Cléssio Bastos leciona língua portuguesa do sétimo ao nono ano na escola municipal José Carlos Pimenta, na periferia de Goiânia (GO). Em 2018, ele fez uma imersão de 40 dias na The Riverside School, escola indiana que tem metodologia inspirada no design thinking. De volta ao Brasil, começou a aplicar o ensino por meio de projetos e apoiado em fluxogramas.

“Na Riverside, toda a aprendizagem é baseada em projetos interdisciplinares. Ou seja, o jogo que o aluno aprendeu na aula de educação serve como conteúdo para a aula de matemática”, exemplifica. “Contudo, na interdisciplinaridade, nem sempre há um momento ou um recurso que interliga tudo o que foi aprendido. É aí que entra em cena o fluxograma, que funciona como um mapa ou um desenho mental”, destaca.

Na escola José Carlos Pimenta, o professor passou a trabalhar os conteúdos tendo como ponto de partida uma palavra. A partir do vocábulo gratidão, por exemplo, ensinou dois gêneros textuais (parábola e artigo científico), o novo acordo ortográfico, redação e ainda fez uma parceria com a professora de história, que apresentou como diferentes povos praticam o dia da gratidão. Ao final, um fluxograma ajudou a interligar tudo o que foi aprendido.

A partir da palavra “gratidão”, Cléssio Bastos ensinou diferentes gêneros textuais e escrita (crédito: divulgação)

 

“O aluno percebe que, por trás do desenho, há uma proposta e uma lógica de aprendizagem”, revela. “Dependendo do tema, eu trago a proposta fechada. Em outras, eles definem comigo o que gostariam de aprender e ajudam a elaborar o fluxograma”, aponta.

A experiência na Riverside também modificou a forma como o educador atua em sala de aula. “Hoje, faço mais perguntas e dou menos respostas, optando por mostrar para o aluno onde ele pode encontrar a solução para a sua dúvida. Isso os torna mais independentes e ativos no processo de aprendizagem”, revela.

“Fluxograma ajuda o aluno a perceber que há uma lógica por trás do que foi ensinado”, descreve o professor (crédito: divulgação)

 

Por fim, Bastos transformou a forma como planeja aulas e elabora seus relatórios, agora mais detalhados. Durante as apresentações, ele cede seu celular para os alunos fotografarem o que estão aprendendo sobre o seu ponto de vista. As imagens são adicionadas nos seus escritos. “Preciso saber como eles entendem o processo para oferecer a melhor aula, de acordo com suas necessidades”, justifica.

Aluno da escola municipal José Carlos Pimenta segura fluxograma produzido na aula de Língua Portuguesa (crédito: divulgação)

Caçador de inovações

Além da Índia, Cléssio Bastos já esteve no Uruguai, Peru e Angola. As viagens fazem parte do seu projeto Looking 4 Heroes, no qual busca experiências inovadoras de diferentes partes do mundo para aplicá-las com seus alunos. O embrião do projeto começou em 2015, quando o docente se viu em um momento de extrema desmotivação com a sua trajetória profissional.

“Eu não via resultado com os meus alunos, que não se sentiam estimulados a aprender. Comecei a adoecer e pensei em mudar de trabalho. O ápice foi quando uma avaliação da rede analisou a aprendizagem dos meus estudantes e a maior nota foi 1,5”, revela.

Foi a partir desse quadro pouco esperançoso que surgiram duas ideias: procurar novas metodologias pedagógicas e registrar os seus resultados em um site. As primeiras experiências – um projeto de leitura coletiva da biografia da adolescente paquistanesa Malala Yousafzai e de tradução do português para o inglês das músicas do cantor Tiago Iorc – foram um sucesso entre os alunos.

“Voltei a pensar em milhões de alternativas para aplicar em aula. Foi aí que criei o projeto Looking 4 Heroes, para buscar metodologias em outras culturas”, revela.

Os custos das viagens são pagos por ele, que aproveita o período de férias ou negocia faltas. Para os projetos na escola, ele recebe apoio por meio de parcerias. Tudo o que aprende é revertido para seus alunos. Para o futuro, o professor de Goiânia já tem em mente dois destinos: visitar a Escola da Ponte, em Portugal, e a fundação Pies Descalzos, na Colômbia, mantida pela cantora Shakira, que oferece educação para crianças carentes ou em situação de vulnerabilidade social.

“Hoje vejo que os meus alunos estão mais motivados e dispostos a experimentar o que eu proponho. Além disso, eles têm mais orgulho do seu professor”, comemora.

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