Um dos principais nomes da literatura infantojuvenil brasileira, Tatiana Belinky completaria cem anos de idade em 18 de março de 2019. Nascida na Rússia, ela chegou ao Brasil aos dez anos e construiu uma relação com as crianças mesmo antes da sua estreia oficial como escritora, aos 64 anos.

Em 1948, ela e o marido, o educador Júlio Gouveia, começaram a adaptar e traduzir peças infantis para a prefeitura de São Paulo. Na década seguinte, colaboraram com produções da TV Tupi e foram responsáveis pela primeira adaptação de “O Sítio do Picapau Amarelo”, de Monteiro Lobato, para a televisão.

Na década de 80, a autora se tornou crítica de peças infantis da Folhinha, caderno infantil do Jornal “A Folha de S. Paulo”. Lá, em 1983, publicou o seu primeiro conto, “‘Quem casa quer casa”, sobre o amor de um caramujo e uma lesma. Até seu falecimento, em 2013, foram mais de 250 livros voltados exclusivamente para os pequenos.

“Assim como outros grandes escritores infantojuvenis, Belinky considerava a criança um ser humano inteligente, sensível, capaz de aprender e se desenvolver, o que se traduzia na sua escrita e na sua obra”, descreve a doutora em educação e docente da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Marta Chaves. “Um exemplo é a sua tradução dos poemas do grande dramaturgo alemão, Bertolt Brecht, para esse público.”

Vocabulário rico

Para os educadores que desejam apresentar a autora aos seus alunos, Chaves indica o livro “O grande rabanete” como pretexto para se trabalhar a empatia e a ideia de conhecer quem é diferente. “É uma história que fala sobre a solidariedade de forma saborosa e divertida, como a arte deve ser.”

Já “Saladinha de Queixas” é uma oportunidade de abordar a ética nas relações. “No texto, os vegetais se queixam de injustiças, como o fato de os humanos usarem seus nomes para brigar uns com os outros. Ele ajuda a criança a pensar em situações parecidas presentes no coletivo e se há uma forma certa de se referir ao outro, sobre como ter uma conduta adequada”, sugere. “São livros que abordam temáticas importantes de forma delicada, mas sem diminuir o potencial desse leitor”, afirma.

Outros títulos também merecem destaque no legado da escritora, como “O caso do bolinho”, “A galinha apressada” e “A cesta de dona Maricota”. Apesar da maioria das obras serem voltadas para os primeiros anos do ensino fundamental, Chaves os recomenda também para crianças e jovens das outras etapas. “Dependendo da atividade, é possível trazer um livro ou um conto até para o ensino médio. Muitos dos textos estimulam o estudante a ter apreço pelo conhecimento e vontade de modificar o coletivo”, pontua.

Para as os pequenos, a docente vê na produção de Tatiana Belinky uma primeira porta de entrada para se desenvolver o gosto pela leitura. “Os educadores poderão perceber a riqueza da elaboração literária, do vocabulário e das histórias. Com certeza, contribui para que o aluno dessa etapa desenvolva a atenção, a memória, a linguagem, a concentração e entenda que a literatura possui um outro ritmo, diferente das mídias e da tecnologia”, diz.

Em seus projetos, Chaves conta que apresenta a autora a partir da atividade pedagógica “Livreto Biográfico”. “Estudamos sua vida e obra de três a cinco meses e, na sequência, os alunos produzem um livro sobre ela e seu universo”, sintetiza.

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Crédito das imagens (destaque e topo): divulgação e reprodução livro “O grande rabanete”

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