Há dez anos morria Tomie Ohtake (1913-2015), artista nipo-brasileira conhecida por sua contribuição para a arte abstrata no Brasil, por meio da exploração de formas geométricas, cores vibrantes e trabalhos em pinturas, esculturas e murais.
A obra da artista pode ser apresentada a alunos de todas as etapas da educação básica em diálogo com conteúdos curriculares. “Nos anos iniciais do ensino fundamental, sua obra pode aprofundar a compreensão dos estudantes sobre as linguagens verbal e não verbal”, aponta a superintendente de educação do Instituto Tomie Ohtake Lilian Kelian.
“Nos anos finais do fundamental, é preconizado situar as manifestações artísticas e culturais em seus contextos históricos e geográficos. Tanto a obra como a vida de Tomie Ohtake convidam a conversar sobre a imigração japonesa, o papel social da mulher e a inserção da obra na história da arte contemporânea e brasileira”, acrescenta.
Para completar, no ensino médio pode-se investigar com os alunos os processos de criação na arte contemporânea. “Estabelecendo relações entre arte, mídia, política, mercado e consumo”, aponta.
A seguir, confira uma entrevista com Kelian sobre como apresentar a obra da artista em sala de aula. Os professores podem ainda acessar a publicação gratuita “Tomie: sem título”, do Instituto Tomie Ohtake, que traz propostas educativas para trabalhar o tema.
Quem foi Tomie Ohtake e qual sua importância para as artes?
Lilian Kelian: Tomie Ohtake foi uma importante artista do século XX que marcou a arte brasileira. Nasceu em Kyoto (Japão), em 21 de novembro de 1913, e mudou-se para o Brasil em 1936, onde viveu até seu falecimento, em 12 de fevereiro de 2015. Sua obra abrange pinturas, gravuras, esculturas, obras públicas e cenografia, expostas no Brasil e no mundo.
Por que é importante os alunos conhecerem a artista e sua obra?
Kelian: Há conhecimentos curriculares que os estudantes podem aprender estudando a artista e sua obra. Primeiro, a trajetória e história de vida dela permitem pensar a imigração japonesa e a condição das mulheres no século XX. Em segundo lugar, a poética da artista ajuda a pensar a linguagem das artes visuais. Por fim, é possível abordar a história da arte contemporânea brasileira.
Quais características da sua obra podem ser destacadas com a classe?
Kelian: A abstração, o uso de diferentes linguagens artísticas como a pintura, a gravura e a escultura e o interesse pelo espaço urbano como campo de ação e intervenção.
O que pode ser explorado sobre a abstração na obra da artista?
Kelian: De que modo o uso de formas e cores transmitem ideias e emoções. A arte abstrata fortalece a experiência de quem vê, a experiência sensível, do tempo do olhar, do encontro com os elementos que constituem a obra: formas, cores e ritmos, transparências, camadas etc. E essa experiência acontece de forma diferente e única para cada pessoa, levando a pensamentos, sensações e concepções distintas. Há uma infinidade de caminhos, todos igualmente válidos e possíveis. Além disso, a partir da abstração na obra da artista, é possível problematizar o conceito de representação. Ou seja, a pintura figurativa versus a pintura abstrata, e como essa discussão aparece na história da arte.
Quais outros temas presentes na obra de Tomie Ohtake que podem ser abordados em aula?
Kelian: Há a relação com o espaço, por exemplo, abordando as obras públicas (esculturas, murais, painéis, pinturas em empenas de prédios) que trazem a cidade como campo de ação e investigação da artista. A gravura como linguagem artística na obra da artista. A arte contemporânea no Brasil: contextualizar Tomie Ohtake dentro do movimento de arte brasileira trazendo sua singularidade. Trabalhar a biografia de Tomie Ohtake, abordando a sua trajetória como imigrante japonesa no Brasil e como isso influenciou a sua arte. A relação da pintura da artista com a dança.
Quais as orientações para apresentar sua obra nos anos iniciais do ensino fundamental?
Kelian: Pode aprofundar a compreensão dos estudantes sobre a linguagem. Os estudantes podem desenvolver suas produções a partir dos elementos visuais que identificam na obra da artista, o que pode contribuir para o desenvolvimento de habilidades relacionadas tanto à linguagem verbal quanto às linguagens não verbais.
E nos anos finais do ensino fundamental?
Kelian: Nessa etapa, é preconizado situar as manifestações artísticas e culturais em seus contextos históricos e geográficos. Tanto a obra como a vida da Tomie Ohtake convidam a conversar sobre a imigração japonesa, o papel social da mulher e a inserção da obra na história da arte contemporânea e brasileira.
E no ensino médio?
Kelian: Pode-se pesquisar os processos de criação nas linguagens das artes visuais e, em particular, os processos de criação na arte contemporânea. Pode-se abordar como as manifestações artísticas e culturais se apresentam na contemporaneidade, estabelecendo relações entre arte, mídia, política, mercado e consumo.
Quais propostas de atividades podem ser realizadas?
Kelian: Convidar os estudantes a observarem e apreciarem as obras da Tomie é um ponto de partida neste processo de sensibilização com a sua poética. Além de momentos de pesquisa e estudo sobre a vida e a obra da artista, desenvolver momentos de ateliê, em que estudantes explorem as diferentes materialidades e técnicas, são uma maneira de investigar o trabalho da artista. Atividades de pintura para explorar como os movimentos deixam marcas no mundo, sejam pinceladas, rasgos, cortes, torções etc. Atividades de gravura, monotipia e técnicas de impressão também podem nascer de diálogos com a obra da Tomie.
Quais as orientações para os professores de artes que desejam ensinar sua obra?
Kelian: Talvez a recomendação mais importante seja sobre o tempo que dedicamos a apreciar uma obra. Pesquisas dizem que o tempo de apreciação de uma obra em um museu varia entre três e 15 segundos. Será que isso é suficiente para nos proporcionar uma experiência estética? A Tomie Ohtake não dava título para suas criações porque não queria que as pessoas ficassem com apenas uma única interpretação, mas que pensassem por si. Entendemos que as pessoas precisam estar por mais tempo na relação com a arte para ter essa possibilidade de pensar e de fazer novas descobertas.
Veja mais:
José Leonilson: biografia, poética e a influência na geração de 1980
A arte contemporânea e crítica de Ivan Ciro Palomino
7 planos de aula trazem obras dos artistas participantes da Bienal de SP
Confira 6 dicas para promover um ensino de artes decolonial
“Obra de Salvador Dalí ajuda aluno a entender que o mundo é criado por nós”, diz especialista
Frida Kahlo na escola: artista pode ser abordada em artes, sociologia, história e geografia
Crédito da imagem: Rovena Rosa – Agência Brasil