Érico Veríssimo (1905-1975) é um dos principais escritores brasileiros do século 20, destacando-se por levar a história e a cultura gaúcha para além do Rio Grande do Sul. “Sua obra muito fala sobre a formação do Brasil a partir do Sul, assim como mitos e lendas que dialogam com a realidade”, descreve o doutorando em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Luciano Martins da Rosa. Por esses motivos, a produção literária do autor também pode ser utilizada na disciplina de Geografia no ensino fundamental 2 e médio.

“Sua escrita é capaz de sistematizar e criar imaginários geográficos nos alunos”, justifica Rosa, que estudou a prosa de Érico Veríssimo e a educação geográfica durante o mestrado. Mesma opinião do mestre em Letras pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), Gustavo Menegusso. Ele pesquisou as descrições das paisagens em romances de Veríssimo. “Seus livros revelam o Rio Grande do Sul das estâncias, coxilhas e das guerras dos Sete Povos das Missões. Os alunos poderão conhecer uma região, um povo e uma cultura por meio dessa literatura”.

Para a professora do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Pelotas (UFP), Liz Cristiane Dias, combinar literatura de ficção e geografia escolar faz as aulas da disciplina irem além da linguagem cartográfica e da memorização. “A apropriação de conteúdos e conceitos geográficos por meio da literatura de qualidade e mediada pelo professor-pesquisador desperta senso crítico e raciocínio geográfico”, defende. “Para isso, podem ser explorados princípios como: conexão, analogia, localização e extensão dos fenômenos”, recomenda aos professores.

Natureza e território

Assim, a formação territorial do Brasil é um dos conteúdos da geografia escolar que podem ser trabalhados a partir dos livros de Veríssimo, em especial da trilogia “O Tempo e o Vento” (1949-1962). “A obra possibilita estudar processos migratórios, formação da população, ocupação do território e uso da terra e do solo”, ressalta Rosa. “Também promove a compreensão de que geografias humana e física são indissociáveis”, pontua.

Outra possibilidade é explorar os conceitos de paisagem, território e fronteira, partindo do Rio Grande do Sul. Veríssimo utiliza procedimentos textuais para ilustrá-los. E essa pode ser uma atividade proposta para o estudo de outras regiões geográficas do país ou do mundo. “Exercícios de escrita levam o estudante a argumentar em relação a conteúdos diversos dentro da construção do raciocínio geográfico”, acrescenta Rosa. Para completar, fatos históricos descritos nos livros do autor podem ser incorporados na sequência didática. “Pode-se discutir guerras históricas, suas motivações espaciais e fatores locacionais”, apresenta Rosa.

Da fantasia à realidade

Além de “O Tempo e o Vento”, Megusso indica o livro “Incidente em Antares” (1971) para o professor de Geografia. “Ele mistura o fantástico para falar da realidade sulista”, endossa. “A obra ainda trata de problemas sociais brasileiros comuns em pequenas e médias cidades”, complementa Rosa. Outra possibilidade é o primeiro romance do autor, Clarissa (1933). “Este último discute nas entrelinhas as dinâmicas e os fluxos entre o rural e o urbano da primeira metade do século 20”, orienta.

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