No dia 17 de maio de 2008, o Brasil se despedia da escritora Zélia Gattai. A esposa de Jorge Amado escreveu 17 livros, entre romances, literatura infantil e autobiografias. Sua estreia foi com o livro “Anarquistas Graças a Deus” (1979), quando estava com 63 anos. Na obra, a escritora se debruça sobre a sua infância, início da adolescência e narra a história de vida de seus antepassados italianos: avós e pais que vieram ao Brasil com a imigração italiana, em meados do século XIX.
“Nessa publicação, Zélia conta histórias divertidas e interessantes, tais como: a modernização da cidade de São Paulo, a construção dos primeiros edifícios, os espaços de diversão da época e os costumes do povo italiano. Sua obra se mostra importante para a literatura, pois a escritora, e também memorialista, nos traz histórias e memórias de pessoas e acontecimentos que vivenciou em sua vida”, explica a mestre em história pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e pesquisadora da obra de Zélia Gattai, Kassiana Braga.
Em suas outras publicações, Zélia se dedicou a narrar a vida ao lado do esposo, com quem conviveu por mais de cinquenta anos. Em “Jardim de inverno” e “Chapéu para a viagem”, o foco é o exílio dela e do marido na França e Tchecoslováquia, durante o Estado Novo. Nesse período, fizeram amizades que cultivaram pela vida toda, como Pablo Neruda, Anna Seghers, Jean-Paul Sartre, Simone Beauvoir, Carybé, entre outros artistas e intelectuais da década de 1940.
Segundo Braga, é possível utilizar as autobiografias de Zélia Gattai nas aulas de história e literatura tanto do ensino fundamental quanto médio. “Zélia Gattai é, sem sombra de dúvidas, uma ótima indicação de leitura para crianças e jovens, tendo em vista que faz uso de uma linguagem simples, o que torna a leitura mais agradável e acessível para este público específico de leitores”, descreve. “Além disso, ela traz em seus livros elementos políticos, culturais e sociais da história brasileira desde o século XIX, abrangendo também os acontecimentos do século seguinte. Os alunos podem conhecer mais sobre o processo da imigração italiana, a política durante o Estado Novo, o período após a Segunda Guerra Mundial e durante a Guerra Fria, temas amplamente discutidos e narrados pela autora nas páginas de seus livros”, descreve.