Os stickers são figurinhas usadas para enriquecer interações nos aplicativos de mensagens, adicionando elementos visuais para complementar ou substituir palavras. “São pequenas imagens, ilustrações ou ícones, estáticos ou animados, usados para expressar emoções e ideias de forma visual e rápida”, resume o mestre profissional em Letras e professor de língua portuguesa da rede municipal e estadual em Belo Horizonte (MG) Vairson Cássio dos Santos.
Por conta das suas características, os stickers podem ser usados para trabalhar com alunos dos anos finais do ensino fundamental temas como comunicação não verbal e intertextualidade.
Além disso, Santos explica que as figurinhas ajudam a trabalhar os gêneros textuais digitais, que ocorrem nas interações online e são multimodais, ou seja, aliam imagens, sons e texto escrito.
“Eles são parte integrante da cultura digital contemporânea. Compreender seu uso pode ajudar os estudantes a navegarem melhor nas interações online, especialmente em plataformas de mensagens e redes sociais”, opina.
Funções da linguagem
Em atividade com turmas do nono ano, Santos utilizou os stickers para explorar diferentes funções da linguagem, como a emotiva, e como isso se relaciona com a linguagem verbal.
“Stickers são uma ferramenta para transmitir sentimentos e ideias que podem ser difíceis de expressar apenas com palavras. Assim, adicionam contexto emocional às mensagens”, diz.
Ele também relaciona as figurinhas com a interpretação de textos. “Ou seja, como essas figurinhas contribuem para a construção de sentido, o que envolve subjetividade, já que a interpretação de um sticker pode variar dependendo do contexto em que o emissor e o receptor estão inseridos”, completa o professor.
As atividades com stickers podem abraçar também a disciplina de artes. “Ela ajuda a trabalhar o design na criação das figurinhas e a discutir seu papel como expressão pessoal e artística”, completa o professor.
Sequência didática
Para trabalhar com os stickers nas aulas de língua portuguesa, Santos iniciou explicando aos alunos os diferentes tipos de linguagem: verbal, não verbal e mista; formal e informal. Ao final da exposição, a classe produziu um mapa mental com as diferenças entre elas.
Na sequência, ele apresentou como exemplo de linguagem não verbal o texto “O velho diálogo de Adão e Eva”, do livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis.
“A análise da linguagem não verbal ajuda a descobrir significados implícitos, como a hesitação, a raiva contida ou a ironia, que são expressos mais pelo ‘como’ do que pelo ‘o quê’”, pontua
Os estudantes reescreveram o texto de Machado de Assis usando apenas a linguagem verbal.
“Ao imaginar o diálogo com palavras, exercitaram como entonações e pausas oferecem diferentes significados à mensagem. A maneira como algo é dito pode alterar a mensagem, principalmente quando há apenas [elementos] visuais, caso das figurinhas. Isso ajuda a desenvolver uma consciência crítica sobre o papel das expressões, gestos e posturas na vida cotidiana”, afirma Santos.
Atividades propostas
Entre as outras atividades propostas, os alunos construíram uma história usando apenas figurinhas de WhatsApp e depois simularam interações em diferentes grupos desse aplicativo de mensagem, como escola, trabalho e família.
“Cada interação demanda um registro linguístico diferente, exigindo escolher tom e estilo adequados a cada situação, adaptando a comunicação conforme público e contexto”, lembra o professor.
Na sequência, os alunos trouxeram livros, filmes, músicas e memes e criaram um sticker conectado a esses elementos.
“Isso permite compreender o conceito de intertextualidade, que permite a criação de um ambiente de comunicação compartilhada em que os participantes se reconhecem mutuamente por meio das referências culturais presentes”, comenta o docente.
“A partir do conhecimento compartilhado das referências intertextuais, os interlocutores conseguem decodificar essas mensagens e atribuir significados específicos a elas”, adiciona.
Na última atividade, os alunos criaram coletivamente um sticker que representasse intertextualmente a turma.
“Eles puderam expressar suas identidades individuais e como elas se relacionam com a identidade do grupo, questão importante na adolescência, quando os jovens estão em processo de formação”, assinala Santos.
“Essa atividade também pode fortalecer o senso de pertencimento, unidade, laços e a colaboração, pois os estudantes trabalharam em equipes e trocaram ideias para chegar à referência escolhida”, afirma.
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Crédito da imagem: Dusan Stankovic – Getty Images