O Dia da Árvore é comemorado em 21 de setembro, marcando ainda o início da primavera no hemisfério sul. A data é destinada à conscientização sobre a importância das árvores para o meio ambiente e para a vida no planeta.

“Elas nos provêm de recursos madeireiros e não madeireiros, como frutos, sementes, óleo, resinas e outras matérias-primas utilizadas em produtos cotidianos”, lembra o biólogo professor da pós-graduação em Ensino de Ciências, Ambiente e Sociedade da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Marcelo Guerra Santos.

“Além disso, contribuem na regulação do clima, sequestrando CO2 da atmosfera, e na formação dos ‘rios voadores’ durante a sua transpiração. Oferecem abrigo e alimento para uma imensa diversidade de seres vivos e trazem benefícios não materiais, como recreativos, educacionais, estéticos e religiosos”, aponta.

Na educação básica, o Dia da Árvore é uma oportunidade para desenvolver atividades que trabalhem conteúdos de biologia e ciências correlacionados à educação ambiental, tais como produção de oxigênio, a absorção de dióxido de carbono, a prevenção da erosão do solo, conservação de florestas e da biodiversidade.

“Podem-se abordar temas como: diversidade vegetal, importância dos vegetais para os ecossistemas e para o homem, cuidados com as árvores, relações afetivas entre as plantas e os humanos e valorização da biodiversidade”, sugere Santos.

“Além disso, podemos refletir com os estudantes sobre temas críticos na atualidade, como emergências climáticas, desmatamento, incêndios florestais, extinção de espécies, urbanização e meio ambiente, uso não sustentável dos recursos naturais e conservação ambiental”, lista o professor.

Desenvolver percepção ambiental

Para Santos, as atividades para o Dia da Árvore devem ajudar os alunos a combaterem a chamada impercepção botânica, termo usado para designar a incapacidade de se reconhecer a importância das plantas e a visão delas como seres inferiores aos animais.

“Em tempos de colapso ambiental, atividades de sensibilização e mudanças de atitude sobre a nossa relação com outros seres vivos são urgentes”, pontua Santos

“As atividades para o Dia da Árvore devem ajudar a entender que elas são um organismo vivo. Ou seja, que crescem, respiram, desenvolvem-se e se reproduzem, percepção que nem sempre as crianças têm”, aponta o biólogo e docente do Departamento de Biologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) Eduardo B. de Almeida Jr.

Em termos de interdisciplinaridade, Almeida Jr. sugere também envolver as disciplinas de matemática, língua portuguesa e geografia nas atividades.

“É possível trabalhar medidas e proporções das árvores, como altura e diâmetro do caule, associado a como são distribuídos a água e os nutrientes por toda a extensão delas, da raiz às flores”, descreve.

“Em língua portuguesa, é possível realizar uma redação sobre a importância dos fragmentos verdes, como praças e parques, nas cidades; ou trabalhar a escrita na identificação científica das árvores ou em atividades que envolvam legendas de fotos nas redes sociais”, complementa.

Como trabalhar a data?

Santos recomenda evitar atividades que não tenham continuidade depois da data.

“Devem-se priorizar atividades que criem conexões entre as pessoas e as árvores. Estimule o compartilhamento entre os estudantes de suas memórias com as árvores e a criação de novas memórias”, acrescenta.

Almeida Jr. lembra que professores e alunos não devem desenhar no caule das plantas. “Como fazer corações. Isso é uma agressão a elas”, adverte.

Já atividades de observação e artísticas ampliam a percepção da turma sobre as árvores.

“Mostre a diferença de folhas e flores que crescem sob o sol e à sombra. Em árvores frutíferas, destaque como os avós as conheciam; como é o uso desses frutos; se serve somente para humanos ou para pássaros e outros animais”, acrescenta Almeida Jr.

“E cuidado com a segurança dos estudantes caso eles queiram subir nas árvores”, alerta Santos.

A seguir, conheça nove atividades que podem ser trabalhadas com turmas de diferentes etapas de ensino no Dia da Árvore.

1) Levantamento das árvores presentes na escola e seus usos

A ideia é despertar a atenção dos alunos para aquelas árvores que estão em seu cotidiano. Almeida Jr. foi um dos orientadores de um projeto que criou um banco de dados com as árvores presentes na escola CE Benedito Leite, em São Luís (MA).

Nesse tipo de atividade, os alunos do ensino fundamental 2 e do médio podem fazer a coleta das folhas das árvores e criar um herbário, que é uma coleção de partes ou plantas inteiras desidratadas, identificadas com seus nomes científicos e fixadas em cartolina. Na iniciativa, é trabalhada a catalogação científica das plantas.

Para ajudar na identificação das plantas, Santos indica utilizar aplicativos e ferramentas de celular, como o Google Lens.

“Se o professor não tiver acesso ou não souber o nome científico da árvore, é possível trabalhar com o nome popular das plantas”, explica Almeida Jr..

No levantamento, podem ser incluídos os potenciais usos das folhas, frutos e flores encontrados nas árvores, sejam medicinais ou alimentícios.

“Ao conhecer os usos de uma mangueira na escola ou identificar uma planta nativa, é possível trabalhar com os alunos a importância da conservação dessa biodiversidade”, complementa.

Para ele, a atividade ajuda a contextualizar e deixar o conteúdo de botânica mais significativo.

“Os livros didáticos geralmente são padronizados para todo o Brasil. Ao abordar as angiospermas, falam de araucária, uma planta que não está presente no Nordeste e que os alunos desconhecem”, aponta Almeida Jr..

2) Observação das árvores no entorno da escola

O objetivo é observar as árvores presentes no caminho dos estudantes até a escola.  “Quais são elas? Qual a percepção que os estudantes têm delas? Faça essa observação primeiro e a catalogação científica somente depois”, recomenda Santos.

