O dadaísmo foi um movimento artístico que surgiu na Suíça, em 1916, em meio à Primeira Guerra Mundial. Por meio de obras que desafiavam o sentido e as convenções da arte tradicional, os dadaístas protestavam contra a lógica, a razão e os valores burgueses que, para eles, levaram ao conflito.
“Para os dadaístas, a guerra era o resultado de uma sociedade baseada na cobiça e no materialismo, e a arte, tal como existia, era cúmplice dessa sociedade”, explica a coordenadora dos cursos de licenciatura em Artes Visuais EAD da Unoeste, Luli Hata.
“A arte era vista como dependente do capitalismo burguês e como uma transação comercial. Assim, o Dadá propunha a destruição de todas as formas de arte e literatura existentes, bem como dos valores e instituições consagradas pelo tempo.”
O movimento também renunciava à razão e ao sentido lógico, e a frase “ser dada é ser anti-dada” refletiu sua natureza paradoxal.
“Ele introduziu o acaso nas composições, como rasgar um desenho em pedaços e deixar que os fragmentos formassem um novo padrão”, exemplifica Hata.
“Outra característica era o apoio à despersonalização da arte. Ou seja, a ideia de que a arte poderia ser produzida por qualquer um, que o objeto não tinha vínculo com seu criador e que não haveria diferença se fosse produzido por um homem ou por uma máquina”, afirma Hata.
Discutindo o conceito de arte
O dadaísmo costuma ser apresentado, junto com as demais vanguardas artísticas europeias, nos anos finais do ensino fundamental e durante o ensino médio.
Segundo Hata, seu estudo na educação básica possibilita debater com os estudantes sobre o conceito de arte, o vínculo pessoal da obra com o criador e a relação entre a obra, o artista e a sociedade.
“O dadaísmo fornece um arcabouço para que os alunos desenvolvam uma visão mais crítica e menos dogmática da arte, estimulando o questionamento, a experimentação e a percepção da arte como um campo dinâmico, interligado com o mundo em que vivemos”, resume.
“Conhecer o dadaísmo ainda amplia o contato com o momento histórico da Primeira Grande Guerra, a partir do olhar e das percepções dos artistas”, avalia.
A seguir, confira três atividades para ensinar dadaísmo com a turma!
Criar um poema dadaísta
Uma sugestão de Hata para os anos finais do ensino fundamental é, depois de apresentar a parte teórica, propor a criação de um poema dadaísta a partir do procedimento descrito pelo poeta romeno Tristan Tzara (1896-1963), com base na leitura do texto original:
“Pegue um jornal.
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar ao seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida, com atenção, algumas palavras que formam esse artigo e coloque-as em um saco.
Agite suavemente.
Tire, em seguida, cada pedaço um após o outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que forem tiradas do saco.
O poema se parecerá com você.
E ei-lo: um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido pelo público.”
Ao final, a sugestão é expor os resultados e promover um debate sobre as afirmações finais do texto.
Fotocolagem
A fotocolagem é uma técnica artística que consiste em combinar diferentes fotografias ou partes delas em uma única composição.
“Imagens fotográficas foram utilizadas pelo grupo que atuou em Berlim (Alemanha). Alguns trabalharam com pintura e desenho sobre fotografias, deixando transparecer essa base; outros, com colagens tanto de imagens quanto de palavras impressas, com recortes que podem ou não desfigurar as referências humanas”, contextualiza Hata.
Ready-mades
Os ready-mades, ou objet trouvé, são objetos industrializados ou do cotidiano que são transpostos para a condição de arte por meio da intervenção de um artista — muitas vezes, colocando apenas a sua assinatura neles.
“Os primeiros objetos foram apresentados por Marcel Duchamp (1887-1968) antes mesmo da formalização do dadaísmo. Ele produziu uma escultura com uma roda de bicicleta presa a um banco de madeira (1913) e a famosa obra A fonte (1917), que é um urinol apresentado de forma invertida”, lembra Hata.
Essa abordagem pode inspirar produções artísticas da turma baseadas em objetos do cotidiano.
“A partir disso, é possível discutir que objetos cotidianos podem se tornar arte, mas não são arte em sua essência — ou seja, enquanto cumprem apenas sua função”.
Segundo ainda a educadora, também é possível abordar, dentro de história da arte, quando e como objetos cotidianos passaram a fazer parte das obras como temática — como nas naturezas-mortas.
“No Brasil, há exemplos em outros contextos artísticos que podem ser associados, como as bandeirinhas de Alfredo Volpi e os carretéis de Iberê Camargo”, finaliza.
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Crédito da imagem: damircudic – Getty Images