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Metodologias ativas, inteligência artificial, realidade virtual e realidade aumentada: quais as vantagens e desafios trazidos pela chamada “Educação 4.0”? O termo está associado à Quarta Revolução Industrial, momento em que surge uma série de tecnologias digitais, sistemas inteligentes e todas as possibilidades da hiperconectividade. Essas mudanças causam transformações em todas as áreas de atividade humana, inclusive, na educação.

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É o que explica a professora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e vice-diretora do Instituto de Estudos Avançados, Roseli de Deus Lopes: “A gente precisa garantir que todos os estudantes e todos os professores em qualquer lugar do planeta tenham acesso à conectividade de qualidade. Mas isso tem que ser acompanhado de trabalhos de comunidades de aprendizagem; de estratégias que façam com que os professores percebam que o mundo que a gente tem hoje é diferente”.

Educação para a vida toda

No áudio, a especialista comenta que as mudanças constantes do mercado de trabalho exigem uma educação que se dá ao longo da vida toda. Para isso, as tecnologias, quando bem utilizadas, são importantes aliadas. “Antigamente, a gente aprendia um determinado ofício e era possível que a pessoa passasse a vida inteira fazendo algo muito parecido. Hoje, além das pessoas viverem mais atualmente, a pessoa pode estar fazendo coisas diferentes ao longo da sua vida. Então, isso de aprender rápido, de conseguir ter mais flexibilidade, conseguir se adaptar é uma característica desses novos tempos”, avalia a professora.

Para além da tecnologia

Lopes ressalta que a tecnologia por si só não basta. Para ela, é preciso que se valorize boas referências do ponto de vista de estratégias pedagógicas. Isso permitirá que se preparem cidadãos que saibam usar a criatividade diante de desafios e que tenham capacidade de colaborar em equipe.
A professora traz como exemplo uma atividade em que estudantes precisam pesquisar a história ou a geografia de um país diferente: “Se eu tenho a oportunidade de em alguns momentos ter conectividade, eu poderia estar trabalhando junto com o professor dessa outra realidade. Então, aprendendo um idioma, interagindo com alunos que estão falando um outro idioma diferente, que vivem em um lugar diferente”.

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Transcrição do Áudio

Música: “Block Party – Bad Snacks” fica de fundo

Roseli de Deus Lopes:
Oportunidades que a educação 4.0 já traz na prática é que, antes, pra que você conseguisse se desenvolver em algumas áreas você precisava estar no lugar certo, na hora certa e com acesso a bibliotecas e laboratórios, que, hoje, muitas dessas coisas elas podem estar disponíveis em qualquer lugar, desde que eu tenha acesso a dispositivos e conectividade.
A gente precisa garantir que todos os estudantes e todos os professores em qualquer lugar do planeta tenham acesso à conectividade de qualidade, porque às vezes a gente ouve falar ‘não, mas tem banda larga’, mas não na quantidade suficiente para o número de alunos e de professores que a gente tem.
Mas isso tem que ser acompanhado de trabalhos de comunidades de aprendizagem; de estratégias que façam com que os professores percebam que o mundo que a gente tem hoje ele é diferente.
Meu nome é Roseli de Deus Lopes, eu sou professora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, atualmente sou vice-diretora do Instituto de Estudos Avançados da USP, também.

Vinheta: Instituto Claro – Educação

Música “Block Party – Bad Snacks” permanece de fundo

Marcelo Abud:
Metodologias ativas, inteligência artificial, cultura maker, realidade virtual e realidade aumentada são algumas das práticas associadas à Educação 4.0. Mas quais os reais desafios e oportunidades que o uso de tecnologias traz na prática?

Roseli de Deus Lopes:
O termo Educação 4.0 e várias outras coisas 4.0 eles estão muito associados à “quarta revolução industrial”. Mas, o que significa isso? Que o mundo tem sofrido transformações muito significativas com alguns adventos históricos, alguns desenvolvimentos tecnológicos. Por exemplo, a primeira Revolução Industrial foi impulsionada principalmente pela máquina a vapor. Na sequência, a gente teve a segunda em que o fator determinante foi a energia elétrica. A terceira veio com o computador, a automação e mesmo muitos avanços na genética. E a quarta, a gente tem uma série de tecnologias digitais, sistemas inteligentes, conectividade, né, esse mundo de hiperconectividade, sistemas ciberfísicos, a inteligência artificial, big data… então, todas essas coisas têm permitido que a gente tenha um momento de novo disruptivo de transformação na indústria e, consequentemente, em todas as áreas onde a gente tem atividades humanas.

