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Um levantamento da Nova Escola, realizado entre 8 e 22 de julho deste ano, com 5.305 professores e professoras, revela que 65,8% deles percebem maior agressividade em estudantes no retorno às aulas após o período de isolamento social por conta da pandemia de covid-19.

“É como se grande parte dos alunos tivesse desaprendido como é estar em sala de aula. Nesse sentido, ter uma maneira de cuidar do seu estresse, da sua alimentação, da sua qualidade de sono tem implicação fundamental para o neurodesenvolvimento e também para conseguir lidar com todas essas adversidades”, explica o psicólogo e doutor em psicologia experimental pela Universidade de São Paulo (Usp) Henrique Akiba.

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Socialização e habilidades emocionais

Por ser um ambiente de socialização, a escola promove interações constantes entre professores e estudantes. Isso exige que estejam invariavelmente lidando com emoções e questões que envolvem a saúde mental.

“O desenvolvimento de competências socioemocionais pode atuar como forte aliado na prevenção e promoção em saúde mental, especialmente no momento que a gente está vivenciando – no pós-vacina -, que tem trazido uma série de desafios aos professores, porque de fato o isolamento social acabou atuando de maneira muito disruptiva no processo fundamental de socialização desses jovens e adolescentes”, pontua o psicólogo.

No áudio, Akiba fala da importância das habilidades socioemocionais na escola, como os professores podem se preparar para trabalhar essas habilidades com estudantes e que ganhos elas trazem para toda a comunidade escolar.

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Transcrição do Áudio

Música: Música instrumental, de Reynaldo Bessa, fica de fundo

Henrique Akiba:
Em termos do conteúdo que deveria ter sido trabalhado na pandemia e que teve uma dificuldade muito grande em função de uma série de fatores que variam desde a questão motivacional mesmo dos alunos até questões de vulnerabilidade que impediam eles de ter acesso ao conteúdo propriamente dito, então, o desafio é grande. E é como se grande parte dos alunos tivesse desaprendido como é que é estar em sala de aula. É isso que eu tenho observado, tenho ouvido dentro das minhas inserções.
Nesse sentido, ter uma maneira de cuidar do seu estresse, da sua alimentação, da sua qualidade de sono isso tem implicação fundamental para o neurodesenvolvimento e, também, para conseguir lidar com todas essas adversidades.
Sou Henrique Akiba, sou psicólogo, doutor em psicologia experimental pela Universidade de São Paulo (Usp) e, também, pesquisador e consultor em saúde mental do Instituto Ame Sua Mente, organização da sociedade civil focada na formação e saúde mental de educadores.

Vinheta: Instituto Claro – educação

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:
Mais de seis em cada dez professores, no Brasil, percebem maior grau de violência nos alunos diante da volta às aulas presenciais, após terem ficado distantes fisicamente da escola por causa do período agudo da pandemia. Os dados são de pesquisa realizada de forma online com 5.305 educadores de todas as regiões brasileiras, entre os dias 8 e 22 de julho de 2022, pela Nova Escola, organização social que atua para apoiar professores da educação básica. O mesmo levantamento aponta que praticamente 98% dos entrevistados acreditam que esse aumento de agressividade atrapalha o aprendizado.
Para Henrique Akiba, a valorização de competências socioemocionais pode promover a melhoria da saúde mental na comunidade escolar.

Henrique Akiba:
O desenvolvimento de competências socioemocionais pode atuar como forte aliada na prevenção e promoção em saúde mental, especialmente no momento que a gente está vivenciando aqui no pós-vacina, que tem trazido uma série de desafios aos professores, porque de fato o isolamento social acabou atuando de maneira muito disruptiva, né, no processo fundamental de socialização desses jovens e adolescentes.
Isso acontece porque as competências socioemocionais têm entre seus pilares o autoconhecimento e a capacidade de gerenciar suas próprias emoções, comportamentos, e que em última análise promove que o estudante se torne mais hábil socialmente, ganhando então repertório para lidar com as dificuldades do dia a dia.
Pensando nos fatores que ajudam a proteger e promover saúde mental, a capacidade de autorregulação emocional e ter uma rede de suporte com amigos e familiares tendem a atuarem como fatores protetivos no que se refere a uma série de condições como, por exemplo, depressão, ansiedade ou mesmo comportamentos que acabam acontecendo no cotidiano escolar: bullying, comportamentos agressivos, entre outros.

Música: “Haja terapia” (Juliano Ferreira Holanda de Melo), com Simone
Tem dias que o tempo desgarra, e tem tempos que o dia demora
Abri a janela sabendo que o vento não me derrubaria
Eu tenho tentado fugir das notícias do dia

Marcelo Abud:
Akiba aponta que o aprendizado de competências socioemocionais é fundamental para o desenvolvimento integral do estudante. Ao incorporar algumas delas, professores, crianças e jovens desenvolvem o autocuidado e a autogestão na hora de lidar com a própria saúde mental.

