Devido à falta de recursos humanos e materiais, é comum o coordenador pedagógico assumir demandas da escola que não são de sua responsabilidade. Para a docente do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação da PUC-SP, Laurinda Ramalho de Almeida (PUC-SP), o fortalecimento do trabalho em equipe é uma saída para evitar que o profissional se sobrecarregue. “Quanto mais ele conseguir articular todos os integrantes – gestores, professores e funcionários – mais facilitado fica seu trabalho”, defende. Confira a entrevista completa com a pesquisadora a seguir.

Instituto Claro: Quais as funções do coordenador pedagógico (CP)?

Laurinda Ramalho de Almeida – São três: articulador, formador e transformador. Articulador com o objetivo de incentivar, gerenciar o trabalho coletivo e o projeto pedagógico da escola. Formador para potencializar os recursos dos profissionais que atuam na escola. Transformador com o objetivo de problematizar com os professores.

Que atividades lhe cabem?

Laurinda – Uma pesquisa que Vera Placco [PUC-SP], Vera Trevisan [PUC-Campinas] e eu coordenamos, em 2010 e 2011, sobre o CP e a formação continuada evidenciou que nas cinco regiões do Brasil há legislação que estabelece atribuições ao CP. São muitas, como diagnóstico da situação de ensino e aprendizagem, supervisão e organização das ações pedagógicas cotidianas, organização dos conselhos de classe e das avaliações feitas pelos sistemas de ensino, formação continuada de professores, assessoria à direção, atendimento a alunos e pais, além de atividades burocráticas e administrativas.

Quais funções não seriam de responsabilidade do coordenador pedagógico?

Laurinda – Na pesquisa, apareceram: acompanhamento de alunos na entrada e saída da escola, supervisão de intervalos e atendimento a alunos com problemas indisciplinares ou de saúde.

Quais os maiores desafios do CP hoje?

Laurinda – São muitos, mas o fundamental é o fortalecimento do trabalho em equipe. Isso pode ajudá-lo a não ficar sobrecarregado. Quanto mais ele conseguir articular todos os integrantes – gestores, professores e funcionários – mais facilitado fica seu trabalho. Contudo, não é fácil constituir um grupo, principalmente na escola pública, devido à rotatividade de professores. E também porque a coesão de um grupo não se consegue em um passe de mágica. Trocar experiências, problematizar questões sem ferir suscetibilidades, valorizar a trajetória profissional sua e dos demais, resulta de aprendizagens que o CP precisa desenvolver.

Como deve ser a relação com os professores e gestores?

Laurinda – De parceria. Com o professor, ajudando-o a enfrentar situações desafiadoras do cotidiano, acreditando em seu potencial de crescimento, valorizando suas experiências, problematizando-as e oferecendo respaldo teórico para que possa refletir sobre elas. Com o diretor, dialogando sobre os problemas da escola, ajudando-o nas decisões sobre escola, professores, pais e comunidade.

Como geralmente se dá o processo de nomeação do CP?

Laurinda – Depende da região. Pode ser como função ou cargo. Na rede privada, via de regra, é por escolha do diretor ou pelo conselho de escola. Nos três casos, o bom funcionamento depende de como as relações de trabalho se processam, e aqui entram fortemente as relações interpessoais. Mas um fato tem se comprovado: quando o CP é cargo e não função, ele é mais valorizado e tem maior autonomia, porque não fica refém de quem o escolheu. Segundo a pesquisa, o modelo de carreira adotado não influencia no grau de satisfação em relação ao seu trabalho.

Como deve ser a formação do CP?

Laurinda – A formação atual é inadequada, o que é um entrave para um bom trabalho. Há especificidades das funções de coordenação que deveriam ser trabalhadas. A formação deveria oferecer estudos teóricos que levariam o CP a refletir sobre concepções educacionais, habilidades relacionais, estratégias de formação, constituição e gestão de grupos e teorias de desenvolvimento.

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