As redes sociais contribuíram para que um gênero de comunicação ganhasse força na sociedade: o meme. A modalidade se baseia na associação de uma imagem e texto com o intuito de transmitir uma mensagem rápida, geralmente, com um toque de humor.

Para os professores, essas expressões de internet podem ser exploradas em sala de aula tanto como ferramenta didática quanto para se aproximar dos alunos. “O meme articula a escrita, a leitura e a reflexão. Foge das técnicas de ler puramente escolares, suscitando compreensão de múltiplas funções sociais da leitura no aluno”, opina a professora e pós-graduanda em ensino e aprendizagem de língua portuguesa, Nathalia da Cruz Peres.

“Além disso, esta forma de comunicação apresenta uma intenção bem definida e possibilita ao aluno exercer sua capacidade de criar e de construir o seu conhecimento. E como faz parte do mundo dos estudantes, as aulas se tornam prazerosas”, garante.

Além da piada

Engana-se quem pensa que o meme é apenas uma piada. “Muitos trabalham com sátira ou passam longe do humor”, desmistifica o professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e coordenador do #MUSEUdeMEMES, Viktor Chagas. A instituição visa registrar as expressões em circulação e reunir produção científica sobre como esse fenômeno se manifesta na sociedade.

“Os memes cumprem uma função política, ajudando a questionar estereótipos e a promover identificações. Exemplos foram vistos nas campanhas de internet ‘bela recatada e do lar’ e ‘black lives matters'”, destaca o pesquisador.

Por ser o meme uma expressão cultural que visa a comunicação e o diálogo, seu uso exige do aluno mais do que saberes técnicos, como editar uma imagem. “O meme é gênero textual caracterizado pela associação de uma imagem e uma frase, que geralmente significam e ressignificam o contexto social. Assim, priorizam a interpretação textual”, ensina Peres.

Em sala de aula, essas expressões de internet ainda possibilitam aos alunos desenvolverem uma visão crítica da realidade. “Nem todo o meme é positivo. Há aqueles que flertam com a fake news ou que são usados para disseminar pensamentos preconceituosos”, lembra Chagas.

Memes e contos de fada

Peres apostou no uso dos memes quando lecionava pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), em 2017. “Queríamos que os alunos do 8º ano do ensino fundamental compreendessem como os memes produzidos nas redes sociais se valiam das histórias clássicas dos contos de fadas para produzirem textos irônicos, que criticam e discutem os estereótipos sobre o feminino e os papeis pré-estabelecidos para as mulheres na sociedade”, relata.

“Além disso, o objetivo era promover um espaço para reflexão acerca dos discursos sobre a violência que circulam na nossa sociedade. E que os estudantes pudessem construir argumentos para defender seu ponto de vista”, descreve.

Ao longo do projeto, foram discutidos cinco tópicos relacionados à violência: racismo, homofobia, intolerância religiosa, bullying e violência doméstica. “No início, os alunos mostraram resistência e dificuldade em reconhecer argumentos nos textos dissertativos. Eles se limitavam a reproduzir discursos e não se colocavam no lugar de autores. Ao longo das atividades, isso foi mudando. Até eles serem capazes de produzir seu próprio discurso”, comemora.

Segundo ainda a professora, o projetou revelou a necessidade de abrir espaços de diálogo na escola. “Os jovens, em maioria, reproduzem discursos racistas, homofóbicos e intolerantes com muita frequência. A escola, embora se apresente no projeto político pedagógico (PPP) como formadora de cidadãos críticos, não oportuniza espaços para que se repense esses discursos tão prejudiciais para a sociedade”, critica.

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