Desigualdade, intolerância e violência são marcas que atravessam a realidade brasileira nos dias de hoje. O país possui 50% dos trabalhadores vivendo com menos de um salário mínimo (IBGE); tem as mulheres negras como as maiores vítimas do feminicídio (Mapa da Violência); uma denúncia de intolerância religiosa a cada 15 horas (Secretaria dos Direitos Humanos) e um entre dez alunos vitimado pelo bullying (PISA).

Esses dados, mesmo parecendo dispersos, manifestam-se na escola e exigem dos professores uma reflexão sobre o sentido da educação, de acordo com a coordenadora do programa Escolas Transformadoras no Brasil, Raquel Franzim. Ela foi uma das palestrantes na mesa redonda “O contexto atual e o sentido de uma educação transformadora”, ocorrido em São Paulo no dia 11 de abril de 2018.

Participaram da roda de conversa as educadoras Ana Elisa Siqueira, diretora da EMEF Desembargador Amorim Lima; Diogo Basei, diretor do Colégio Viver; a coordenadora de pesquisa e extensão da Faculdade Sumaré, Luciana Alves; Raquel Franzim, co-coordenadora do programa Escolas Transformadoras no Brasil, e Maria Elena de Abreu Vercesi, coordenadora pedagógica da Faculdade Sumaré, da esq. para a dir. (crédito: divulgação/Fernanda Miranda)

 

“É fundamental olhar para o trabalho educacional na perspectiva de enfrentamento das diferenças. Como disse Paulo Freire, a educação é transformadora quando não reproduz desigualdades. Assim, se for para educar de modo a manter essas condições, não teremos uma educação que transforme”, analisa. “Isso implica, por exemplo, pensar em uma formação de professores que olhe para isso”, complementa.

Opinião semelhante possui a coordenadora de pesquisa e extensão da Faculdade Sumaré, Luciana Alves. “Não é exigir que a escola dê conta de tudo, mas pensar como transformar seu cotidiano e se posicionar frente a essas questões”, aponta.

Do PPP à estrutura

Pensar em uma instituição de ensino mais democrática e participativa foi o que motivou a educadora Ana Elisa Siqueira em seu trabalho na escola municipal de ensino fundamental (EMEF) Desembargador Amorim Lima. Durante o encontro, ela relatou sua experiência no local.

“A escola era igual a tantas outras. Sua estrutura era cinza, muito escura e cheia de grades. Pode parecer algo simples, mas se você pensar no aluno que está lá todos os dias, isso ajuda a moldar sua identidade”, revela. “Quando perguntei o porquê daquela cor, uma funcionária respondeu que era para ‘disfarçar a sujeira’. Fiquei pensando, simbolicamente, nas diversas situações que se apresentam na escola e que optamos por não ver”, afirma.

Os professores optaram por pintar as portas de laranja e retirar as grades do pátio. No dia seguinte, uma aluna veio agradecer. “Disse que estava feliz porque eles não eram criminosos nem loucos para ficarem entre grades”, revela.

Após ter contato com a escola da Ponte, a diretora escolheu derrubar paredes e transformar as salas pequenas em grandes salões, onde alunos e professores pudessem trabalhar juntos. “A intenção era combater o modelo de estudantes sentados em fileiras e apenas aulas expositivas. Eles passaram a se sentar juntos e a trabalhar mais em grupos. Colaborar, trabalhar de forma democrática e participar são coisas que se aprende, e devem ser conteúdos tanto quanto as disciplinas”, aponta.

Comunidade participativa

Outra mudança na EMEF foi convidar a comunidade a participar da escola não apenas na condição de ouvinte, mas com poder de transformação. “Nos mostraram que muito do que estava escrito no nosso Projeto Político Pedagógico (PPP) não era aplicado na prática. Além disso, nós não sabíamos como seria essa nova forma de ensino. Ela foi construída em conjunto”, relembra.

Para a educadora, um desafio foi o fato de os professores – assim como em todas as escolas da rede pública – chegarem à EMEF por concurso público e não a escolherem por conta do seu projeto pedagógico ou outras razões. “A participação da comunidade em querer uma instituição de ensino participativa foi fundamental para que a ideia continuasse”, explicou. Outra questão foi o diálogo com a secretaria municipal. “Muitas escolas preferem não mudar por medo, mas a Lei de Diretrizes e Bases dá autonomia para a escola pensar seu PPP”, revela.

Por fim, o currículo formal da escola ganhou mais aulas de artes e momentos para pensar a cultura brasileira. “Quando os alunos estão no teatro, na capoeira ou em aulas de danças típicas, eles têm contato com as origens do país, com seus contextos e realidades”, justifica.

egenda: Para discutir este tema, participam desta roda de conversa as educadoras Ana Elisa Siqueira, diretora da EMEF Desembargador Amorim Lima; Diogo Basei, diretor do Colégio Viver; Maria Elena de Abreu Vercesi, coordenadora pedagógica da Faculdade Sumaré; e Raquel Franzim, co-coordenadora do programa Escolas Transformadoras no Brasil.

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