Paranoá, região administrativa do Distrito Federal, está prestes a ganhar um modelo inovador de escola pública. Inspirado na Escola da Ponte, de José Pacheco, a “Comunidade de Aprendizagem Paranoá (CAP)” abandonará o modelo tradicional de séries, aulas e provas por um ensino centrado em projetos individuais e coletivos, escolhidos pelos próprios estudantes.
“Os professores serão tutores que conectarão os projetos com as habilidades e competências que a criança deve adquirir. Não estamos abandonando o currículo, apenas o ensinando de outro modo”, destaca a diretora Renata Resende. “Além disso, caberá aos tutores ajudar os estudantes a organizar e planejar seus estudos de forma autônoma”, assinala.
Outra medida é que os projetos escolhidos pelos alunos dialoguem com as necessidades da comunidade e do entorno. “O objetivo não é ensinar para a cidadania, mas como parte da cidadania”, diferencia a educadora.
União e formação
O projeto da CAP começou em 2013, com a união de seis educadoras da rede pública. “Sofríamos com a falta de aprendizagem significativa e o excesso de violência explícita e simbólica dentro de sala de aula. Começamos a buscar embasamento científico e legal, visitar escolas com diferentes metodologias pelo Brasil e participar de conferências e palestras. Sob orientação de Pacheco, surgiu a ideia do projeto”, conta a professora Marina Frighetto.
Atualmente, a comunidade reúne mais de 20 profissionais. “Brincamos que a CAP era o nosso segundo emprego. Todos nós cumpríamos jornadas de 40 horas semanais e, nas horas vagas, nos dedicávamos a essa iniciativa”, relata Resende.
O próximo passo foi buscar a Secretaria de Educação do Distrito Federal, que acolheu o projeto. O direcionamento dos alunos será realizado pelo governo. A previsão de inauguração do local que abrigará a escola é abril de 2018. “Os pais interessados devem procurar a regional de ensino”, orienta Resende.
Aprendizagem significativa
Segundo as educadoras, um modelo de aprendizagem significativa é uma saída para combater os problemas vividos pela comunidade, principalmente a evasão escolar. “O aluno não vê sentido no modelo tradicional de aprendizagem e abandona a escola. Além disso, esse formato não atende às especificidades de cada estudante”, reforça a diretora.
O projeto também veio para suprir uma falta de escolas na região, que tem aproximadamente 95 mil habitantes. “Nos últimos anos, empreendimentos de moradias populares trouxeram, aproximadamente, 12 mil moradores para a região. Os sistemas de educação e de saúde, contudo, não conseguiram absorver a demanda”, conta Resende.
Para construir o projeto, o grupo de educadores foi a campo ouvir as necessidades da comunidade. “O síndico do principal empreendimento de moradia popular nos ajudou a organizar reuniões com os moradores no salão de festas. Por se tratar de um modelo novo, achávamos que iríamos encontrar resistência. Mas vimos o contrário: a comunidade também tem anseio por uma escola mais acolhedora”, relembra. “Assim, a CAP é uma junção dos nossos sonhos com os sonhos da comunidade”, finaliza a diretora.