional e não costuma figurar em questões dos grandes vestibulares do país. De acordo com Ferseck, o projeto de Magalhães foi importante para estreitar os laços da turma com a escritora e ainda refletir sobre questões de gênero.

“Ela foi uma mulher que escreveu poesia. Pode parecer um assunto de menor relevância, mas não é. Sua obra ajuda os alunos a perceberem como o machismo faz com que poucas autoras e poetas figurem no cenário literário brasileiro. Isso ajuda a desestigmatizar, também, a poesia feita por mulheres, já que elas podem e devem versar sobre qualquer tema, sem que caiam no senso comum de que a escrita delas é piegas ou menos significativa.”

“Divulgar a obra de Hilda Hilst, particularmente em Roraima, é um grande impulso para que ela seja mais lida. A cultura leitora do estado ainda está em formação, o que acaba sendo um ponto positivo para que ela fique em pé de igualdade com autores considerados mais conhecidos”, enfatiza a professora.

Uso em sala de aula

Diferentes livros e poesias de Hilda Hilst podem ser utilizados com os alunos. Magalhães indica “Júbilo, memória, noviciado da paixão”; “Rútilos”, “Cascos e Carícias” e “Trovas de muito amor para um amado senhor” para os anos finais do ensino fundamental e os primeiros do ensino médio. “Os poemas musicalizados de ‘Ode descontínua’ são uma boa indicação para trabalhar a escritora nessa primeira etapa de ensino citada. Já para os mais velhos, sugiro ‘O rato no muro’, as crônicas de ‘Cascos & Carícias’ e os poemas de ‘Júbilo’”, complementa.

Quanto às temáticas, as obras de teatro da escritora apresentam um caráter de denúncia e crítica à ditadura militar. “A desigualdade social aparece em alguns de seus escritos, como nas crônicas de ‘Cascos & carícias e outros escritos’. Na sua poesia, podemos encontrar temas relacionados ao amor, como em ‘Amavisse’, e à morte em ‘Da morte. Odes mínimas’, entre outros”, conta.

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Atualizada em 6/2/19, às 15h40.

Crédito da imagem: Jose Luis Mora Fuentes/Acervo Instituto Hilda Hist

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