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A adolescência é um momento em que se vivem múltiplas mudanças físicas, emocionais e sociais. Assim, um olhar mais atencioso para a saúde mental do adolescente tem ganhado espaço nas últimas décadas, sobretudo a partir de meados dos anos 2000, de acordo com a comunicadora prestes a se formar em psicologia Luka Salomão. “A grande artista que trouxe a palavra para a grande mídia foi a Britney Spears, né? Naquela fase ali dela, as pessoas falaram: ‘cara, que que essa mulher tem?’. Fato é que a Britney sofreu muito, foi constantemente vigiada, julgada, e o emocional dela entrou em colapso”, lembra.

Salomão utiliza a biografia conturbada de artistas, principalmente da música, para aproximar os cuidados com a saúde mental de adolescentes e jovens. Ela faz isso com a ajuda do psicólogo Mario Sergio Picorelli, no canal do Youtube “Cada Caso um Caos”.

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Outro conteúdo que aborda o assunto de forma leve e sem caretice é o “Esquizofrenoias”. O podcast é uma criação da jornalista Amanda Ramalho, que foi diagnosticada com ansiedade e depressão aos 16 anos de idade. “A gente pode evitar sofrimentos de pessoas que dão sinais muito cedo. Sim, a gente dá sinal. Às vezes as pessoas não entendem, mas a gente pede ajuda. Só filtrar e perceber e não pensar com a sua cabeça, tentar pensar com a cabeça do outro”, afirma, tendo a experiência pessoal como exemplo. Ramalho já sentia o coração disparar desde os 5 anos de idade e era levada pela mãe constantemente a cardiologistas.

Distanciamento Social

Nessa fase de transição para a vida adulta, a convivência e troca de ideias com pessoas da mesma faixa de idade costuma ser um artifício para lidar melhor com as próprias dificuldades, pois muitas das questões são parecidas para boa parte dos adolescentes. Com a pandemia, no entanto, outros caminhos têm sido encontrados. Entre eles, a busca por assuntos ligados à saúde mental na internet. “Eu acho que aumentou, porque as pessoas têm se importado mais, elas estão pensando mais nisso, então elas estão falando mais, elas estão comentando mais”, acredita Luka Salomão.

Amanda Ramalho ressalta que o estranho seria se as pessoas não estivessem se sentindo mal diante do contexto trazido pela pandemia. “Se você não sentir que o mundo está estranho, eu acho mais patológico do que você se sentir mal. Ainda se confunde muito a saúde mental com bem-estar. Então, pessoas que perderam o emprego, perdem a renda, – e teve gente que precisou voltar pra casa da mãe -, são coisas que a gente não estava preparada, né?”.

No áudio, as entrevistadas avaliam como esse momento tem impactado a saúde mental de adolescentes, citam as principais queixas divididas nos comentários encaminhados para os canais que elas mantêm, trazem dicas para lidar melhor com essa fase da vida e tratam da importância da atenção que deve ser dada pelos pais.

“Quando você enxerga o seu filho, quando você tem aquela escuta ativa, não é aquela história de ‘não chora’, ‘para de chorar’, ‘ah, não doeu, vai?’. Sabe assim… ‘por que que você está chorando?’, ‘o que que você está sentindo?’, ‘é mesmo? É isso?’, ouvir, deixá-lo falar, sentir aquilo. Como ele está querendo te passar alguma coisa, é ouvir. Isso é a melhor coisa que um pai pode fazer por um filho”, avalia.

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Depressão, angústia e pânico: entenda consequências da pandemia para a saúde mental

Transcrição do Áudio

Música: “The Bucket List”, de Quincas Moreira, fica de fundo

Amanda Ramalho:
As pessoas acham que se sentir mal por uma coisa tão terrível que está acontecendo já é algo patológico e muitas vezes não é. Porque, se você não sentir que o mundo está estranho, eu acho mais patológico do que você se sentir mal. Ainda se confunde muito a saúde mental com bem-estar. Então, pessoas que perderam o emprego, perdem a renda, e teve gente que precisou voltar pra casa da mãe, são coisas que a gente não estava preparada, né?
Oi, eu sou Amanda Ramalho, tenho um podcast sobre saúde mental, chamado “Esquizofrenoias”. E a gente fala de uma forma leve e natural sobre esse assunto que, infelizmente, ainda é tabu.

