Os meses de dezembro e janeiro são bons momentos para elaborar o planejamento escolar e refletir sobre o ano letivo que vai se iniciar. “Ele é o ato de organizar as atividades pedagógicas e de pensar o processo de ensino e aprendizagem tendo em vista os fins a que se espera”, resume o professor do mestrado em educação da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Paulino José Orso. “Trata-se de antecipar o futuro. Partindo da realidade existente, ele objetiva criar condições para atingir determinadas metas”, acrescenta.

Segundo o doutor em educação e autor do livro “Planejamento: projeto de ensino-aprendizagem e projeto político-pedagógico”, Celso dos Santos Vasconcellos, o momento é uma oportunidade para resgatar as boas práticas realizadas pela instituição de ensino descartar o que não deu certo anteriormente.

“A escola faz coisas boas, que muitas vezes acabam no ano seguinte porque não se apropria delas. Então, o planejamento é um espaço para o que precisa ser sistematizado. Para isso, deve-se aproveitar para olhar a prática escolar com distanciamento, como um marciano”, brinca.

Os pontos acordados deverão servir de base para os professores elaborarem, no campo individual, os seus planejamentos didáticos. Além disso, o documento deve ser acompanhado nas reuniões semanais.

“É fundamental entendê-lo como um processo em movimento. Ele leva em conta o que foi planejado, executa e avalia, podendo haver mudanças de acordo com as necessidades que aparecerem ao longo do ano”, pontua.

PPP como bússola

Para produzir o planejamento escolar, é necessário retomar o projeto político pedagógico (PPP). “O PPP pode ser de curto, médio ou longo prazo, mas geralmente é um olhar amplo para os objetivos da escola em um período de quatro a cinco anos. Assim, o planejamento seria o PPP em ação, o seu desdobramento. Não é possível elaborá-lo sem esse documento prévio”, sintetiza Vasconcellos.

“O PPP deve ser usado como referência porque trás o objetivo (sonho) e um diagnóstico da realidade (a distância para atingir esse sonho). Por sua vez, o plano de ação é o que fazer para reduzir a distância para atingir esse propósito”, exemplifica.

De acordo com Orso, um diagnóstico e objetivos precisos colaboram para a elaboração do documento. “O plano de ação não começa ou termina em si mesmo, mas pressupõe uma finalidade, um ‘para além’, um projeto, uma utopia, metas a serem perseguidas”, contextualiza.

“Ele deve sair da realidade. Para tanto, sua produção é precedida pela realização de um diagnóstico. De posse deste, surgirão os problemas, as questões e as necessidades a serem respondidas. Isto colocará o que e o como proceder”, orienta.

Por sua vez, Vasconcellos recomenda considerar elementos da realidade interna e externa da escola. “Da interna, cito os processos metodológicos; das disciplinas; a relação entre corpo docente e discente e com os exames externos e a sua mantedora; as formas de avaliar; os perfis do professor, estudante e da gestão daquela instituição de ensino e as relações interpessoais”, lista.

Já os dados importantes da realidade externa costumam ser encontrados no marco situacional presente no PPP. “Contudo, incluiria no planejamento escolar o conhecimento da realidade do aluno, inclusive com os educadores visitando suas casas. Quando isso acontece, ele pode ver que o jovem que ele tanto pegou no pé vive em uma situação precária. Isso sensibiliza: em uma situação de crise, pode levar o professor a tentar estimular e apoiar esse estudante, ao invés de excluí-lo ou ignorá-lo”, garante.

Por retomar o PPP, Vasconcellos recomenda que o planejamento escolar também tenha um caráter democrático, com participação dos docentes, funcionários e também de representantes de pais e alunos em algum momento da sua elaboração. Ao final, o pesquisador enxerga no documento uma oportunidade para professores e gestão “saírem do piloto automático e pensar uma nova instituição de ensino”.

“O modelo tradicional do que consideramos escola é reproduzido sem muita reflexão. Não teria problema se ele fosse inclusivo, mas não é. A escola brasileira de hoje é formatada para classificar e excluir os alunos. Por isso, precisa ser revista”, destaca.

Veja mais:
Como elaborar ou revisar o Projeto Político Pedagógico?
Como transformar o PPP em um documento vivo?
Escola é transformadora quando se posiciona contra desigualdades

Crédito da imagem: lorenzoantonucci – iStock

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