Henrique Akiba:
Autogestão seria minha capacidade de controlar minhas vontades, de organizar meu tempo, de ter foco, ter disciplina, de me manter motivado. Ou seja, eu conseguir ter uma autonomia sobre os meus impulsos às reações que eu tenho vindas do ambiente e também minha capacidade de organizar meu comportamento para atingir aquilo que eu quero atingir.
Como isso se traduz no universo escolar? Você ter motivação para estudar, para interagir e ir para a escola; ter a capacidade de fazer as atividades que são programadas na escola…
Inclusive no cérebro em desenvolvimento isso tem um potencial muito importante para que esses alunos tenham o maior aproveitamento possível. Então o autocuidado ele anda de mãos dadas com a autogestão.

Marcelo Abud:
Sem o autocuidado, algumas pessoas até podem conseguir realizar as tarefas que precisam. No entanto, isso será alcançado com custos à saúde.

Henrique Akiba:
Justamente para lidar com esse estresse todo, o autocuidado é fundamental. O estresse pode ser um verdadeiro aliado, desde que você tenha mecanismos que a você regular ele também.
Então, o autocuidado para gerenciar questões emocionais, promover com que você esteja sempre na sua melhor versão; e a autogestão no sentido de se manter perseverante, focado, disciplinado e motivado dentro de tudo que tem que ser realizado são competências fundamentais, não apenas para passar por esse período de adaptação pós-vacina, mas para a vida como um todo.

Marcelo Abud:
O especialista dá dicas de como as competências socioemocionais podem ser aplicadas na prática.

Henrique Akiba:
Uma técnica que eu tenho visto cada vez mais a potência dela são práticas de respiração e relaxamento em contextos em que você precisa fazer a regulação emocional.
Um dos grandes desafios da escola, também, é construir um ambiente seguro emocionalmente, seguro psicologicamente para promover o melhor cenário, o melhor chão para que a aprendizagem ocorra. Tem-se observado bastante, né, o aumento de ansiedade, aumento de estresse, sentimento de luto, entre outras coisas, pensando em questão de saúde mental.

Música: “Cura” (Reynaldo Bessa), com Reynaldo Bessa, Caio Zan e Beatriz da Matta
Eu não vou dizer que não sofri
Mas o tempo este trem-bala
Leva, limpa, lava, sara

Henrique Akiba:
E uma técnica bastante útil para promover isso, tanto professores quando difícil de dar conta, quando estiver com problema de sono principalmente, é a técnica da respiração diafragmática. Existe uma série de referências que podem empregar essa técnica. Pessoal do Instituto de Psiquiatria da (Universidade) Federal do Rio de Janeiro criou uma cartilha chamada “Técnicas de respiração para controle de estresse e ansiedade”, material bem bacana. (Instituto) Ame Sua Mente, cheguei a produzir um material específico para estresse e ansiedade também. Isso é válido tanto para o professor como também para os alunos.
Vejo isso também nas salas de aula, quando vou aplicar prova… tem gente que fica travado, né, por ansiedade e tudo mais e dá o branco, eu mando os vídeos mesmo de como eles podem aplicar em casa, para apoiá-los neste sentido. E também tenho tido o relato de professores que começaram a aplicar isso com os alunos e tende a favorecer eles estarem mais preparados, mais calmos, mais centrados para a sala de aula, que promove aquele clima para que o aprendizado ocorra de maneira mais ampla. Isso é uma coisa que você pode fazer em qualquer lugar, a qualquer momento e é pouco tempo que vai tomar e tem um potencial imediato e muito relevante… tem toda uma base biológica de porque que isso acontece…

Música: “Alinhamento energético” (Letrux), com Fafá de Belém
Eu tô exausta, eu tô perdida
Já me disseram que só começou
Respira, aprende a respirar
Se tu só pira, mas não respira
Não vai dar

Marcelo Abud:
Desde 2020, as competências socioemocionais estão presentes em todas as 10 competências gerais da Base Nacional Comum Curricular, a BNCC. Henrique Akiba avalia como essas competências devem ser incorporadas ao currículo.

Henrique Akiba:
Na prática, a obrigatoriedade de você ter conteúdos relacionados ao desenvolvimento de competências socioemocionais no ambiente escolar, houve um verdadeiro boom de instituições promovendo formação e assim por diante na área de socioemocional, o que acaba gerando uma certa polissemia e difícil para estudar e se fazer a formação saber por onde começar, porque senão praticamente tudo vira socioemocional e é uma certa dificuldade que você tem no campo, de maneira geral.
Naturalmente para realizar o planejamento das aulas e, também, para o ano seguinte, o melhor cenário é quando você consegue congregar a maior parte da comunidade escolar, algo que não fique somente na sala de aula, mas que também se incorpore dentro do contexto da escola como um todo: planejamento de parcerias, planejamento de potenciais cronogramas e até existem vários programas baseados em evidências para conseguir realizar esse tipo de implementação.
Possivelmente não apenas o professor, mas o gestor escolar, dentro do que for possível para construir algo que englobe a escola como um todo também tem tido evidências de que é o melhor cenário.

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:
Na BNCC, as competências socioemocionais são apresentadas como fator de proteção à saúde mental e ao bullying, capazes de diminuir a agressividade e melhorar o aprendizado e a convivência entre os alunos.
Marcelo Abud para o podcast de educação do Instituto Claro.

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