“Há Ferreira Gullar para todas as ocasiões”, relatou o escritor Caio Fernando Abreu no conto “Pela Noite” (1983) sobre o poeta maranhense. Segundo a mestra em linguagem e ensino e professora do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), Caroline Mabel Macedo Santos Martins, Abreu estava certo na afirmação.

Nascido em 10 de setembro de 1930, Gullar, que completaria 90 anos em 2020, buscava na vida cotidiana a sua inspiração. “Saudade, memória, amor e metalinguagem são temas presentes em sua obra”, relata Martins, que pesquisa a obra do poeta.

Sua produção começou enquadrada no pós-modernismo e caminhou para o concretismo, tendo ele participado da exposição de 1956, considerada o marco do movimento. Em 1958, aproxima-se do neoconcretismo ao lado de Lígia Clark e Hélio Oiticica.

“Ele possui um poema e livro com o nome ‘Muitas Vozes’ que, de certa forma, singulariza quem era e suas diversas fases”, aponta a pesquisadora.

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Gullar ainda possuía uma escrita livre em termos estéticos. “Gostava do verso livre, mas é possível também encontrar poemas mais estruturados na sua obra, como um soneto. Havia liberdade na forma e nos temas”, acrescenta.

Na década de 60, filia-se ao Partido Comunista e passa a escrever poemas de cunho social e político. É perseguido pela ditadura militar, exilando-se no exterior. “Deixar o país influenciou na obra e a nostalgia passa a ser uma temática presente”, conta ela.

Em “Poema de Fim de Tarde” (1980), escreve sobre a passagem do tempo: “Amigos morrem, as ruas morrem, as casas morrem. Os homens se amparam em retratos. Ou no coração dos outros homens.”

Gullar na aula

Para o ensino fundamental I (ou anos iniciais do ensino fundamental), Martins indica poesias que tratam de temáticas afetivas, como “Cantiga para não morrer” e “Cantada”.

“É recomendado buscar assuntos mais próximos da realidade do aluno, como o amor, para facilitar o gosto das crianças pela leitura. Aos poucos, é possível apresentar outros temas mais complexos”, acrescenta.

No ensino fundamental II (ou anos finais do ensino fundamental) e médio, podem entrar em cena poemas da fase política. A docente sugere “Agosto 1964”, “Aprendizagem” e mesmo “Cantada”. “Apesar de ser considerado um período mais panfletário, esse momento da obra dele tem seu valor e deve ser conhecido. Uma possibilidade é trabalhá-lo de forma interdisciplinar com a disciplina de história”, recomenda.

Por sua vez, estudantes do ensino médio podem ser apresentados a poemas de metalinguagem, prática adotada por Martins. “Gullar usou a poesia para falar sobre o fazer poesia”, explica a professora. “Exemplos são ‘Meu povo, meu poema’ e ‘Muitas vozes’”.

“Para os professores, a dica é explorar a obra do autor lendo e relendo poemas de diversas fases. Dessa forma, é possível encontrar caminhos de diálogo com os alunos”, finaliza.

Crédito da imagem: Fronteiras do Pensamento/Creative Commons

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