Aproximar os alunos das culturas quilombolas auxilia na aprendizagem da história do país e, também, a fomentar uma educação antirracista. Essa é a opinião das pesquisadoras do projeto “Passados Presentes – Memórias da Escravidão no Brasil”, Martha Abreu, da Universidade Federal Fluminense (UFF), Hebe Mattos, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Keila Grinberg, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).

“Os quilombos são comunidades vivas e que possuem como patrimônio o seu legado. Contudo, estão aqui ainda hoje e continuam produzindo cultura”, justifica Abreu.

No campo da disciplina de história, a iniciativa ajuda a explicar conteúdos curriculares, como a colonização do país e a abolição da escravatura.

“Uma das formas mais poderosas de contar a história do Brasil é por meio dos seus protagonistas”, explica a professora. “Apesar de estar mudando, há ainda uma impressão de que a história do negro acaba na abolição e que essa população some no século 20. Será que apenas trabalhadores brancos apoiaram Getúlio Vargas ou lutaram pela abertura política? Algo que é reforçado pelas próprias imagens nos livros didáticos”, alerta.

“Conhecer os quilombos é valorizar a cultura negra além da escravidão, possibilitando ao aluno descobrir um relato plural, feito por outros sujeitos, e descobrir que ainda há lutas que ocorrem no presente, como a dos quilombolas pelo direito a suas terras, cultura e identidade”, acrescenta.

Já no campo da educação antirracista, o contato com os quilombolas ajuda a entender como o racismo opera no Brasil – algo fundamental para combatê-lo. “Ele se dá por meio de mecanismos de apagamento da história do negro, de exclusão e de indiferença em relação a seus problemas e demandas. Pelo não-dito”, descreve Abreu. “Em contrapartida, valorizar a cultura dessa população é uma forma de resistência”, defende ela, que lembra que o aprendizado com lideranças negras reeduca sobre as relações raciais.

“Os exemplos de confiança e autoestima transmitidos fazem frente às imagens de inferiorização e marginalização que são associadas à cultura negra”, aponta. 

Opções didáticas

Diversas são as formas das escolas se abrirem para quilombolas e lideranças de comunidades negras. “Elas podem promover visitas às comunidades tradicionais, trazer representantes à escola ou, se nada disso for possível, apresentar filmes e registros de história oral”, recomenda.

Se for possível levar os alunos a um quilombo próximo, a dica é aproveitar momentos de manifestações culturais, como uma festa de jongo, dos congados, maracatus ou de santos, de acordo com cada local do país. “Esse é o momento em que a comunidade quer ser visível e encena com orgulho uma longa luta histórica”, ressalta Abreu. Segundo a historiadora, um dos ganhos da visita é que a sensorialidade estimula a empatia.

Maria de Fátima da Silveira Santos, coordenadora do grupo de Pinheiral, no Vale do Paraíba (RJ), durante o “Jongo do Sudeste” (crédito: divulgação/Projeto “Passados Presentes”)

“Também se entende que aquele lugar deve ser valorizado como um ponto cultural e de memória, tanto quanto um museu. São sujeitos de história, detentores de uma rica cultura e com algo para contar”, destaca.

Já ao trazer lideranças à escola, é importante apresentar e explicar o que é o quilombo e suas manifestações antes do encontro. “Isso evita manifestações de preconceito tanto por alunos brancos quanto por negros, que também podem ter introjetado que essa população não tem algo para contribuir ou acrescentar”, alerta.

Em caso de discriminação, Abreu ainda reforça que o tema não deve ser ignorado pelo professor. “É uma oportunidade de discutir o racismo com os estudantes”, enfatiza.

Se a única opção for apresentar aos alunos vídeos e sites sobre essa cultura, as pesquisadoras indicam alguns materiais didáticos. O site do “Projeto Passados Presentes” reúne um banco de dados com locais de memória do tráfico negreiro. Além disso, a Fundação Palmares possui um mapa com a localização das comunidades remanescentes.

A página do Laboratório de História Oral e Imagem (UFF) reúne quatro filmes sobre cultura quilombola que podem ser assistidos gratuitamente online: “Jongos, Calangos e Folias: Música Negra, memória e poesia”; “Memórias do Cativeiro”; “Versos e Cacetes: O jogo do pau na cultura afro-fluminense”; e “Passados Presentes: memória negra no sul fluminense”.

Há também dois vídeos produzidos pelo Pontão de Cultura do Jongo-Caxambu que registram a história das comunidades negras na luta pela valorização do jongo – patrimônio cultural do Brasil: “Décimo Encontro de Jongueiros”“Pontão de Jongo – fazer com, em diferença”.

Atualizada em 19/5/2020 às 20h09.

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Crédito da imagem: divulgação.

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