Luka Salomão:
Assim como qualquer pessoa vai no clínico geral cuidar do corpo, a gente precisa cuidar da nossa cabeça. Então, na hora que você consegue perceber que essas dores existem, elas estão na sua cabeça e o terapeuta pode te ajudar, sua vida vai ficar muito mais leve, mais tranquila. Então, acho que é de extrema importância desde jovem. Você vai ter uma vida adulta muito mais madura emocionalmente e você pode ser uma pessoa mais tranquila com você.
Olá, meu nome é Luka Salomão, locutora da rádio rock, também agora tô no Youtube, com “Cada Caso, um Caos”, com vários artistas do mundo da música.

Vinheta: Instituto Claro – Cidadania

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, de fundo

Marcelo Abud:
A adolescência é o momento de muitas mudanças físicas, emocionais e sociais. Para Luka, que, além de comunicadora, está no último ano de Psicologia, o interesse dessa faixa etária por saúde mental cresceu a partir de meados dos anos 2000.

Luka Salomão:
A grande artista que trouxe a palavra para a grande mídia foi a Britney Spears, né? Naquela fase ali dela, as pessoas falaram: ‘cara, que que essa mulher tem?’

Marcelo Abud:
Um dos episódios do canal de Luka Salomão no Youtube é justamente sobre a artista.

Luka Salomão:
Fato é que a Britney sofreu muito, foi constantemente vigiada, julgada, e o emocional dela entrou em colapso. Amigos próximos disseram que a Britney é uma menina adorável, mas altamente vampirizável, muito fácil de ser sugada… abriu uma discussão mundial como nunca foi feito antes no mundo do pop sobre saúde mental, mas assim, o mundo do pop falava sobre surto psicótico, bipolaridade e vários temas ligados à psicologia. Foi assim extremamente buscados assim, esses temas todos. E muita gente que não tinha nem ouvido falar em terapia, começou a se interessar por uma “funilaria mental”, por causa do tanto de coisas que aconteceram com ela.

Marcelo Abud:
Na música “Lucky”, lançada em agosto de 2000, a cantora americana parecia antever os episódios que iria viver. A letra fala de uma estrela pop, aparentemente “sortuda” por ter fama, riqueza e beleza, mas que no íntimo se sente solitária.

Música: Lucky (Alexander Kronlund / Max Martin / Rami), com Britney Spears
She’s so lucky, she’s a star
But she cry, cry, cries
In her lonely heart, thinking
Tradução:
Ela tem tanta sorte, ela é uma estrela
Mas ela chora, chora, chora
No seu coração solitário, pensando

Marcelo Abud:
Com a pandemia, a procura por conteúdos ligados à saúde mental tem aumentado.

Luka Salomão:
Porque as pessoas têm se importado mais, elas estão pensando mais nisso, então elas estão falando mais, elas estão comentando mais.

Amanda Ramalho:
Muitas pessoas, né, não todas – infelizmente nem todo mundo tem as mesmas oportunidades -, mas as pessoas elas têm entrado mais em contato com elas mesmas. Muita gente só vinha pra casa pra dormir, né? Agora você mora na sua casa, você tem mais contato com seus pensamentos e etc. Ás vezes, eu acho que a pessoa já se sentia meio assim, só que ela não tinha, entre aspas, tempo pra pensar nisso.

Marcelo Abud:
Luka comenta os assuntos mais recorrentes entre as mensagens que recebe do público e que costumam afligir adolescentes.

Luka Salomão:
O que a gente vê mais de reclamação mesmo é a depressão e a ansiedade, por baixo disso tem aquela cama, né? O TOC, transtornos afetivos, compulsão alimentar também – bastante -, aí tem a pessoa que gasta muito online, a história do desânimo, de tristeza, baixa autoestima, tem a pessoa que fica também muito angustiada, né, de ver também – dependendo de como a pessoa recebe a informação – esse número de mortes, e aí começa a achar que isso pode acontecer muito com ela.

