Criar uma atividade lúdica que estimulasse os sentidos foi o objetivo da professora Rebeca Cocchiarelli ao ensinar sistema sensorial para 82 estudantes do 6° ano do ensino fundamental de uma escola pública em São Gonçalo (RJ).

“Havia uma necessidade de despertar o interesse dos alunos em um contexto de classes superlotadas e bastante agitadas”, relembra a docente, que optou por criar uma “caixa de sentidos” – atividade que reúne objetos diversificados capazes de estimular tato, olfato, audição e paladar.

“Basicamente, o ser humano é composto por diversos sistemas que possuem uma função específica e que estão relacionados ao todo, que é manter o organismo vivo. O sistema sensorial recebe todas as informações do meio ambiente, sejam visuais, sonoras, táteis, olfativas ou auditivas. Ele envia tais informações ao cérebro, e cabe ao sistema nervoso interpretar os estímulos recebidos”, resume.

“Toda experiência sensorial vai provocar reações cerebrais. Sejam elas instantâneas – como ao colocar a mão sob uma superfície quente – ou de longo prazo, quando o sistema nervoso armazena a experiência na forma de memórias, que serão resgatadas e comparadas com outras informações posteriormente”, acrescenta.

Criando uma caixa de sentidos

Na atividade desenvolvida por Cocchiarelli, ela optou por trabalhar apenas três sentidos: olfato, audição e tato. Para isso, a professora criou três caixas temáticas usando papelão revestido com folhas de jornal. As caixas simulavam diferentes ambientes.

“A primeira reproduziu um ambiente marinho, com conchas, areia, essência de água marinha e um fone de ouvido com sons de ondas. A segunda trazia elementos que representavam uma floresta e que foram colhidos em parques da proximidade da escola, como terra, casca de árvore, folhas e sons deste local. Também é possível acrescentar o sentido do paladar por meio de maçãs picadas”, ensina.

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                    Alunos durante a atividade (crédito: Ariane Gois e Maria Alice de Abreu)

“Por fim, a última caixa tinha o objetivo de lembrar uma cidade com uma maquete formando prédios e lixa na área do asfalto”, compartilha.

De acordo com a professora, a ideia era produzir uma caixa de forma acessível, armazenando itens encontrados facilmente no nosso dia a dia.

“A intenção é que os alunos construíssem representações mentais que remetessem a esses elementos naturais, associando o ensino do sistema sensorial ao sistema nervoso”, complementa.

Segundo Cocchiarelli, a atividade de caixa sensorial pode ser utilizada também aliada à educação ambiental

“Costumo fazer a atividade em um local amplo, fora da sala de aula e, depois que retornamos dessa experiência prática, peço aos alunos para responderem perguntas como: quais ambientes foram identificados? Você gosta desse ambiente? Esse ambiente é o mesmo hoje em dia? Como está a poluição nele? É possível modificá-lo de uma forma positiva?”, explica.

Para professores que desejam reproduzir a atividade, Cocchiarelli indica diversificar os objetos.

“Os alunos se envolvem com a atividade, tentam adivinhar o que são os objetos, trocam informações e experiências quando a atividade termina”, revela a docente, que descreveu a atividade no artigo “O uso de caixas sensoriais no ensino de ciências: um relato de experiência”(2021).

Atividade complementa teoria

As graduandas do curso de ciências biológicas da Universidade Federal de Sergipe (UFS) Ariane Gois e Maria Alice de Abreu também criaram uma caixa sensorial com alunos do 8º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Santa Rita de Cássia, situada em Aracaju (SE), quando estagiárias do Programa de Residência Pedagógica.

“Buscamos itens que fossem baratos e da forma mais sustentável possível, ou seja, reutilizando materiais”, relata Gois.

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                                       Crédito: Ariane Gois e Maria Alice de Abreu

Elas usaram uma caixa de papelão de 26 cm de comprimento por 15,5 cm de largura e 19 cm de altura, que foi enfeitada com EVA, TNT e pintura.

“Abrimos um buraco na caixa, grande o suficiente para que as mãos dos alunos pudessem passar para pegar os itens dentro. Com a caixa pronta inserimos nela materiais como: amostras de perfume e hidratante; bolas de papel amassadas; massa de modelar com terra e sem; pedaços de plástico bolha; algodão; folhas; flores; sachês de chá etc.”, lista Abreu.

“Confeccionamos também faixas de tecido para vendar os alunos e inutilizar de forma momentânea o sentido da visão. Também usamos música relaxante durante a aula e passamos chicletes azedos com texturas variadas para também estimular o sentido do paladar”, complementa.

Os resultados foram compartilhados no artigo científico “A caixa dos sentidos: a percepção dos sentidos por meio da brincadeira” (2021).

“O maior retorno que eles nos mostraram foi durante a prova da unidade, pois as questões sobre os sentidos e o sistema nervoso foram respondidas de forma exata em 90% das provas, um número alto de acertos”, compartilha Gois.

Segundo Abreu, a atividade foi entendida pelas idealizadoras como uma revisão na prática de conteúdos vistos de forma teórica. Para elas, antes de aplicar a atividade, é importante saber se seus alunos possuem alergia a algum dos itens que será utilizado na dinâmica.

“É importante destacar com os alunos a função vital dos sentidos e do sistema nervoso, e como o uso esses dois se conectam e funcionam juntos para proporcionar a nós as cores, temperaturas, sabores, sons e etc. Aquilo que percebemos à nossa volta se deve ao uso dos nossos sentidos em conjunto com as orientações emitidas do sistema nervoso”, finaliza.

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