Montagem do Núcleo de Teatro Científico com alunos do ensino fundamental,
no Rio de Janeiro (Crédito: divulgação)

Autor de uma dissertação de mestrado sobre o ensino de ciências por meio do teatro, o professor de física Márcio Nasser Medina decidiu, em 2007, trocar as fórmulas em sala de aula pela montagem da peça “A Vida de Galileu”, de Bertolt Brecht. Nascia, assim, o Núcleo de Teatro Científico (Nutec), companhia do Rio de Janeiro (RJ) que usa das montagens cênicas com estudantes para discutir a ciência.
“A prática teatral alia várias competências exigidas pelo Parâmetro Curricular Nacional (PCN), além de quebrar as barreiras entre as disciplinas. O estudante começa a perceber a ciência com suas idiossincrasias, as questões sociais e políticas. O teatro ainda humaniza o cientista e a física, e mostra a ciência como uma eterna construção humana”, defende Medina, atualmente professor do Colégio Pedro II. Confira abaixo a entrevista completa com o docente.
NET Educação – Quais habilidades e competências podem ser desenvolvidas por meio da aproximação entre teatro e educação?
Márcio Nasser Medina – A prática teatral é alicerçada nos quatro pilares da educação do século XXI: aprender a ser, a conhecer, a fazer e a conviver. Além disso, permite ao aluno reconhecer o sentido histórico da ciência e da tecnologia, percebendo seu papel na vida humana em diferentes épocas e na capacidade humana de transformar o meio.
NET Educação – No caso específico do ensino de ciências e da física, quais as vantagens de utilizar o teatro aliado às aulas?
Medina – No Brasil, há tempos, pensava-se que ensinar ciências é ensinar fórmulas e modelos que estão previamente aceitos e resolver listas infindáveis de exercícios de aplicação dessas fórmulas. De duas décadas para cá, um movimento mundial de transformação do ensino de física vem se estabelecendo e traz questões sobre a natureza, a filosofia, a sociologia e a história da ciência permitirem uma melhor compreensão sobre o que é essa área do conhecimento e suas relações com a sociedade, além das suas influências no desenvolvimento tecnológico e científico.
A peça “Frankenstein”, interpretada pelos alunos para
aprender ciências (Crédito: divulgação)
NET Educação – Como foi a sua primeira experiência utilizando o teatro?
Medina – Eu dava uma aula de gravitação, em 2007, e estava infeliz por seguir o livro didático. A matéria era muito linda para ser tratada apenas por esquemas e fórmulas. Foi então que eu abandonei o livro e propus como avaliação um seminário onde eles apresentariam as revoluções ocorridas no século XVII tendo como “âncora” o personagem Galileu Galilei. Eu sabia da existência do texto do Bertolt Brecht, e propus aos alunos fazerem essa peça. E eles toparam.
NET Educação – Qual foi o resultado?
Medina – Os conteúdos já vinham sendo ensinados em sala de aula, mas ganharam mais significado conforme eram reconhecidos nos diálogos e rediscutidos nos intervalos entre a aula e os ensaios. Naquele ano, apresentamos a peça montada em um nível que considero profissional no Teatro Municipal Café Pequeno e no Teatro Solar, de Botafogo [bairro carioca]. Em 2009, reapresentamos no Centro Cultural Correios, também no Rio de Janeiro.
NET Educação – De 2007 para cá foram cinco montagens do Nutec, entre adaptações e textos inéditos. Em que vocês trabalham atualmente?
Medina – Atualmente, escrevemos as peças “Einstein – um homem no espaço e no tempo” e “E fez-se a Luz!”, que fala sobre a história da luz na ciência desde o árabe Ibn Al Haizen, em 1015, até as fibras ópticas de hoje. Apresentaremos em colégios e em espaços de divulgação científica, como o Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast).
NET Educação – Quais foram as conclusões da sua dissertação sobre o tema?
Medina – O teatro permitiu uma maior aproximação entre as ciências exatas e as ciências humanas. A física, a química e a biologia ficaram mais humanizadas. Aos alunos ficou a percepção que a ciência não é feita apenas de fórmulas e experimentos precisos, mas sim de conflitos (de poder, de gênero, de interesses), de controvérsias e erros e acertos. Uma construção humana integrada à história e à sociedade, e não isolada do mundo.
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