Filmes e animações podem ajudar o professor a abordar o período da ditadura militar brasileira (1964-1985). “As produções audiovisuais auxiliam no combate ao esquecimento e fazem frente ao crescimento de narrativas que negam ou abrandam as ações do Estado contra a democracia e os direitos humanos. Além disso, podem orientar as discussões com a turma tendo como foco os pilares da memória e da justiça”, explica o coordenador do Grupo de Pesquisa em Ditadura Militar, Sociedade e Ensino de História da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Ary Albuquerque Cavalcanti Júnior.
“O cinema está construindo, de certa forma, uma memória importante para a gente entender o período e refletir sobre como ele foi difícil para as pessoas e para o país, para que a sociedade sempre diga não aos projetos autoritários. E, quando aparecer alguém pedindo ditadura e AI-5, que a gente possa rechaçar qualquer possibilidade de novas ditaduras”, acrescenta a professora de história na Universidade Federal de Rondonópolis (UFRO) Elenita Malta Pereira.
Segundo Cavalcanti Júnior, alguns dos títulos cinematográficos sobre a ditadura militar abordam de maneira sensível como a truculência do período afetou diferentes setores da sociedade. “É o caso do premiado ‘Ainda estou aqui’ e de ‘O ano em que meus pais saíram de férias’, que apresentam o impacto da ditadura sobre famílias e sobre crianças e adolescentes que foram privados do convívio com seus pais, perseguidos políticos.”
Importância da pesquisa histórica
Em relação às atividades, Cavalcanti Júnior recomenda associar a exibição do filme a uma reflexão individual de cada aluno, realizada oralmente ou por escrito. “O estudante pode ser convidado a compartilhar o que entende sobre o período da ditadura e como o filme ajudou a aprofundar esse conhecimento”, destaca o docente.
A atividade também pode ser relacionada a outras fontes históricas, como os relatos produzidos pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) sobre os crimes ocorridos no período.
“No ensino médio, o filme pode ser trabalhado com pesquisa histórica e história oral, ressaltando a importância da pesquisa histórica para o Brasil. Costuma-se dizer que somos um país sem memória, mas esta não é autônoma: tem que ser trabalhada, e aí as aulas de história têm essa função”, afirma Pereira.
A seguir, conheça sete filmes que ajudam a ensinar sobre a ditadura militar em sala de aula.
O agente secreto (2025)
A história se passa no Brasil de 1977. Marcelo, professor de tecnologia de 40 anos, deixa São Paulo (SP) e se muda para Recife (PE) na tentativa de romper com um passado e iniciar outra fase da vida. Com o tempo, passa a notar que está sendo observado pelos vizinhos e entende que o passado não ficou para trás.
“O diretor Kleber Mendonça Filho, que é nascido e apaixonado pela cidade do Recife (PE), faz uma reconstituição preciosa da época. O filme vai ainda tratar da corrupção e das negociatas envolvendo burocratas, empresários e policiais na ditadura, especialmente a corrupção policial, e do cerceamento ao ensino e à pesquisa”, completa Pereira. Classificação: 16 anos.
Batismo de sangue (2006)
Conta a história dos frades dominicanos que, durante a ditadura militar brasileira, se vincularam à luta contra o regime e foram perseguidos após ajudarem o movimento guerrilheiro liderado por Carlos Marighella. Classificação: 14 anos.
O ano em que meus pais saíram de férias (2006)
Acompanha Mauro, um garoto de 12 anos que é deixado pelos pais — perseguidos pela ditadura — na casa do avô. Quando o avô morre inesperadamente, ele precisa se adaptar a um novo bairro enquanto espera o retorno dos pais. “O filme atua na lógica da sensibilidade e ajuda a abordar a questão da clandestinidade. Os alunos ficam na expectativa do retorno dos pais de Mauro”. Classificação: 10 anos.
Zuzu Angel (2006)
Retrata a trajetória da estilista Zuzu Angel e sua busca pela verdade sobre o desaparecimento do filho Stuart, militante preso pela ditadura, enfrentando censura, vigilância e repressão do Estado. Classificação: 14 anos.
Torre (2017)
Animação de Nadia Mangolini revisita a ditadura militar brasileira por meio das lembranças de crianças cujos pais foram perseguidos, desaparecidos ou forçados ao exílio. Com as vozes reais dos protagonistas e uma estética baseada em desenhos em movimento, o filme reúne memórias de infância e marcas do passado para mostrar os efeitos do período na vida das famílias. Sem recorrer a cenas de violência, o curta conduz o espectador por histórias que revelam a ausência, o trauma e a busca por compreensão. Sem classificação.
Ainda estou aqui (2024)
Baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, segue a história da família Paiva após o desaparecimento de seu pai, Rubens Paiva, deputado cassado pela ditadura. Mostra a luta da esposa, Eunice Paiva, para enfrentar o silêncio do regime e manter os filhos enquanto busca respostas ao longo das décadas seguintes. Classificação: 14 anos.
O que é isso, companheiro? (1997)
O jornalista Fernando e seu amigo César se envolvem na luta armada contra a ditadura militar no final da década de 1960. Os dois se alistam em um grupo guerrilheiro de esquerda. Durante uma das ações do grupo, César é ferido e capturado pelos militares. Diante disso, Fernando planeja o sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick, para negociar a libertação de César e de outros companheiros presos. Classificação: 16 anos.
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Crédito da imagem: Heath Korvola – Getty Images