Música: “Admirável Chip Novo” (Pitty)
Nada é orgânico, é tudo programado
E eu achando que tinha me libertado,
Mas lá vem eles novamente e eu sei o que vão fazer:
Reinstalar o sistema

Roseli de Deus Lopes:
E a educação precisa acompanhar os novos tempos. Então, esse termo ele acaba surgindo ali 2012, dali pra frente, 2016, é que se começa a utilizar mais este tipo de expressão. Aí você tem muitos autores no planeta inteiro que tem aí definições um pouquinho diferentes, mas acho que o que é importante é assim é esse mundo hiperconectado, esse mundo acelerado, que as pessoas hoje em dia precisam ser preparadas pra viver nesse mundo sem ficarem ansiosas demais, né, e conseguirem perceber que as coisas são rápidas e que não são para sempre.
Antigamente, a gente aprendia um determinado ofício e era possível que a pessoa passasse a vida inteira fazendo algo muito parecido. Hoje, além das pessoas viverem mais atualmente, a pessoa pode estar fazendo coisas diferentes ao longo da sua vida. Então, isso de aprender rápido, de conseguir ter mais flexibilidade, conseguir se adaptar é uma característica desses novos tempos. Então, quando a gente fala de Educação 4.0 tem a ver com essa aprendizagem ao longo da vida toda, associada ao uso de tecnologias que sejam mais apropriadas para esses tempos.

Marcelo Abud:
Durante o período em que as escolas permaneceram fechadas, na pandemia, o aprendizado dependeu da tecnologia. Apesar da limitação que isso trouxe a várias instituições, outras, públicas ou privadas, conseguiram desenvolver experiências bem-sucedidas. Na opinião da professora, o desafio agora é mapear essas estratégias que deram certo e fazer com que ganhem escala.

Roseli de Deus Lopes:
Muitas redes foram bem-sucedidas no sentido de ter conteúdos produzidos de qualidade, disponibilizados para os alunos poderem acessar remotamente. Algumas tiveram experiências bem-sucedidas de também provocar interação entre os alunos, para que, por exemplo, desenvolvessem projetos em equipe, mesmo a distância. A gente tem aí várias possibilidades que envolvem experiências de aprendizagem mais ricas que não se limitam aos muros da escola, que não se limitam às paredes da sala de aula, né, que você poderia estar trabalhando com professores e alunos que estão distribuídos geograficamente, mas que têm interesses que são convergentes.
É uma coisa que a gente precisa intensificar, mas que a pandemia – ela foi péssima por uma série de razões -, mas ela pelo menos criou essa possibilidade das pessoas perceberem ‘nossa, não é tão difícil usar e eu posso fazer coisas de um jeito diferente do que eu faria se eu só estivesse dentro de uma sala de aula, no ambiente presencial, sem conectividade nenhuma.

Música: “Algum Ritmo” (Francisco Gadelha Gil Moreira Müller de Sá / Gabriel Dunajski Mendes / João Gil Moreira Santana Alves / José Gil Giordano Gil Moreira), com Gilsons e Jovem Dionísio
Algum ritmo em comum fez nos encontrar
Algum ritmo em comum fez nos conversar

Roseli de Deus Lopes:
Por exemplo, quero fazer uma atividade que envolve conhecer história ou geografia de um país diferente, uma língua diferente… se eu estou em uma sala desconectada, eu fico trabalhando só com quem tá ali, com o conhecimento de quem está ali. Se eu tenho a oportunidade de em alguns momentos ter conectividade, eu poderia estar trabalhando junto com o professor dessa outra realidade. Então, aprendendo um idioma interagindo com alunos que estão falando um outro idioma diferente, que vivem em um lugar diferente… esses são exemplos que a gente já poderia estar desenvolvendo nas escolas sem custos muito elevados – basta ter acesso à conectividade e saber que essas outras pessoas que existem aí pelo planeta podem estar trabalhando comigo essas conexões -, eu já poderia estar fazendo.

Marcelo Abud:
A Educação 4.0 vai além do acesso à tecnologia.

Roseli de Deus Lopes:
Eu preciso olhar mais quais são as boas referências do ponto de vista de estratégias pedagógicas, de como é que eu preparo cidadãos, como é que eu preparo pessoas que sejam autoras, que sejam criativas, que saibam colaborar, do que focar nas tecnologias. Vou até dar um exemplo: quando a gente fala assim do mundo maker – tá muito em evidência agora – ‘vou colocar impressora 3D, cortador a laser etc.’ – às vezes o pessoal acaba tendo um encaminhamento que é ‘todo mundo vai fazer a mesma coisa’. Então eu vou fazer agora um objeto e o meu foco é conhecer a tecnologia e todo mundo fazer o mesmo objeto, mas sem eu pensar em quais são as estratégias de aprendizagem.

Marcelo Abud:
A Educação 4.0 deve estimular a criatividade de estudantes para que identifiquem problemas e usem a tecnologia para a solução deles.

Roseli de Deus Lopes:
Hoje muito mais do que aprender algumas coisas, decorar algumas coisas, eu preciso aprender como é que é o processo de criar coisas, para que essas crianças, esses professores aprendam a fazer principalmente boas perguntas e que eles percebam o potencial tanto da conectividade, para eu poder acessar conteúdos qualificados, como eu posso também usar essa conectividade para eu poder compartilhar aquilo que eu estou fazendo para as pessoas perceberem que a tecnologia está sempre em movimento e que eu faço parte desse processo do desenvolvimento da ciência e da tecnologia.

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:
A Educação 4.0 demonstra que o acesso à conectividade e a dispositivos móveis, quando acompanhado de uma boa proposta pedagógica, torna a aprendizagem mais eficiente.
Marcelo Abud para o podcast de Educação do Instituto Claro.

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