“Bola é ball”. “Flor é flower”. Essas são frases comuns nas aulas de inglês, porém, dessa forma, o aprendizado de vocabulário na língua estrangeira nos primeiros anos do ensino fundamental corre o risco de se apoiar apenas na tradução.
“O aluno já conhece, supostamente, o objeto em português. Assim, o professor não precisa apresentar a figura de uma bola, por exemplo. Então, acaba assumindo a estratégia de traduzir o termo oralmente ou por escrito”, explica a pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPsi) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Mayara da Silva Ferreira.
Contudo, é possível apostar em recursos visuais, como figuras, ou trazer os próprios itens à sala de aula, estimulando a criança a nomeá-los e dizer suas cores na outra língua.
Em seus estudos, Ferreira descobriu que ensinar a relação da palavra com o objeto resulta em uma aprendizagem eficiente, mesmo sendo diferente do ensino da palavra já traduzida.
Resposta em inglês
Na primeira fase de ensino, Ferreira apresentava um cartão com uma cor e perguntava para a criança: “que cor é essa, em inglês?”. “Inicialmente, eu já a nomeava nessa outra língua logo após a pergunta e oferecia dicas até que ela passasse a responder corretamente sozinha, sem necessidade de ajuda”, conta.
Após esse aprendizado, começava a fase dois: o ensino dos objetos e das cores, que foi realizado da mesma maneira que a etapa anterior. “O que mudou é que tínhamos, agora, dois elementos sendo ensinados”, descreve.
“Por ter aumentado a complexidade, era importante a oferta das dicas. Principalmente, por conta da regra gramatical do inglês, na qual o adjetivo vem antes do substantivo. Por exemplo, blue fork (garfo azul)”, ensina.
Todas as crianças passaram por essas duas fases: nomeação da cor e depois nomeação do objeto com a cor. Ao final, elas foram submetidas a um teste de tradução para mostrar o quanto aprenderam. “Nenhuma figura ou dica era apresentada nesse momento”, lembra a pesquisadora.
As perguntas realizadas no teste enfocavam tanto a tradução do português para o inglês – “como se fala garfo azul, em inglês?” – quanto o oposto – “o que quer dizer black table, em português?”.
“Mesmo a tradução das palavras não tendo sido abordadas diretamente durante as aulas, os alunos conseguiram realizá-la”, informa.
Ensino eficiente
O teste também analisou se, após aprenderem um conjunto de objetos e cores, os alunos traduziriam novas combinações que não haviam sido ensinadas diretamente pela professora. “Por exemplo, se na fase dois ensinei ao aluno ‘green book’, ‘white mug’ e ‘blue fork’, no teste, foram solicitadas as traduções de novas combinações: ‘white fork’, ‘green mug’ e ‘blue book’”, diferencia.
Isso proporcionou um “ensino econômico”: a partir de poucas palavras, os alunos foram capazes de traduzir diversas combinações.
“Para se ter uma ideia dessa economia na aprendizagem, a partir de 12 elementos ensinados diretamente (seis cores e seis objetos + cores), foram aprendidas, de forma indireta, 60 recombinações”, comemora.
Ao final, a professora conclui que o modo como o arranjo do ensino foi realizado, priorizando a nomeação das palavras em inglês, fez diferença.
Menos erros
Outro diferencial no estudo de Ferreira foi que, durante o ensino das duas fases, a professora oferecia “dicas” e “pistas” aos alunos logo após a apresentação da cor e do objeto escolhidos. O objetivo era que a aprendizagem ocorresse expondo, o mínimo possível, as crianças aos erros.
“Quando o estudante errava, eu reapresentava a dica imediatamente, dando uma nova chance dele responder à questão. E, como ele geralmente acertava nesse novo momento, eu valorizava esse acerto, sua participação e suas tentativas parabenizando-o”, aponta.
“Isso ajudou o aluno a não criar uma relação ruim com o erro. O que poderia impactar negativamente no que ele já havia conquistado, em termos de aprendizagem, até ali”, resume.
O estudo recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
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