Além disso, os alunos podem realizar um levantamento sobre a arborização da região e relacionar isso ao protagonismo das árvores na estabilidade do clima.

“Proponha, em uma época de calor, a visita a uma área mais arborizada do bairro ou cidade e a outra menos [arborizada]”, aponta.

“A observação deve incluir diferentes espécies de árvores; a estética dos troncos, das copas e folhas; aroma; cores; quais formas promovem maior sombreamento; quais destroem o calçamento e crescem pela fiação elétrica; ou seja, como as árvores estão utilizando o ambiente”, ensina.

Como orientação, Almeida Jr. sugere aos professores que visitem as praças e parques no entorno da escola antes de realizar a atividade com os alunos.

“É preciso identificar as árvores que lá estão e se preparar para as perguntas curiosas dos alunos, assim como checar a segurança do local em termos de violência, tráfego ou espécies com espinhos”, orienta.

3) Trabalhando as árvores anciãs

Atividade recomendada por Santos para os anos iniciais do ensino fundamental, ela ressalta a longevidade de árvores como o jequitibá. “Muitas são milenares e importantes para a religião e a cultura de diversos grupos sociais”, justifica.

“Identifique as árvores anciãs da região e, a partir de uma pesquisa de campo com estudantes e o auxílio do relato dos moradores mais antigos, estime a idade e a história delas. Quais histórias elas poderiam contar?”, explica Santos.

Segundo ele, podem-se explorar exemplos do entretenimento, como a importância do Jequitibá da novela “Renascer” e a “Vovó Willow” do filme Pocahontas, uma árvore salgueiro conselheira da protagonista.

“O recurso musical também é uma excelente opção, como “Uma bolinha marrom”, “A história do Incêndio do Jequitibá de Carangola” e “Sorriso do Jequitibá”, todas de  Hélio Ziskind”, indica Santos.

4) Plantio de árvores

Em atividade da professora Renata Biango que teve Santos como um dos orientadores, foi solicitada a doação de mudas para a Secretaria de Educação, e os alunos do 6º ano puderam plantá-las no local que desejassem, como escola, quintal ou vaso.

“Mas essa atividade não deve se resumir a abrir o “berçário”, buraco em que se faz o plantio. Deve haver um acompanhamento e o cuidado com a muda plantada, como regas, adubação, proteção contra danos e carinho. Devemos romper com os paradigmas de que as plantas são seres insensíveis e apáticos”, aponta.

“Assim, deve-se pensar no melhor lugar para o plantio e o acompanhamento posterior. Eleja estudantes tutores responsáveis por cuidar da árvore plantada durante o seu vínculo escolar e, quem sabe, depois dele”, acrescenta Santos.

Entre as orientações da atividade, priorize espécies nativas. “Outra opção, mais demorada, é produzir com os alunos a sua própria muda com sementes compradas, oriundas de frutas e coletadas de árvores das vizinhanças, nunca de unidades de conservação da natureza”, ensina Santos.

“Informe-se sobre a espécie adquirida e o melhor local de plantio, para que o crescimento não prejudique construções e fiações elétricas. Pode-se, por exemplo, plantar árvores em vasos grandes”, complementa.

5) Adotando uma árvore

O objetivo dessa atividade é proporcionar um maior vínculo entre o estudante e a árvore. “Se há animais de estimação, por que não plantas de estimação? O aluno se tornaria o tutor da árvore que escolher, responsabilizando-se por seus cuidados”, explica Santos.

“Assim, é possível trabalhar conteúdos de solo, como melhor substrato para plantio e nutrição das plantas, como a necessidades de adubação e importância da água para elas”, afirma.

Segundo ele, dar um nome às árvores ajuda a criar vínculos. “Os estudantes podem estranhar e achar engraçado, pois estão acostumados a nomear animais”, diz.

6) Manifestação artística

Em uma atividade promovida por Biango, alunos do 6º realizaram uma manifestação artística de sua escolha relacionada às árvores, tais como composição de música, poesia, desenho, pintura, foto ou escultura. Posteriormente, compartilharam os motivos da escolha daquela árvore.

“Em atividades artísticas, observar características e discutir usos das árvores ajuda a dar compreensão e significado ao que foi criado”, acrescenta Almeida Jr.

7) Compare a cobertura florestal da cidade utilizando o Google Maps

Nessa atividade indicada por Santos para o ensino médio, o objetivo é debater sobre a quantidade e a qualidade de áreas florestadas, inserindo os estudantes nas questões ambientais de onde vive.

“Compare os resultados encontrados com as políticas ambientais da cidade. Há parques ou unidades de conservação da natureza? Qual é a participação popular nos conselhos de meio ambiente?”, sugere.

8) Associe as árvores a histórias do folclore

Indicado para os anos iniciais do ensino fundamental, essa atividade busca contar histórias do folclore brasileiro que abordam as árvores.

“Um exemplo é o Curupira, conhecido por ser o guardião das florestas. Uma excelente oportunidade para conversar sobre a importância da conservação ambiental”, diz Santos.

9) Perfil colaborativo nas redes sociais

Indicada por Almeida Jr. para alunos dos anos finais do ensino fundamental, essa atividade visa registrar as árvores da escola, do bairro e da cidade em um perfil criado pela turma em uma rede social escolhida. Nas postagens, destaque histórias, memórias, usos e importância das espécies encontradas.

“Mas a atividade não deve ser apenas fotografar e postar. É possível trabalhar a estética dessa foto, as legendas e pesquisa para levantamento de informações dessas espécies”, diz Almeida Jr.

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Aplicativo ajuda a identificar árvores por meio de contos literários

Crédito da imagem: South_agency – Getty Images

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