Marcelo Abud:
O podcast de Amanda já está há 4 anos no ar. Um dos objetivos da comunicadora é compartilhar a própria vivência e alguns aprendizados a respeito da saúde mental.

Amanda Ramalho:
O relato da depressão e da ansiedade eles podem parecer muito semelhantes. As palavras que você escolhe… não tem um exame que você vai ver assim, qual a área do seu cérebro que está lá mais vermelha ou mais verde, é o que você fala e como você fala. O que eu sempre digo pras pessoas, principalmente para os jovens, é que, assim, o meu tratamento começou a ficar muito melhor quando eu comecei a ser muito mais honesta com meu psiquiatra e com meu terapeuta. Às vezes, a gente mente porque a gente tem preguiça, mas quando eu fui realmente honesta, falei de como eu dormia, como eu me sentia, o tratamento começou a ser muito mais efetivo. Sendo honesto com você, você consegue levar uma vida normal, assim, mesmo que não exista a palavra normal.

Música: “Maluco Beleza” (Claudio Roberto e Raul Seixas), com Raul Seixas
Enquanto você
Se esforça pra ser
Um sujeito normal
E fazer tudo igual
Eu do meu lado
Aprendendo a ser louco
Um maluco total
Na loucura real

Marcelo Abud:
Luka fala sobre a atenção que os adultos devem dar aos sinais emitidos pelos adolescentes e jovens. Neste momento, vamos ouvir a presença do pequeno Nuno, que estava brincando com o pai Danilo Carpiginai durante a entrevista.

Luka Salomão:
Infelizmente os artistas do “Cada Caso um Caos” que tiveram um final não feliz foram aqueles que foram abandonados, que não tiveram a atenção dos pais. Então, quando você enxerga o seu filho, quando você tem aquela escuta ativa (ouvem-se gritos de Nuno brincando), não é aquela história de ‘não chora’, ‘para de chorar’, ‘ah, não doeu, vai?’. Sabe assim, ‘por que que você está chorando?’, ‘o que que você está sentindo?’, ‘é mesmo? É isso?’, assim, ouvir, deixar ele falar, sentir aquilo, como ele está querendo te passar alguma coisa, é ouvir. Isso é a melhor coisa que um pai pode fazer por um filho. É realmente se importar com aquilo que ele está passando. Por mais que aquilo pareça uma idiotice, uma bobagem. Então, acho que isso é o principal. Se é um adolescente e você já está vendo que é um adolescente mais agressivo, que você não consegue controlar, aí sim é extremamente importante colocar numa terapia, num tratamento, que isso sim que vai fazer uma grande diferença, não deixa pra depois nem pra amanhã. No começo vai ser um saco, ele vai detestar, mas deixa que vai fazer a diferença e ele vai gostar depois.

Amanda Ramalho:
Mas é isso, tentar escutar com a vivência do outro, porque eu tenho a minha história. Se você contar a sua história e eu filtrar com a minha perspectiva, eu posso achar tudo isso bobagem ou achar que você não estava dando valor para o que você tem etc. Mas cada pessoa é uma pessoa e cada pessoa tem uma história, tem muito a ver com a construção. Tem até um meme que fala ‘ninguém o que a Demi Lovato passou’. E é bem isso. Ela tem transtorno alimentar, tem problema com droga e ela teve uma infância difícil. Tudo isso é uma construção.

Música: “Sober” (Demi Lovato / Mark Landon / RØMANS / Tushar Apte), com Demi Lovato

Wake me when the shakes are gone
And the cold sweats disappear
Call me when it’s over
And myself has reappeared
Tradução:

Me acorde quando os tremores sumirem
E o suor frio desaparecer
Me ligue quando acabar
E eu mesma reaparecer

Amanda Ramalho:
A gente pode sim evitar sofrimentos de pessoas que dão sinais sim muito cedo. Sim, a gente dá sinal. Às vezes as pessoas não entendem, mas a gente pede ajuda. Só filtrar e perceber e não pensar com a sua cabeça, tentar pensar com a cabeça do outro.

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, de fundo

Marcelo Abud:
Se a adolescência já demanda uma muita conversa, com a pandemia e menor interação com pessoas da mesma faixa de idade, a atenção de familiares é ainda mais importante.
Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

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